sábado, 8 de maio de 2021

O MÉDICO E O DRAMA DE “SOFIA”


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A segunda onda da Covid-19 atingiu proporções de Tsunami, praticamente, em todos os cantos do País. Graças à sua maior velocidade de transmissão e, talvez, a maior agressividade, a variante brasileira do SARS-Cov-2, que, provavelmente, já é a cepa dominante no Brasil, tem provocado evoluções mais rápidas para a falência respiratória e, consequentemente, a necessidade de intubação endotraqueal daqueles que, infortunadamente, requerem internações hospitalares.

Não obstante o evidente drama da escassez de leitos de terapia intensiva (UTI), para atender à crescente demanda, tem sido relatado, também, o temeroso esvaziamento dos estoques do chamado de medicamentos que compõem o “Kit Intubação”, necessários para manter o paciente relaxado e sedado, propiciando, assim, ventilação mecânica eficiente, necessária para a recuperação respiratória, do intenso processo inflamatório causado pelo novo coronavírus.

Estas evidências têm apavorado muitos profissionais de saúde da linha de frente, exauridos por essa diuturna batalha insana, com a possibilidade de terem que escolher, dentre os necessitados, quem vai ser aquinhoado com um leito de UTI e, ainda, terem que presenciar cenas angustiantes de indivíduos despertarem ainda intubados.

Teriam os hodiernos esculápios, discípulos de Hipócrates, que reviver o pesadelo de uma mãe polaca, presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra, forçada por um soldado nazista a escolher um de seus dois filhos para ser morto, drama imortalizado no filme de Alan Pakula, “A Escolha de Sofia”, estrelado pela magistral Meryl Streep.

A desigualdade social do Brasil foi escancarada com a Pandemia, cuja proliferação desenfreada tem nos tornado uma vitrine indigesta para o mundo, que nos enxerga como um celeiro de novas variantes do traiçoeiro vírus, forçando o cancelamento de voos para solo brasileiro, por mandatários de alguns países.

Urge, pois, que as autoridades competentes não meçam esforços para amparar, sobretudo, a carente rede pública, provendo os recursos necessários para minorar os efeitos dessa terrível tragédia que nos aflige. Cabe, também, à população, fazer a sua parte, observando, com mais comprometimento e rigor, as medidas comprovadamente protetoras de uso de máscara, higienização das mãos, distanciamento físico e, também, evitar aglomerações.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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