Ester Fraga
Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*
Na investigação histórica que resultou no livro A Escola
Americana: origens da Educação Protestante em Sergipe – 1886-1913, propus
rastrear a primeira escola presbiteriana secundária organizada no Nordeste,
quase ausente na documentação oficial do Estado e na historiografia educacional.
A documentação confessional localizada inicialmente
registrava a presença de missionários presbiterianos norte-americanos, mas nada
falava a respeito de algum trabalho educacional desenvolvido em Sergipe. No
entanto, existiam vestígios que apontavam para sua existência, a exemplo do túmulo
da filha do missionário e educador presbiteriano Woodward Edmund Finley, que eu
localizei no Cemitério Protestante de Lavandeiras.
Autores sergipanos quando trataram especificamente da
educação em Sergipe sequer fizeram referência à presença de instituições
educacionais protestantes no Estado, com exceção do Padre Philadelpho Jônatas
de Oliveira em seus livros História de Laranjeiras (1981) e Registros
de Fatos Históricos de Laranjeiras (1942), levando-me a inferir que ele
retirara aquelas informações dos Livros de Tombo da Paróquia Sagrado Coração de
Jesus, de Laranjeiras.
Na garimpagem das informações que pudessem subsidiar minha
pesquisa, recorri a fontes de origens diversas. Foram muitas as idas a
Laranjeiras, local de origem, à procura de documentação referente à Escola
Americana. Tive acesso ao arquivo da Primeira Igreja Protestante de Sergipe, ao
Arquivo Municipal de Laranjeiras, a arquivos particulares, além de pesquisar no
Cartório de Registro de Imóveis — 1º Ofício — da Comarca de Laranjeiras e na
Casa de Cultura João Ribeiro. Visitei as ruínas das duas casas onde funcionaram
a Igreja e a escola, como também do cemitério e da Igreja de Lavandeiras,
fotografando-os na ocasião.
Em Aracaju, consultei os acervos do Arquivo do Poder
Judiciário, do Arquivo da Escola Normal, do Arquivo Público do Estado de
Sergipe, da Biblioteca Pública Epifânio Dória, da Biblioteca da Loja Maçônica
Clodomir Silva, do PESQUISE – Pesquisas de Sergipe, da Academia Sergipana de
Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Pela inexistência de uma historiografia protestante em
Sergipe, recorri aos registros sobre aquela instituição a partir de fontes
produzidas pela Igreja Católica. Dentre outros temas, os jornais da
época publicaram bastante os embates travados entre os convertidos à nova fé e
os católicos, mas quase não registraram a presença da Escola Americana.
Uma vez que aquelas fontes se revelaram insuficientes, fui
levada a buscar maiores informações em outros Estados que me facultassem compreender
mais a história daquela escola. Em agosto de 1998, fui a Salvador pesquisar no
arquivo da Igreja Presbiteriana do Brasil, na biblioteca do Colégio
Presbiteriano Dois de Julho e na Faculdade de Educação da Universidade Federal
da Bahia.
Em Vitória, James Wright, missionário presbiteriano
norte-americano, concedeu-me entrevista sobre o processo histórico de
implantação daquela denominação no Brasil, cedendo-me parte dos documentos do
seu arquivo particular. Ele foi a pessoa que possibilitou o desencadeamento do
estudo. Faleceu dois meses depois que o conheci.
Nas viagens que fiz a São Paulo, pesquisei no Arquivo
Histórico Presbiteriano, na Fundação José Manoel da Conceição, nas bibliotecas
da UMESP, da UNIMEP e da Universidade Mackenzie, além das conversas que tive com
o Dr. Alderi Souza de Matos, o Reverendo Eliezer Bernardes e o Dr. Hermistein Maia
Pereira da Costa, que em momentos ímpares, na companhia do Dr. Boanerges
Ribeiro, tomamos várias xícaras de café expresso enquanto discutíamos o tema.
As dificuldades
encontradas no percurso daquela investigação me mostraram que não se aprende o
ofício de pesquisador utilizando-se somente regras já estabelecidas, mas também
pondo em ação elementos de um tipo de conhecimento como o faro, o golpe de
vista, a intuição, os quais, para Ginzburg, são “sinônimos de processos
racionais” ou “formas de discernimento e sagacidade” (Ginzburg, 1989,
p. 179).
Sabendo que o
documento é o resultado da construção de uma realidade feita por homens, é
necessário procurar com uma lupa os rastros, traços, pequenas impressões que
escapam do seu controle, os quais são “marcas digitais ou sulcos de formão
que podem ser detectados por um perito”, que possibilitam compreender
melhor conformações/representações culturais de determinada sociedade (Eco e
Sebeok, 1991, p. 44).
O pesquisador,
como um investigador, necessita inquirir, indagar, observar, treinar os olhos,
a memória e a imaginação para seguir pistas, indícios, sinais – zonas
privilegiadas de uma realidade opaca que permitirão decifrá-la.
A Profa Dra Esther Nascimento nos presenteia com uma investigacao que vai alem do proposito inicial e traz elementos com uma sinergia coletiva e nos conduz a caminhos em busca de novas nuances .
ResponderExcluirPerfeita a sua trajetoria e somos gratos pela forma em que a mesma compartilha os saberes ..bjs
Muito obrigada, Profa. Rubia Lapa! Estamos juntas neste maravilhoso caminho da produção do conhecimento!
ResponderExcluirParabéns Dra Ester Villas Boas do Nascimento.
ResponderExcluirMuito obrigada, Pr. Davi dos Santos!
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