Antônio Carlos Sobral Sousa*
A terceira onda da Covid-19 tem provocado inundações tanto nos
serviços de urgência, pelos portadores de sintomas gripais, como em mensagens
enviadas para os ZAPs de médicos, por aqueles aflitos com a possibilidade de
estarem acometidos com a temível virose.
Não bastasse o tormento causado pela variante Ômicron do SARS-Cov-2, verifica-se, também, um
surto atípico de gripe, proporcionado pelo subtipo “H3N2” do vírus influenza. Este
cenário tem resultado em grande procura pelos testes diagnósticos, provocando
escassez dos mesmos e erros no tipo de exame solicitado.
Um interessante artigo, recentemente publicado no prestigiado
periódico New England Journal of Medicine
(DOI: 10.1056/NEJMcp2117115), ajuda a desmistificar a utilização dos testes
para o novo Coronavírus. Vale lembrar que existem testes para detectar a
existência do SARS-Cov-2 no organismo e aqueles que servem para identificar a
ocorrência de anticorpos (IgG ou IgM) induzidos pelo vírus.
Estes últimos começam a positivar, geralmente, após a 2ª semana de
infecção, não servindo, portanto, para o diagnóstico da fase aguda da doença. Já
os exames que revelam a presença do vírus, podem ser de dois tipos: os moleculares
que detectam fragmentos específicos de partículas do agente invasor, sendo mais
utilizado o RT-PCR e os imunoensaios ou testes baseados em antígeno, que
constatam a existência de proteínas do SARS-Cov-2.
As duas metodologias utilizam swab (espécie de cotonete) nasal
para a coleta de material e são altamente específicas, embora o RT-PCR seja
mais sensível na demonstração da infecção, especialmente em pessoas
assintomáticas com cargas virais baixas. O exame por pesquisa de antígeno é chamado
de “rápido”, porque o resultado está disponível dentro de alguns minutos após a
coleta.
O teste molecular do RT-PCR pode ser realizado de duas formas: a
rápida, denominada “Express”, cujo resultado é disponível em algumas horas,
porque conta com maior grau de automação; e a “Padrão”, cujo processo é feito
em várias etapas e o resultado é entregue após alguns dias. A melhor janela
para realização destes exames é entre o 4º e o 7º dia da exposição, quando
geralmente ocorre a maior carga viral.
A Organização Mundial de Saúde recomenda a realização de teste
diagnóstico para o SARS-Cov-2, em três situações, independentemente do estado
vacinal, de acordo com a probabilidade de infecção: alta – aqueles com sintomas
compatíveis com a doença; moderada - os assintomáticos que tiveram contato com
pessoas positivas ou com sintomas da virose; e, baixa – os assintomáticos que estiveram
em locais com risco alto de transmissão como aviões, shows, eventos esportivos
etc.
Nas duas primeiras situações, um teste rápido positivo, confirma a
infecção, devendo o contaminado ficar isolado e notificar o seu médico
assistente, assim como as pessoas com as quais manteve contato recente. Caso o
resultado seja negativo, naqueles com alta probabilidade clínica ou que apresentaram
piora dos sintomas, o teste deve ser repetido após dois dias, dando preferência
ao RT-PCR “Padrão”. Já os indivíduos com baixa probabilidade de infecção, um
resultado negativo afasta a doença e, caso seja positivo, o exame deve ser
confirmado dois dias após.
Os autotestes para a Covid-19, já disponíveis na Europa e nos
Estados Unidos, foram, recentemente, aprovados pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). Todavia, as empresas interessadas em
comercializar o produto precisam solicitar o registro dos mesmos junto à citada
agência.
Este tipo de exame é parecido com o teste rápido de antígeno, mas
pode ser feito por leigos, em casa, constituindo ferramenta útil para o
diagnóstico da virose. Aquele que testar positivo deve se isolar imediatamente,
mesmo se assintomático e confirmar o resultado mediante um dos exames
tradicionais.
Vale ressaltar que o SARS-CoV-2 é, predominantemente, um patógeno
respiratório das vias aéreas, e a transmissão ocorre principalmente por meio da
inalação de pequenas gotículas de saliva e aerossóis. Assim, embora combatido
pelos negacionistas, usar máscaras, higienizar as mãos e evitar aglomerações
continuam sendo condutas protetoras de reconhecida eficácia. Finalizo, citando
o médico humanista, Sir William Osler: “Quanto maior a
ignorância, maior o dogmatismo”.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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