Ester
Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*
A partir dos primeiros anos do século XX, sergipanas foram
estudar no Instituto Ponte Nova com o objetivo de fazerem o curso normal
oferecido pela instituição. O colégio foi organizado em 1906, pela Missão
Central do Brasil, vinculada à Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos,
na cidade baiana de Wagner. O mesmo grupo religioso fundara, em 1870, a Escola
Americana, futuro Mackenzie College, em São Paulo.
Através da documentação do Instituto Ponte Nova localizei
seis sergipanas e seus respectivos anos de conclusão do curso: Joana de Araújo
Regis (1913) e Josefa Araújo Dourado (1914), eram de Riachão do Dantas; Dalila
do Carmo Costa (1914) e Antônia Rodrigues Souza (1916), de Estância; Maria
Glória Chagas (1920), de Itabaiana; e, Olda do Prado Dantas (1934), de Simão
Dias. Destas, foi possível apreender parcialmente a trajetória de Dalila,
Antônia, Maria da Glória e Olda.
Dentre os alunos que o Instituto Ponte Nova recebeu em 1907, estava
Dalila do Carmo Costa, nascida em Estância, Sergipe, em 18 de maio de 1896. Era
mulata, estatura baixa, franzina, acanhada, falava pouco. Órfã de pai e mãe,
tinha um irmão, Olímpio, que deixara em sua cidade natal.
Ela iniciara seus estudos na Escola Americana de Aracaju, sob a direção
de Woodward Finley. Em 1914, Dalila formou-se, dedicando-se a lecionar
Português, Literatura Nacional e Educação Moral e Cívica naquela instituição. Durante
50 anos, Dalila dedicou-se ao magistério. A professora não se casou, não teve
filhos, morava sozinha.
Muitas ruas de Wagner receberam nomes de missionários e ex-professores do
Instituto Ponte Nova. Provavelmente, em meados da década de 1960, Dalila Costa
foi homenageada com uma rua no centro da cidade. No seu sepultamento, em 1982,
os parentes foram substituídos por amigos, colegas e ex-alunos.
Antônia Rodrigues Souza, Duquinha, como era conhecida, partiu
da cidade sergipana de Estância. Morava com o pai, uma irmã mais velha e um
irmão, que era ourives. Todos eram presbiterianos da igreja do Reverendo
Cassius Bixler. Apesar de serem pobres, as moças faziam muitos bordados e
andavam sempre bem vestidas.
Por sugestão e intermediação da professora Sancha Galvão
junto ao missionário Bixler, provavelmente em 1911, Duquinha recebeu uma bolsa
de estudos no Instituto Ponte Nova, onde ensinava bordados e costuras como
forma de pagamento, e em 1916, concluiu seu curso, continuando a trabalhar na
instituição.
Maria da Glória Chagas nasceu em 1906, na Fazenda Lagamar,
situada no município de Frei Paulo, em Sergipe. Seus pais, João Francisco
Chagas e Maria Gracinda de Oliveira Chagas, eram presbiterianos. Glorinha foi
enviada para o Instituto Ponte Nova, recebendo uma educação que reforçou os rígidos
conceitos religiosos adquiridos e desenvolvidos em família, além de ter
aprendido o latim, o inglês e piano.
Depois de concluir o curso, em 1920, Glorinha voltou a
Sergipe e lecionou por algum tempo no Colégio Guilhermino Bezerra, em
Itabaiana. Fixou residência em Aracaju, na companhia de dois sobrinhos, filhos
do seu irmão mais velho, que a acompanharam para receber educação.
Indo lecionar na Escola Nossa Senhora da Salete, da
professora Ester Lopes, paralelamente, manteve em sua residência uma escolinha
noturna. Quando achou que já tinha cumprido a sua missão, voltou à fazenda onde
nasceu, falecendo em julho de 1987.
Olda do Prado Dantas nasceu
em Simão Dias e foi criada num lar evangélico, onde seus pais, a professora
Gregória do Prado Dantas e Manoel da Fraga Dantas, eram presbiterianos. Depois
que Olda concluiu o curso primário, Gregória, sua mãe, solicitou ao diretor do
Instituto Ponte Nova, o Reverendo Cassius Bixler, que recebesse a filha na
instituição.
No período de 1930 a 1934,
Olda fez o curso normal. Retornando a Sergipe, cursou suficiência em Canto
Orfeônico e em Educação Física, na cidade de Aracaju. Além disto, lecionou nas
Escolas Reunidas do município. Anos depois, ensinou Canto Orfeônico no Grupo
Escolar Fausto Cardoso, sendo efetivada como professora estadual. Em janeiro de
1958, lecionou aquela disciplina e, também, Português no Ginásio Cenecista
Carvalho Neto.
Durante muito tempo, a memória de professoras ficou
relegada a segundo plano pela historiografia educacional brasileira. No
entanto, ultimamente a experiência de vida de docentes como agentes
educacionais e especificamente a feminização do magistério tem se tornado
sujeito da memória.
Dar visibilidade à memória de mulheres professoras possibilita
identificar e reconhecer espaços de resistências além de desconstruir uma
história da educação registrada em sua maioria por homens e respaldada por
documentos de Estado.
*Professora do Programa de Pós-Graduação em
Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa
em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia
Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE,
da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de
Aracaju Norte/Distrito 4391.
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