Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Estamos
com quase três anos de pandemia e o Brasil é um dos países que mais
apresentaram perdas fatais em consequência do nefasto vírus. E ainda, parcela
significativa daqueles acometidos pela doença, continuam apresentando, a longo
prazo, complicações neurológicas, cardiopulmonares, psíquicas e outras
condições incapacitantes.
O
protagonista dessa peste continua evoluindo com variantes que, em parte, podem
escapar da importante proteção imunológica promovida pelas vacinas, causando
recrudescimento do número de casos e, consequentemente, de mortes.
O uso de máscara tem se constituído em importante medida protetora
durante a pandemia, porque retém percentagem significativa de partículas
infecciosas exalada por uma pessoa doente, diminuindo a propagação viral. Vale
ressaltar que existe distinção entre o uso universal e individual de máscara.
Quando todos utilizam a referida proteção, verifica-se redução
significativa da quantidade de vírus exalado em áreas compartilhadas, tornando
mais seguros os espaços internos. Já o uso individual da máscara, protege
apenas o seu usuário, tendo, portanto, pouco efeito na transmissão em nível
populacional da doença.
Passada a terceira onda da Covid-19, protagonizada pela variante
Ômicron, começaram a vigorar em todo país, as medidas de flexibilização tanto
para o uso de máscaras, como para o distanciamento físico, e o clima de festas
foi tomando conta da população. O aumento expressivo do número de casos
registrados nas últimas semanas, chancelado pela subvariante BQ.1, forçou a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a determinar a
obrigatoriedade do uso de máscaras em aeroportos e no interior de aviões.
Porém, como vem acontecendo desde o início da pandemia, tal medida sempre
provoca reações por parte daqueles negacionistas que insistem em desrespeitar o
SARS-Cov-2.
Para respaldar a importância da proteção em ambientes fechados,
foi recém-publicado, no N Engl J Med (DOI: 10.1056/NEJMoa2211029), que avaliou
o efeito do uso universal de máscaras em alunos de escolas públicas do Estado
de Massachusetts, EUA. Em fevereiro do corrente ano, seguindo recomendações dos
órgãos regulatórios, as escolas do referido estado suspenderam a
obrigatoriedade do uso do protetor facial, exceto dois distritos escolares
localizados na capital, Boston, que sustentaram o requerimento do uso de
máscaras até o mês de junho.
Os autores observaram que os estabelecimentos de ensino que
relaxaram a obrigatoriedade do uso universal de máscaras, registraram, durante
as 15 semanas de investigação, um incremento de 44,9 casos de Covid-19 para
cada 1.000 estudantes e funcionários das referidas escolas, comparativamente às
que mantiveram a medida protetora. Essas importantes observações reforçam a
importância do uso universal de máscaras em ambientes fechados.
A política de mascaramento universal pode
adicionar um pequeno custo para toda a sociedade, mas pode aliviar os maiores
fardos da virose para as populações que são naturalmente mais vulneráveis por
racismo estrutural e outras desigualdades. Finalizo, citando frase de autor
desconhecido: “Cuidado! O inimigo pode estar ao seu lado”.
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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