domingo, 6 de fevereiro de 2022

TESTES RÁPIDOS PARA O NOVO CORONAVIRUS


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A terceira onda da Covid-19 tem provocado inundações tanto nos serviços de urgência, pelos portadores de sintomas gripais, como em mensagens enviadas para os ZAPs de médicos, por aqueles aflitos com a possibilidade de estarem acometidos com a temível virose.

Não bastasse o tormento causado pela variante Ômicron do SARS-Cov-2, verifica-se, também, um surto atípico de gripe, proporcionado pelo subtipo “H3N2” do vírus influenza. Este cenário tem resultado em grande procura pelos testes diagnósticos, provocando escassez dos mesmos e erros no tipo de exame solicitado.

Um interessante artigo, recentemente publicado no prestigiado periódico New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMcp2117115), ajuda a desmistificar a utilização dos testes para o novo Coronavírus. Vale lembrar que existem testes para detectar a existência do SARS-Cov-2 no organismo e aqueles que servem para identificar a ocorrência de anticorpos (IgG ou IgM) induzidos pelo vírus.

Estes últimos começam a positivar, geralmente, após a 2ª semana de infecção, não servindo, portanto, para o diagnóstico da fase aguda da doença. Já os exames que revelam a presença do vírus, podem ser de dois tipos: os moleculares que detectam fragmentos específicos de partículas do agente invasor, sendo mais utilizado o RT-PCR e os imunoensaios ou testes baseados em antígeno, que constatam a existência de proteínas do SARS-Cov-2.

As duas metodologias utilizam swab (espécie de cotonete) nasal para a coleta de material e são altamente específicas, embora o RT-PCR seja mais sensível na demonstração da infecção, especialmente em pessoas assintomáticas com cargas virais baixas. O exame por pesquisa de antígeno é chamado de “rápido”, porque o resultado está disponível dentro de alguns minutos após a coleta.

O teste molecular do RT-PCR pode ser realizado de duas formas: a rápida, denominada “Express”, cujo resultado é disponível em algumas horas, porque conta com maior grau de automação; e a “Padrão”, cujo processo é feito em várias etapas e o resultado é entregue após alguns dias. A melhor janela para realização destes exames é entre o 4º e o 7º dia da exposição, quando geralmente ocorre a maior carga viral.

A Organização Mundial de Saúde recomenda a realização de teste diagnóstico para o SARS-Cov-2, em três situações, independentemente do estado vacinal, de acordo com a probabilidade de infecção: alta – aqueles com sintomas compatíveis com a doença; moderada - os assintomáticos que tiveram contato com pessoas positivas ou com sintomas da virose; e, baixa – os assintomáticos que estiveram em locais com risco alto de transmissão como aviões, shows, eventos esportivos etc.

Nas duas primeiras situações, um teste rápido positivo, confirma a infecção, devendo o contaminado ficar isolado e notificar o seu médico assistente, assim como as pessoas com as quais manteve contato recente. Caso o resultado seja negativo, naqueles com alta probabilidade clínica ou que apresentaram piora dos sintomas, o teste deve ser repetido após dois dias, dando preferência ao RT-PCR “Padrão”. Já os indivíduos com baixa probabilidade de infecção, um resultado negativo afasta a doença e, caso seja positivo, o exame deve ser confirmado dois dias após.

Os autotestes para a Covid-19, já disponíveis na Europa e nos Estados Unidos, foram, recentemente, aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Todavia, as empresas interessadas em comercializar o produto precisam solicitar o registro dos mesmos junto à citada agência.

Este tipo de exame é parecido com o teste rápido de antígeno, mas pode ser feito por leigos, em casa, constituindo ferramenta útil para o diagnóstico da virose. Aquele que testar positivo deve se isolar imediatamente, mesmo se assintomático e confirmar o resultado mediante um dos exames tradicionais.

Vale ressaltar que o SARS-CoV-2 é, predominantemente, um patógeno respiratório das vias aéreas, e a transmissão ocorre principalmente por meio da inalação de pequenas gotículas de saliva e aerossóis. Assim, embora combatido pelos negacionistas, usar máscaras, higienizar as mãos e evitar aglomerações continuam sendo condutas protetoras de reconhecida eficácia. Finalizo, citando o médico humanista, Sir William Osler: “Quanto maior a ignorância, maior o dogmatismo”.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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