domingo, 22 de novembro de 2020

OS VENDEDORES AMBULANTES DE UM CORDEL DIFERENTE

                                                           Colportor

 

 

Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*

 

 

 

A divulgação de impressos religiosos chegou ao Brasil nos oitocentos através do trabalho de propaganda desencadeado pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (BFBS) e pela Sociedade Bíblica Americana (ABS). A primeira foi fundada em 1804 e a segunda, em 1816. Eram entidades mundiais que tinham como finalidade a divulgação integral ou parcial da Bíblia na língua vernácula de cada povo.

No Brasil, de acordo com a documentação localizada no acervo da Cambridge University Library, a BFBS iniciou seus trabalhos no ano de 1818, no Rio de Janeiro e, durante a década seguinte, três agentes instalaram-se em Pernambuco e no Maranhão. Posteriormente, aquelas instituições passaram a efetuar as remessas através de seus agentes e colportores para Bahia, Alagoas, Sergipe, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O agente tinha nível superior e era o representante nacional da instituição. Já o colportor, no Brasil, se caracterizou como o distribuidor e vendedor ambulante de impressos protestantes. Este, geralmente, tinha formação escolar primária. Sua missão era criar polêmica com as autoridades eclesiásticas locais através da imprensa e observar a cidade mais propícia para as futuras instalações de igrejas e escolas protestantes. Mesmo que não tivesse muita familiaridade com o material que fosse vender, era orientado a demonstrar muito entusiasmo na apresentação.

No final do ano de 1858, como resultado do trabalho de Kalley, circulavam entre o povo, além de Bíblias e Novos Testamentos, salmos e hinos, folhetos, estampas e sermões. Posteriormente, os missionários norte-americanos também editaram livros e panfletos, despachando-os para as igrejas, bibliotecas, colégios evangélicos, congregações e fazendas. Ainda em 1858, foi enviada uma remessa de livros para a cidade de Laranjeiras, na Província de Sergipe, provavelmente levada por Pedro Nolasco de Andrade que iniciava suas atividades de colportor.         

Os colportores que trabalhavam para o agente Kalley recebiam em média 50$000 réis por mês por uma hora de trabalho diário. Entretanto, aquele que trabalhasse mais de uma hora por dia, receberia 60$000 réis e, por todo o dia, 80$000 réis. Durante aquela hora, ele só venderia a Bíblia, podendo oferecer outros títulos em outro momento. Porém, tinha licença para receber encomendas de outra literatura protestante, sendo a regra estabelecida pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Tinham por obrigação fazer um relatório diário, bastante minucioso para apresentar semanalmente ao seu agente. Se o seu chefe estivesse fora do Brasil, os diários eram enviados semanalmente pelos Correios, de modo que o agente acompanhasse todo o movimento dos seus subordinados.

Durante o século XIX, aquelas instituições distribuíram no país aproximadamente 10 milhões de exemplares de Bíblias, folhetos, Novos Testamentos, estampas, sermões e livros evangélicos.

 

 

* Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE, da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de Aracaju Norte/Distrito 4391.
 

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