Antônio Carlos Sobral Sousa*
Tanto no Brasil, como mundo à fora, os profissionais de saúde e os
pacientes têm enfrentado uma pandemia e uma infodemia – a primeira causada pelo
impiedoso SARS-Cov-2 e suas temíveis
variantes e a segunda pela desinformação das desagradáveis fake news que inundam, diuturnamente, as mídias sociais.
Seguramente, milhares de pessoas foram expostas a extenso material
enganoso, publicado no “WhatsApp Journal
of Medicine”, alegando que a Covid-19 é uma farsa ou
que os especialistas estão exagerando sobre a sua
real gravidade e a extensão e velocidade de propagação das variantes do novo
coronavírus, que as máscaras são ineficazes e, mais recentemente, que as
vacinas causam doença, alteram o DNA do receptor ou veiculam
dispositivos de rastreamento. Portanto, acreditar em tais afirmações está
associado a uma menor chance de envolvimento em programas preventivos e de
vacinação.
Vale
ressaltar que, apesar de o risco de alastramento da variante Delta, avaliado
pelo parâmetro epidemiológico, R0 seja de seis (uma pessoa infectada pelo vírus,
transmite a doença para outras seis), o ZAP0 (analogia que o autor faz
ao popular aplicativo de telefonia celular)
é incalculavelmente superior, já que as fakes
podem ser transmitidas, em segundos, para grupos compostos por números ilimitados
de participantes.
Com o intuito de otimizar o enfrentamento
da infodemia, foi publicado, recentemente, no prestigiado periódico médico, New England Journal of Medicine (doi:
10.1056/NEJMp2103798) uma inovadora proposta de aplicação do modelo
epidemiológico, para combater a desinformação, baseado em três elementos: vigilância
em tempo real, diagnóstico preciso do problema e resposta rápida.
Segundo os autores, para que a cascata de uma desinformação seja
detida, um sensível sistema de vigilância deve ser acionado antes que o ponto
de inflexão da curva atinja proporções virais. O passo seguinte é a
identificação precisa do tipo de fake, realizada por um centro especializado
como o Serviço de Inteligência Epidemiológica do CDC (órgão regulatório
americano, equivalente à nossa ANVISA).
Dependendo do contexto do problema, os infodemiologistas podem
utilizar dados oriundos de fontes confiáveis ou links de órgãos regulatórios ou
de Universidades que tenham expertise no assunto. As respostas devem ser
rápidas, concisas, em linguagem coloquial, repassadas com empatia, mediante as
mídias sociais, entrevistas etc. Infelizmente, ainda não dispomos, em nosso
meio, de tal centro de apoio.
Segundo um provérbio chinês, há
três coisas na vida que jamais voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Nesta mesma toada,
um ZAP maldoso, intempestivamente lançado, dificilmente passará despercebido,
mesmo que se tente corrigir o erro. Portanto, antes de repassar uma informação, cheque a credibilidade
de sua origem e pondere a sua utilidade. Na dúvida, para evitar a contaminação
de outros celulares, use uma vacina eficaz e em dose única: DELETE!
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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