Ester
Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*
A divulgação de impressos
religiosos chegou ao Brasil nos oitocentos através do trabalho de propaganda
desencadeado pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (BFBS) e pela
Sociedade Bíblica Americana (ABS). A primeira foi fundada em 1804 e a segunda,
em 1816. Eram entidades mundiais que tinham como finalidade a divulgação
integral ou parcial da Bíblia na língua vernácula de cada povo.
No Brasil, de acordo com a
documentação localizada no acervo da Cambridge
University Library, a
BFBS iniciou seus trabalhos no ano de 1818, no Rio de Janeiro e, durante a
década seguinte, três agentes instalaram-se em Pernambuco e no Maranhão. Posteriormente,
aquelas instituições passaram a efetuar as remessas através de seus agentes e colportores
para Bahia, Alagoas, Sergipe, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O agente tinha nível superior e
era o representante nacional da instituição. Já o colportor, no Brasil, se
caracterizou como o distribuidor e vendedor ambulante de impressos
protestantes. Este, geralmente, tinha formação escolar primária. Sua missão era
criar polêmica com as autoridades eclesiásticas locais através da imprensa e
observar a cidade mais propícia para as futuras instalações de igrejas e
escolas protestantes. Mesmo que não tivesse muita familiaridade com o material
que fosse vender, era orientado a demonstrar muito entusiasmo na apresentação.
No final do ano
de 1858, como resultado do trabalho de Kalley, circulavam entre o povo, além de
Bíblias e Novos Testamentos, salmos e hinos, folhetos, estampas e sermões.
Posteriormente, os missionários norte-americanos também editaram livros e
panfletos, despachando-os para as igrejas, bibliotecas, colégios evangélicos,
congregações e fazendas. Ainda em 1858, foi enviada uma remessa de livros para
a cidade de Laranjeiras, na Província de Sergipe, provavelmente levada por
Pedro Nolasco de Andrade que iniciava suas atividades de colportor.
Os colportores
que trabalhavam para o agente Kalley recebiam em média 50$000 réis por mês por
uma hora de trabalho diário. Entretanto, aquele que trabalhasse mais de uma
hora por dia, receberia 60$000 réis e, por todo o dia, 80$000 réis. Durante
aquela hora, ele só venderia a Bíblia, podendo oferecer outros títulos em outro
momento. Porém, tinha licença para receber encomendas de outra literatura
protestante, sendo a regra estabelecida pela Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira. Tinham por obrigação fazer um relatório diário, bastante minucioso
para apresentar semanalmente ao seu agente. Se o seu chefe estivesse fora do
Brasil, os diários eram enviados semanalmente pelos Correios, de modo que o
agente acompanhasse todo o movimento dos seus subordinados.
Durante o século
XIX, aquelas instituições distribuíram no país aproximadamente 10 milhões de
exemplares de Bíblias, folhetos, Novos Testamentos, estampas, sermões e livros
evangélicos.
* Professora do Programa de Pós-Graduação em
Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa
em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia
Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE,
da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de
Aracaju Norte/Distrito 4391.
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