Jorge
Carvalho do Nascimento*
Anísio
Teixeira viajou para os Estados Unidos da América pela primeira vez em 1927. A
partir daquela viagem se aproximou da Universidade Colúmbia, em Nova York,
lócus a no qual desenvolveu parte importante dos estudos que o transformaram
num dos nomes da maior relevância da Educação brasileira.
Quando
Anísio viajou para Colúmbia, Gilberto Freyre de lá já havia regressado com tese
defendida e título de doutor, orientado pelo festejado antropólogo Franz Boas.
A tradição inaugurada por Freyre e por Teixeira fez com que muitos brasileiros
ao longo do século XX e nos primeiros anos deste século XXI buscassem dialogar
com estudos realizados a partir da Universidade Colúmbia.
O
Brasil sempre esteve na pauta de reflexões dos pesquisadores daquela
instituição. Muitos investigadores brasileiros dedicados a Educação lançaram o
olhar sobre os processos de estudos e o pensamento difundido a partir da
celebrada Universidade Colúmbia.
Nos
primeiros anos do século XXI são muito importantes os estudos realizados pela
pesquisadora Mirian Jorge Warde acerca da interlocução estabelecida em Colúmbia
por Anísio Teixeira e outros intelectuais da Educação brasileira durante a
primeira metade do século XX, em face dos estudos realizados por John Dewey e
da incorporação que aquele norte-americano fez das reflexões filosóficas de
William James.
Acabo
de me deparar com outro importante estudo a respeito da Educação brasileira
realizado na Universidade Colúmbia, evidentemente com um outro viés de
abordagem e outros objetivos. Neste final de semana concluí a leitura do livro
LÍDERES NA ESCOLA: O QUE FAZEM BONS DIRETORES E DIRETORAS E COMO OS MELHORES
SISTEMAS EDUCACIONAIS DO MUNDO OS SELECIONAM, FORMAM E APOIAM.
O
trabalho tem a assinatura de Antônio Gois, jornalista especializado em Educação
que, desde 1996, pesquisa e escreve sobre Educação brasileira. Bolsista da
Spencer Education Journalism Fellowship, Gois trabalhou durante dois anos
baseado na Universidade Columbia, estudando os problemas de gestão escolar em
seis países: Brasil, México, Chile, Canadá, Singapura e Estados Unidos.
Os
resultados de tais estudos foram apresentados no livro publicado em 2020 pela
Editora Moderna, sob o patrocínio da Fundação Santillana, com prefácio de André
Lázaro. Fundador e primeiro presidente da Associação de Jornalistas de Educação
(Jeduca), Antônio Gois é, indiscutivelmente, o mais importante dentre os
jornalistas brasileiros dedicados ao tema.
Neste
livro aqui apresentado, Gois discute em 13 capítulos o papel que exerce em
diferentes países o diretor de escola na condição de líder, mostrando o que
fazem, como fazem, como são formados e que tipo de suporte institucional
recebem para que consigam a contento cumprir o papel que o exercício da função
impõe.
O
autor, como bom jornalista que é, extrai parte expressiva do conteúdo
trabalhado entrevistando mulheres que cumprem diferentes papéis como diretoras
escolares, professoras, mães, pesquisadoras e coordenadoras de centros de
formação. Ao fazê-lo demonstra que questões como pobreza e desigualdade
impactam elevadamente a escola pública brasileira, mas também continuam a ser problemas
presentes mesmo em sistemas escolares como o da cidade de Nova York e outras
periferias urbanas dos países analisados.
A
boa formação acadêmica que possui leva Gois a não secundarizar o relevante
papel da pesquisa científica realizada no ambiente universitário. Assim, os
seus estudos estão ancorados em bibliografia atualizada e de elevada qualidade,
oferecendo o suporte teórico necessário aos que desejam maior aprofundamento.
Dentre
outras conclusões acerca das quais devemos refletir, Antônio Gois chama a
atenção para a indissociabilidade existente quanto aos processos de formação
dos dirigentes escolares e os seus nexos com remuneração e outras formas de reconhecimento
profissional e social. As soluções criativas são importantes, mas insuficientes
enquanto o Brasil não adotar sistemas de suporte institucional eficazes.
A
leitura vale a pena e é muito relevante para todos que costumam lançar o olhar
sobre a escola.
*Jornalista, professor universitário, doutor em Educação, presidente da Academia Sergipana de Educação e membro da Academia Sergipana de Letras.
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