domingo, 25 de outubro de 2020

JOVEM TAMBÉM ADOECE


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Recentemente, durante conversa telefônica, o amigo, Prof. Dr. Roberto Dischinger Miranda, da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, manifestou preocupação com parcela significativa de indivíduos jovens, que se julgam imunes à evolução desfavorável da Covid-19.

Conforme sabidamente conhecido, a doença apresenta um padrão clínico que vem se reproduzindo desde quando se originou, na China, no final do ano passado. Inicialmente, os infectados apresentam sintomas comuns às viroses, evoluindo, espontaneamente, para a cura em mais de 80% dos casos. Todavia, cerca de 20% dos doentes, desafortunadamente, passam para uma fase inflamatória, a qual pode ser intensa, acometendo, preferencialmente os pulmões, porém, tem sido relatado envolvimento de todos os sistemas do organismo.

As formas mais graves requerem, frequentemente, internação hospitalar, muitas vezes em terapia intensiva, podendo necessitar de ajuda de respirador artificial e, infelizmente, ainda apresentam letalidade elevada.

Também, já está razoavelmente sedimentado que existe um grupo de risco para evolução desfavorável, formado pelos idosos e os portadores de comorbidades, tais como: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, obesidade, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer e insuficiência renal crônica.

O que ainda não está devidamente estabelecido é o que promoveria a progressão para o quadro inflamatório em alguns e a regressão do quadro em outros. Tem sido especulado que o principal responsável seria o estado imunitário do paciente. Até o momento, não existe comprovação de terapia eficaz na frenagem dessa mudança de quadro clínico. 

Uma breve reflexão sobre o tema, nos permite constatar que a mortalidade em indivíduos jovens, registrada no Brasil (aproximadamente 27%) é maior do que a encontrada na Europa e nos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, vários países europeus registraram picos preocupantes, de novos casos da Covid-19, causados, provavelmente, pela reabertura da economia e a recirculação do vírus, após meses de bloqueio. Curiosamente, os especialistas têm destacado uma mudança na demografia dos infectados, na nova onda, acometendo pessoas mais jovens, que estão se aventurando em bares, restaurantes e outros locais públicos, ao contrário do primeiro surto da pandemia no continente, que atingiu, sobretudo, os idosos se espalhando em asilos e casas de saúde.

Portanto, deve ficar patente que as medidas eficazes de prevenção devem ser praticadas pela população, independentemente da faixa etária, até que possamos desfrutar de uma vacina efetiva contra o SARS-Cov-2.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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