quarta-feira, 30 de junho de 2021

A OLIMPÍADA DA COVID-19


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Está prestes a começar o maior evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos ou Olimpíadas, cuja origem remonta a antiga Hélade, conjunto das cidades-estado da Grécia antiga. Os jogos atraiam peregrinos de várias localidades para a cidade de Olímpia, onde eram realizadas as competições, cujo primeiro vencedor, em uma prova de corrida, foi o atleta Corobeu, em 776 a.C.

Após séculos de esquecimento, a congregação das práticas esportivas em um festival portentoso só voltou a acontecer em 1896, na cidade de Atenas, por ação de um pedagogo e aristocrata suíço, o Barão de Coubertin, considerado o fundador da versão moderna dos Jogos Olímpicos.

Segundo o seu idealizador, o conclave serviria para promover a paz entre as nações, mediante a chama do espírito esportivo de competição digna, independentemente do resultado. Os Estados Unidos lideram o ranking com 2.522 medalhas, sendo 1.022 de ouro; já o Brasil ocupa a 36ª posição, refletindo, provavelmente, a falta de incentivos à prática desportiva, exceto o futebol.

Enquanto os nossos atletas finalizam os preparativos para tentar, em Tóquio, melhorar a nossa classificação olímpica, o Brasil já alcançou o desconfortável 2º lugar de mortalidade global causada pela Covid-19. Esta semana foi superada a constrangedora marca dos quinhentos mil óbitos, índice conseguido, até então, apenas pelos estadunidenses, nesta iníqua Olimpíada promovida pelo SARS-Cov-2.

A adoção, por parte do novo mandatário americano, de uma política de enfrentamento da virose, embasada na Ciência, que prioriza vacinação em massa da população, tem proporcionado, além da redução drástica do número de infectados e de casos fatais, o retorno ao convívio comunitário de várias localidades.

Em contraste, a maioria dos hospitais brasileiros registram, ainda, números elevados de pacientes, frequentemente jovens e gravemente acometidos pelo novo coronavírus, reflexo da morosidade da vacinação, incentivada pela política negacionista e ao evidente desleixo das medidas de proteção.

Não nos valeu, por certo, a experiência imposta por este impiedoso inimigo invisível que continua sendo, visivelmente, desrespeitado por muitos, em detrimento das preciosas baixas registradas nos nosocômios Brasil afora. Os olhos da imaginação contemplam, fielmente, o quadro em que se debuxam, indeléveis, os lances da luta extênua empreendida pelos intimoratos profissionais de saúde.

Espera-se que este prélio sirva de inspiração para que a energia gasta na conturbada disputa política que se avizinha, seja canalizada para salvar vidas e não para angariar votos. Caso contrário, subiremos, em breve, ao ponto mais alto do pódio de vítimas da Covid-19.

Finalizo, parafraseando Pierre Lecomte du Noüy, em “A Dignidade Humana”: Ao nascer eras tu a chorar, mas riamos nós à tua volta. Conduz a tua vida de tal maneira que, quando vieres a morrer, sejas tu a sorrir e todos nós a chorar.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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