Claudefranklin Monteiro dos Santos*
Quando
o assunto é poesia em Lagarto-SE, certamente a principal referência é o jornalista
Abelardo Romero Dantas (1907-1979). Autor de diversos trabalhos em prosa, tais
como: Sílvio Romero em Família (1960), Origens da Imoralidade no Brasil (1967),
Chatô, a verdade como anedota (1969), Heróis de Batina (1973) e Limites
Democráticos do Brasil (1975, publicado postumamente em 2009). Na poesia,
Abelardo se notabilizou tanto quanto na prosa e isso lhe rendeu inúmeros
trabalhos, dos quais destaco Visita ao Rio (1978).
Na
década seguinte ao seu falecimento, suas sementes lançadas em solo até então exclusivo
de Sílvio Romero e de Laudelino Freire, apontaram frondosas com novos frutos do
talento lagartense. Os anos 80 foram importantes para a renovação da cena
cultural de Lagarto, trazendo a lume nomes como o poeta Assuero Cardoso
Barbosa, sem sombra de dúvidas, hoje e para a imortalidade, à altura de
Abelardo Romero Dantas.
“Antes
eu fazia poemas, guardava ou eram expostos nas amostras culturais da Escola de
Primeiro Grau Sílvio Romero, onde estudei da sexta à oitava série”. Nos relatou
o poeta, nascido no dia 13 de setembro de 1965, filho de Ataíde Cardoso Barbosa
e Higino Barbosa do Espírito Santo.
O
ano de 1984 foi um marco em sua vida, graças ao II Concurso de Poesia Falada de
Lagarto, realizado no Auditório do Colégio Nossa Senhora da Piedade (Colégio
das Freiras). À época, o evento era promovido pela Secretaria Municipal de Educação
e Cultura (com Paulo Andrade Prata na condição de secretário) em parceria com Secretaria
de Estado da Cultura. As atividades culturais do município eram capitaneadas
pelo artista floral Aristides Libório, na função de Agente Cultural.
Assuero
Cardoso Barbosa viu que ali era uma grande oportunidade de mostrar seu trabalho
para além da esfera estudantil. Ele escreveu o poema NÃO ACEITAMOS DÉBEIS
MENTAIS, que compôs em memória ao amigo Jerônimo Almeida, estudante, seu amigo,
que havia cometido suicídio, deixando a todos chocados. Segundo Assuero: “ele era
conhecido na época pelo potencial intelectual”.
No
II Concurso de Poesia Falada de Lagarto, Assuero ficou em terceiro lugar. Na terceira
edição do concurso, no ano seguinte, ele levou os prêmios de primeiro e
terceiro lugares, além de melhor intérprete: “o evento foi de total importância
para que eu seguisse acreditando no que poderia contribuir como pessoa e
cidadão lagartense”.
A
Associação Cultural de Lagarto (ASCLA), fundada em 1970, conseguiu editar um
livreto reunindo os poemas. A seleção dos dez classificados era feita por uma
equipe de intelectuais e poetas de Aracaju que enviavam os selecionados para a
prefeitura daqui. Apesar do rigor, houve plágios de alguns poemas, segundo
Assuero: “Talvez por insegurança de alguns concorrentes”.
Poemas
classificados no II Concurso de Poesia Falada de Lagarto, em 1984: 1) Glória na
Terra e Alceu no Céu (Lísia Conceição Ferreira); 2) Oposição Direta (Noeme
Dias); 3) Não Aceitamos Débeis Mentais (Assuero Cardoso Barbosa); 4) Depois de
Você (José Élio de Souza); 5) Convite (Noeme Dias); 6) Medo (Maria do Carmo de
Jesus); 7) Sem você (George Monastiliki); 8) Atos das Seca (Noeme Dias); 9)
Cara Amarrada (Maria do Carmo de Jesus); 10) Vida e Morte (Leustênisson
Mesquita).
Dessa
plêiade de novos talentos, que nos apresentou Assuero Cardoso Barbosa para o
mundo, destaco a acadêmica Noeme da Silva Dias, da Academia Lagartense de Letras,
a primeira grande referência feminina da poesia lagartense.
Passados
36 anos, Assuero Cardoso Barbosa se firmou em definitivo entre os grandes da
cultura lagartense e sergipana. Notável e premiado poeta, ele é membro fundador
da Academia Lagartense de Letras, ocupante da cadeira de número 2, cujo patrono
é o jurista e filólogo Laudelino Freire de Oliveira. É autor de vários livros,
com premiações em nível local e nacional. Licenciado em Letras – Português,
pela Universidade Federal de Sergipe, também é membro correspondente da
Academia Cachoeirense de Letras (ES).
NÃO ACEITAMOS DÉBEIS
MENTAIS
Não aceitamos débeis
mentais!
Ouvi falar assim certos
"sociais".
Percebi neste momento o
quanto
Meu esforço foi em vão.
Eu, Jerônimo Almeida,
Simples sonhador e ser
humano
Apagaram minha ilusão
Destruíram meu sonho.
Não aceitamos débeis
mentais!
Estas palavras insistiram
Atormentaram meu
pensamento
Não me deram chance
de poder mostrar meu
talento
De poder mostrar muito
mais
Fui vítima injustamente
Desse mundo de podres
animais.
Foi como se tivessem
roubado
Meu desejo de vida
Fizeram-me sentir inútil
e pequeno.
Optei pela morte, tomei
veneno.
Perdoe-me DEUS! Viver
aqui? Jamais!
Eu vou para o céu
Pois aí tenho certeza
Que o senhor aceita
débeis mentais!
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