Antônio Carlos Sobral Sousa*
As primeiras semanas de 2022 têm sido marcadas por uma subida
vertiginosa do número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Este
fenômeno mundial, provavelmente, decorre da conjunção de alguns fatores, tais
como: desigualdade no acesso às vacinas; hesitação vacinal influenciada por
ações de negacionistas, que usam todos os recursos disponíveis para enaltecer efeitos
indesejáveis dos imunizantes, embasados, sobretudo em pseudociência; surgimento
de variantes que, eventualmente, escapam dos anticorpos induzidos pelas
vacinas; aglomerações registradas nas comemorações do Natal e do Ano Novo e, o
evidente relaxamento das medidas sabidamente protetoras como o uso de máscaras
e a higienização das mãos.
A cepa Ômicron do SARS-Cov-2,
graças à sua transmissibilidade invejável, já domina o cenário da infecção,
mundo afora. Embora tenha tido um comportamento mais benigno que as anteriores,
a referida variante tem provocado considerável incremento de internações
hospitalares.
Vale ressaltar, também, que estamos vivenciando um surto inusitado
de infecção causada pelo subtipo “H3N2 Darwin” do vírus influenza. Esta Gripe, assim
como a Covid-19, não é uma “gripezinha” e se manifesta mediante sintomas
respiratórios clássicos, associados a intenso mal-estar, sendo mais perigosa em
idosos, crianças e portadores de comorbidades. As autoridades competentes
acreditam que este surto fora de época, decorra, sobretudo, da baixa adesão à
vacina de gripe.
A concomitância de infecções altamente contagiosas, no momento em que,
nitidamente, segmentos expressivos da população baixaram a guarda contra o novo
coronavírus, tem resultado em superlotação dos serviços de urgência de várias
cidades brasileiras. Este fato tem preocupado muito os gestores de saúde,
principalmente os que não esqueceram o pesadelo do colapso do sistema, ocorrido
na vigência da segunda onda da Covid-19.
No meio de tanto ataque viral, existem, ainda, aqueles que são
aquinhoados com as duas viroses simultaneamente, popularmente batizada de
“Flurona”, onde “flu” se refere ao vírus da gripe e “rona” ao coronavírus.
Segundo editorial, recentemente publicado no periódico JAMA (doi:10.1001/jama.2021.23726),
a evolução e a epidemiologia do SARS-CoV-2
não foram previsíveis, portanto, é importante estar preparado para responder,
com vacinas e doses de reforço, conforme necessário, bem como com estratégias
de mitigação não vacinais, para ajudar a reduzir a transmissão do vírus, e a
morbimortalidade por Covid-19.
Estranhamente, muitos incentivam, negativamente, a implementação
das referidas condutas, em defesa da “liberdade individual”, mesmo sabendo que
tais práticas podem comprometer a saúde coletiva. Finalizo, citando o ínclito
Ruy Barbosa: “A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é,
sobretudo, o maior elemento de estabilidade das instituições”.
*Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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