Antônio Carlos Sobral Sousa*
Recentemente, durante conversa telefônica, o amigo, Prof.
Dr. Roberto Dischinger Miranda, da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, manifestou
preocupação com parcela significativa de indivíduos jovens, que se julgam
imunes à evolução desfavorável da Covid-19.
Conforme sabidamente conhecido, a doença apresenta um
padrão clínico que vem se reproduzindo desde quando se originou, na China, no
final do ano passado. Inicialmente, os infectados apresentam sintomas comuns às
viroses, evoluindo, espontaneamente, para a cura em mais de 80% dos casos.
Todavia, cerca de 20% dos doentes, desafortunadamente, passam para uma fase
inflamatória, a qual pode ser intensa, acometendo, preferencialmente os
pulmões, porém, tem sido relatado envolvimento de todos os sistemas do
organismo.
As formas mais graves requerem, frequentemente, internação
hospitalar, muitas vezes em terapia intensiva, podendo necessitar de ajuda de
respirador artificial e, infelizmente, ainda apresentam letalidade elevada.
Também, já está razoavelmente sedimentado que existe um
grupo de risco para evolução desfavorável, formado pelos idosos e os portadores
de comorbidades, tais como: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doenças
cardiovasculares, obesidade, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer e
insuficiência renal crônica.
O que ainda não está devidamente estabelecido é o que
promoveria a progressão para o quadro inflamatório em alguns e a regressão do
quadro em outros. Tem sido especulado que o principal responsável seria o estado
imunitário do paciente. Até o momento, não existe comprovação de terapia eficaz
na frenagem dessa mudança de quadro clínico.
Uma breve reflexão sobre o tema, nos permite constatar que
a mortalidade em indivíduos jovens, registrada no Brasil (aproximadamente 27%)
é maior do que a encontrada na Europa e nos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, vários países europeus registraram
picos preocupantes, de novos casos da Covid-19, causados, provavelmente, pela
reabertura da economia e a recirculação do vírus, após meses de bloqueio. Curiosamente,
os especialistas têm destacado uma mudança na demografia dos infectados, na
nova onda, acometendo pessoas mais jovens, que estão se aventurando em bares,
restaurantes e outros locais públicos, ao contrário do primeiro surto da
pandemia no continente, que atingiu, sobretudo, os idosos se espalhando em
asilos e casas de saúde.
Portanto, deve ficar patente que as medidas eficazes de
prevenção devem ser praticadas pela população, independentemente da faixa
etária, até que possamos desfrutar de uma vacina efetiva contra o SARS-Cov-2.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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