Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Estamos
vivenciando a esperada segunda onda da Covid-19, provocando sufoco em moradores
de inúmeras cidades brasileiras, notadamente na Região Norte do país, apesar do
negacionismo, explícito, de algumas autoridades governamentais e de parcela,
significativa, da população.
Já
dispomos do mais poderoso armamento para o enfrentamento de uma pandemia desta
natureza, a vacina! Todavia, a vacinação avança, timidamente, Brasil afora,
enquanto já se registra a presença da cepa amazonense do SARS-Cov-2, mais veloz no ofício da contaminação, em outras
localidades, provocando o fechamento de fronteiras de vários países, para
cidadãos brasileiros.
Após
mais de um ano do registro do primeiro infectado, na China, a principal certeza
desta doença é a incerteza da evolução dos acometidos pelo nefasto novo
coronavírus. Aprendemos, ao longo do ano passado, que existe um grupo de risco
para desfecho desfavorável, composto pelos idosos, os hipertensos, os
diabéticos, os portadores de doenças cardiovasculares, os renais crônicos etc.
Porém,
tem sido registrado, com certa frequência, a ocorrência de casos de portadores
de tais comorbidades que evoluem satisfatoriamente e, por outro lado, a de
indivíduos jovens, muitos dos quais atletas e sem doença aparente, que são
penalizados com internações demoradas em unidades de terapia intensiva e, até,
com desfecho letal.
Pelo
exposto, poderíamos comparar o futuro daqueles acometidos pelo referido vírus,
com o de uma loteria, composta por três bilhetes. Os contemplados com o bilhete
um, que constitui a maioria de quase 80%, vão ser assintomáticos ou
apresentarão sintomas leves, não requerendo internação hospitalar, devendo,
contudo, permanecerem isolados por 14 dias.
Sabemos
que muitos desses “sortudos” não adquirem imunidade duradoura e, ainda é
incerto, se não sofrerão consequências futuras, já que existem relatos de
sequelas tardias. Já os aquinhoados com o bilhete dois, 15% dos pacientes,
geralmente exibem manifestações moderadas da Covid-19, com sinais clínicos de
pneumonia (febre, tosse, dispneia, taquipneia), mas com saturação de oxigênio
(O2), no sangue periférico, maior do que 90% em ar ambiente,
requerendo, às vezes, internação em enfermaria e suplementação de O2,
via catéter nasal, sem, todavia, recorrer a tratamentos intensivos.
Por
outro lado, os 5% azarados, que receberam o bilhete três desta impiedosa
doença, vão passar por um verdadeiro calvário, necessitando de terapia
intensiva, muitas vezes de intubação endotraqueal, podendo apresentar as formas
críticas, com falência respiratória, choque cardiovascular e insuficiência
renal e/ou hepática agudas, algumas vezes, irreversível.
Fica
patente que o mais sensato é evitar, de todas as formas, a traiçoeira loteria
da Covid-19, porque, por mais sadio que seja o jogador, como em todo jogo de
azar, a sorte pode não estar ao seu lado. Ressalte-se, ainda, que, até o
momento, não existe comprovação científica de tratamento precoce para esta
mazela, embora insensatamente defendido por alguns.
Só
nos resta continuar insistindo com as eficazes medidas de distanciamento
social, uso de máscaras e higiene das mãos enquanto aguardamos que o vírus
deixe de circular, quando a maioria da população for, efetivamente, vacinada.
* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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