domingo, 15 de novembro de 2020

SERGIPANAS NO INSTITUTO PONTE NOVA

                                              Alunas do Instituto Ponte Nova

 

 

Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*

 

 

A partir dos primeiros anos do século XX, sergipanas foram estudar no Instituto Ponte Nova com o objetivo de fazerem o curso normal oferecido pela instituição. O colégio foi organizado em 1906, pela Missão Central do Brasil, vinculada à Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos, na cidade baiana de Wagner. O mesmo grupo religioso fundara, em 1870, a Escola Americana, futuro Mackenzie College, em São Paulo.

Através da documentação do Instituto Ponte Nova localizei seis sergipanas e seus respectivos anos de conclusão do curso: Joana de Araújo Regis (1913) e Josefa Araújo Dourado (1914), eram de Riachão do Dantas; Dalila do Carmo Costa (1914) e Antônia Rodrigues Souza (1916), de Estância; Maria Glória Chagas (1920), de Itabaiana; e, Olda do Prado Dantas (1934), de Simão Dias. Destas, foi possível apreender parcialmente a trajetória de Dalila, Antônia, Maria da Glória e Olda.

Dentre os alunos que o Instituto Ponte Nova recebeu em 1907, estava Dalila do Carmo Costa, nascida em Estância, Sergipe, em 18 de maio de 1896. Era mulata, estatura baixa, franzina, acanhada, falava pouco. Órfã de pai e mãe, tinha um irmão, Olímpio, que deixara em sua cidade natal.

Ela iniciara seus estudos na Escola Americana de Aracaju, sob a direção de Woodward Finley. Em 1914, Dalila formou-se, dedicando-se a lecionar Português, Literatura Nacional e Educação Moral e Cívica naquela instituição. Durante 50 anos, Dalila dedicou-se ao magistério. A professora não se casou, não teve filhos, morava sozinha.

Muitas ruas de Wagner receberam nomes de missionários e ex-professores do Instituto Ponte Nova. Provavelmente, em meados da década de 1960, Dalila Costa foi homenageada com uma rua no centro da cidade. No seu sepultamento, em 1982, os parentes foram substituídos por amigos, colegas e ex-alunos.

Antônia Rodrigues Souza, Duquinha, como era conhecida, partiu da cidade sergipana de Estância. Morava com o pai, uma irmã mais velha e um irmão, que era ourives. Todos eram presbiterianos da igreja do Reverendo Cassius Bixler. Apesar de serem pobres, as moças faziam muitos bordados e andavam sempre bem vestidas.

Por sugestão e intermediação da professora Sancha Galvão junto ao missionário Bixler, provavelmente em 1911, Duquinha recebeu uma bolsa de estudos no Instituto Ponte Nova, onde ensinava bordados e costuras como forma de pagamento, e em 1916, concluiu seu curso, continuando a trabalhar na instituição. 

Maria da Glória Chagas nasceu em 1906, na Fazenda Lagamar, situada no município de Frei Paulo, em Sergipe. Seus pais, João Francisco Chagas e Maria Gracinda de Oliveira Chagas, eram presbiterianos. Glorinha foi enviada para o Instituto Ponte Nova, recebendo uma educação que reforçou os rígidos conceitos religiosos adquiridos e desenvolvidos em família, além de ter aprendido o latim, o inglês e piano.

Depois de concluir o curso, em 1920, Glorinha voltou a Sergipe e lecionou por algum tempo no Colégio Guilhermino Bezerra, em Itabaiana. Fixou residência em Aracaju, na companhia de dois sobrinhos, filhos do seu irmão mais velho, que a acompanharam para receber educação.

Indo lecionar na Escola Nossa Senhora da Salete, da professora Ester Lopes, paralelamente, manteve em sua residência uma escolinha noturna. Quando achou que já tinha cumprido a sua missão, voltou à fazenda onde nasceu, falecendo em julho de 1987.

Olda do Prado Dantas nasceu em Simão Dias e foi criada num lar evangélico, onde seus pais, a professora Gregória do Prado Dantas e Manoel da Fraga Dantas, eram presbiterianos. Depois que Olda concluiu o curso primário, Gregória, sua mãe, solicitou ao diretor do Instituto Ponte Nova, o Reverendo Cassius Bixler, que recebesse a filha na instituição.

No período de 1930 a 1934, Olda fez o curso normal. Retornando a Sergipe, cursou suficiência em Canto Orfeônico e em Educação Física, na cidade de Aracaju. Além disto, lecionou nas Escolas Reunidas do município. Anos depois, ensinou Canto Orfeônico no Grupo Escolar Fausto Cardoso, sendo efetivada como professora estadual. Em janeiro de 1958, lecionou aquela disciplina e, também, Português no Ginásio Cenecista Carvalho Neto.

Durante muito tempo, a memória de professoras ficou relegada a segundo plano pela historiografia educacional brasileira. No entanto, ultimamente a experiência de vida de docentes como agentes educacionais e especificamente a feminização do magistério tem se tornado sujeito da memória.

Dar visibilidade à memória de mulheres professoras possibilita identificar e reconhecer espaços de resistências além de desconstruir uma história da educação registrada em sua maioria por homens e respaldada por documentos de Estado.

 

           

*Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE, da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de Aracaju Norte/Distrito 4391.
 

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