Antônio
Carlos Sobral Sousa*
A
segunda onda da Covid-19 atingiu proporções de Tsunami, praticamente, em todos
os cantos do País. Graças à sua maior velocidade de transmissão e, talvez, a
maior agressividade, a variante brasileira do SARS-Cov-2, que, provavelmente, já é a cepa dominante no Brasil,
tem provocado evoluções mais rápidas para a falência respiratória e,
consequentemente, a necessidade de intubação endotraqueal daqueles que,
infortunadamente, requerem internações hospitalares.
Não
obstante o evidente drama da escassez de leitos de terapia intensiva (UTI),
para atender à crescente demanda, tem sido relatado, também, o temeroso
esvaziamento dos estoques do chamado de medicamentos que compõem o “Kit
Intubação”, necessários para manter o paciente relaxado e sedado, propiciando,
assim, ventilação mecânica eficiente, necessária para a recuperação
respiratória, do intenso processo inflamatório causado pelo novo coronavírus.
Estas
evidências têm apavorado muitos profissionais de saúde da linha de frente,
exauridos por essa diuturna batalha insana, com a possibilidade de terem que
escolher, dentre os necessitados, quem vai ser aquinhoado com um leito de UTI
e, ainda, terem que presenciar cenas angustiantes de indivíduos despertarem
ainda intubados.
Teriam
os hodiernos esculápios, discípulos de Hipócrates, que reviver o pesadelo de uma mãe
polaca, presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra, forçada por
um soldado nazista a escolher um
de seus dois filhos para ser morto, drama imortalizado no filme de Alan Pakula,
“A Escolha de Sofia”, estrelado pela magistral Meryl Streep.
A desigualdade social do
Brasil foi escancarada com a Pandemia, cuja proliferação desenfreada tem nos
tornado uma vitrine indigesta para o mundo, que nos enxerga como um celeiro de
novas variantes do traiçoeiro vírus, forçando o cancelamento de voos para solo
brasileiro, por mandatários de alguns países.
Urge, pois, que as
autoridades competentes não meçam esforços para amparar, sobretudo, a carente
rede pública, provendo os recursos necessários para minorar os efeitos dessa
terrível tragédia que nos aflige. Cabe, também, à população, fazer a sua parte,
observando, com mais comprometimento e rigor, as medidas comprovadamente
protetoras de uso de máscara, higienização das mãos, distanciamento físico e,
também, evitar aglomerações.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário