Antônio Carlos Sobral Sousa*
As doenças cardiovasculares ateroscleróticas
(coronariana, cerebrovascular e arterial periférica) constituem as principais
causas de morte do mundo moderno, merecendo destaque o infarto do miocárdio e o
AVC (derrame). Além do controle dos fatores de risco (colesterol elevado,
diabetes, tabagismo, hipertensão arterial, obesidade, sedentarismo e estresse
emocional) a aspirina tem sido largamente utilizada com o intuito de prevenir o
desenvolvimento dessas doenças.
Descoberto na Alemanha, por volta de 1853, o ácido
acetilsalicílico (AAS ou aspirina) por suas propriedades anti-inflamatória e
antitrombótica, logo se transformou em uma das drogas amplamente utilizadas, na
história farmacêutica. Com o entendimento, por parte da comunidade médica, do
papel das plaquetas na formação do trombo que vai obstruir a artéria
(coronária, por exemplo) ficou claro que a Aspirina era altamente eficaz na
prevenção secundária de eventos cardiovasculares.
Ou seja, se beneficiam com o uso de Aspirina aqueles
que já sofreram infarto ou derrame, aqueles que têm doença coronariana crônica,
arterial periférica ou carotídea, ou aqueles que se submeteram a procedimentos
de revascularização (stent, pontes de
safena ou de mamária em coronária ou em artérias periféricas) com base em
estudos clínicos robustos.
Já a sua utilização na prevenção primária, ou seja,
para evitar que as pessoas desenvolvam doenças cardiovasculares, o seu uso,
apesar de disseminado, é controverso. Vale ressaltar que nenhuma droga é isenta
de risco e, no caso da aspirina, o mais temido é o sangramento, especialmente o
sangramento do trato gastrointestinal, que pode levar a consequências sérias,
mesmo quando usada em baixas doses.
Estudos recentes mostraram que a relação
benefício/risco do uso de Aspirina, na prevenção primária, é desfavorável para
a sua utilização corriqueira, sobretudo em indivíduos com menos de 40 anos ou
com mais de 70 anos de idade ou com alto risco de sangramento. Todavia, podem
lograr algum benefício aqueles com idade entre 40 anos e 70 anos, com baixo
risco de sangramento e risco cardiovascular elevado, geralmente com múltiplos
fatores de risco cardiovascular.
Portanto, a maioria dos adultos saudáveis não
precisa usar aspirina. Antes de iniciar o uso de aspirina, consulte o seu
médico quanto a sua real utilidade. Por outro lado, adote medidas que irão
melhorar a saúde do seu coração e darão mais vida a sua vida: adote uma dieta
saudável, pratique exercícios físicos regulares, não fume, controle o
colesterol alto, controle a hipertensão arterial e controle o diabetes.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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