domingo, 19 de setembro de 2021

ENTRE A FRIGIDEIRA E O FOGO


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Tanto no Brasil, como mundo à fora, os profissionais de saúde e os pacientes têm enfrentado uma pandemia e uma infodemia – a primeira causada pelo impiedoso SARS-Cov-2 e suas temíveis variantes e a segunda pela desinformação das desagradáveis fake news que inundam, diuturnamente, as mídias sociais.

Seguramente, milhares de pessoas foram expostas a extenso material enganoso, publicado no “WhatsApp Journal of Medicine, alegando que a Covid-19 é uma farsa ou que os especialistas estão exagerando sobre a sua real gravidade e a extensão e velocidade de propagação das variantes do novo coronavírus, que as máscaras são ineficazes e, mais recentemente, que as vacinas causam doença, alteram o DNA do receptor ou veiculam dispositivos de rastreamento. Portanto, acreditar em tais afirmações está associado a uma menor chance de envolvimento em programas preventivos e de vacinação.

Vale ressaltar que, apesar de o risco de alastramento da variante Delta, avaliado pelo parâmetro epidemiológico, R0 seja de seis (uma pessoa infectada pelo vírus, transmite a doença para outras seis), o ZAP0 (analogia que o autor faz ao popular aplicativo de telefonia celular) é incalculavelmente superior, já que as fakes podem ser transmitidas, em segundos, para grupos compostos por números ilimitados de participantes.

Com o intuito de otimizar o enfrentamento da infodemia, foi publicado, recentemente, no prestigiado periódico médico, New England Journal of Medicine (doi: 10.1056/NEJMp2103798) uma inovadora proposta de aplicação do modelo epidemiológico, para combater a desinformação, baseado em três elementos: vigilância em tempo real, diagnóstico preciso do problema e resposta rápida.

Segundo os autores, para que a cascata de uma desinformação seja detida, um sensível sistema de vigilância deve ser acionado antes que o ponto de inflexão da curva atinja proporções virais. O passo seguinte é a identificação precisa do tipo de fake, realizada por um centro especializado como o Serviço de Inteligência Epidemiológica do CDC (órgão regulatório americano, equivalente à nossa ANVISA).

Dependendo do contexto do problema, os infodemiologistas podem utilizar dados oriundos de fontes confiáveis ou links de órgãos regulatórios ou de Universidades que tenham expertise no assunto. As respostas devem ser rápidas, concisas, em linguagem coloquial, repassadas com empatia, mediante as mídias sociais, entrevistas etc. Infelizmente, ainda não dispomos, em nosso meio, de tal centro de apoio.

Segundo um provérbio chinês, há três coisas na vida que jamais voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Nesta mesma toada, um ZAP maldoso, intempestivamente lançado, dificilmente passará despercebido, mesmo que se tente corrigir o erro. Portanto, antes de repassar uma informação, cheque a credibilidade de sua origem e pondere a sua utilidade. Na dúvida, para evitar a contaminação de outros celulares, use uma vacina eficaz e em dose única: DELETE!

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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