Antônio Carlos Sobral Sousa*
Rebeca Rocha de Almeida**
A obesidade
é uma condição de difícil controle, caracterizada pelo excesso de tecido
adiposo, criando quadro inflamatório sistêmico associado ao aumento de fatores
de risco cardiovasculares, como a Diabetes Mellitus (DM2) e a Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS), responsáveis pelo desenvolvimento de doenças crônicas
não transmissíveis, como as doenças isquêmicas do coração, do cérebro, dos rins
e dos membros inferiores.
Este
processo decorre da interação de condições ambientais e
psicológicas como o sedentarismo, o estresse e o aumento no consumo de
alimentos processados e ultra processados, associados a fatores metabólicos e
genéticos, responsáveis pelo balanço energético positivo e pela constituição de
um ambiente “obesogênico”.
Segundo relato da Organização Mundial da Saúde (2020), a
obesidade triplicou em todo o mundo desde 1975, passando a ser
considerada uma das principais pandemias do século XXI. No Brasil, dados
obtidos pelo sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) em 2019, revelaram que a frequência de adultos obesos foi de
20,3%, taxa semelhante entre homens e mulheres, sendo a frequência de obesidade
superior na faixa etária de 45 a 54 anos, em ambos os sexos.
Nesse
aspecto, Aracaju ocupou a 10ª posição entre as capitais brasileiras com maior
percentual de pessoas obesas (20,6%), ficando, ainda, no incômodo 6º lugar, com
uma taxa de 22%, na população feminina. A Pandemia da Covid-19, seguramente,
deve ter agravado este cenário já que tem sido relatado aumento ponderal em
vários seguimentos da nossa população.
Vale
ressaltar, ainda, que um estudo brasileiro (Nilson et
al.; doi.org/10.26633/RPSP.2020.32), revelou que os gastos com usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS), para o tratamento da obesidade e de suas doenças
associadas no ano de 2018, atingiram um quantitativo de R$ 3,45 bilhões,
equivalentes a mais de 890 milhões de dólares.
Deste montante, 59%, 30% e 11%, foram
consumidos com terapias para: a HAS, a DM2 e a obesidade, respectivamente.
Considerando, separadamente, a obesidade como fator de risco para HAS e DM2, os
custos atribuíveis a essa doença chegaram a R$ 1,42 bilhão, ou seja, 41% do
total.
O tratamento conservador de obesos
portadores de DM2, baseado na dieta hipocalórica, na prática regular de
exercício físico e na utilização de medicamentos hipoglicemiantes, está bem
estabelecido, como de primeira linha na promoção da perda de peso, na melhoria
da capacidade aeróbica, dos parâmetros cardiometabólico e da qualidade de vida.
Todavia, a baixa adesão, sobretudo entre grandes os mais obesos, tem causado
frustação desta estratégia a longo prazo, levando a recuperação do peso em,
aproximadamente, 95% dos casos.
Além
disso, alguns fármacos usados no controle da glicemia, podem fomentar o ganho
de peso. Por outro lado, a Cirurgia Bariátrica
(CB) tem despontado como alternativa terapêutica atraente para o tratamento da
obesidade grave, por proporcionar perda ponderal mais sustentável do que a
metodologia não invasiva, contribuindo para o melhor controle da DM2, da HAS e
de outros distúrbios metabólicos. Vale ressaltar, que os dependentes do SUS,
podem, também, usufruir da CB, atendendo às normas regulatórias do Ministério
da Saúde.
A Tese de Doutorado da nutricionista Rebeca
Rocha de Almeida teve como intuito avaliar a eficácia da CB, comparativamente
ao tratamento médico convencional, quanto à remissão
da DM2 e do risco cardiovascular, em cinco anos de acompanhamento, de
portadores de obesidade (IMC ≥35 kg/m²), com pré-diabetes e/ou DM2, usuários do SUS e atendidos no
Hospital Universitário de Sergipe.
O produto da investigação, aceito para publicação no periódico MDPI – Medicina (ISSN: 1648-9144) revelou superioridade, a longo prazo, do
procedimento cirúrgico, tanto em atingir os objetivos mencionados, como na melhoria
das variáveis antropométricas e na redução da quantidade de medicamentos,
utilizados tanto para o controle glicêmico como para o tratamento de
comorbidades associadas.
Como objetivos secundários da pesquisa, observou-se
que a CB promoveu redução da gravidade das comorbidades associadas à obesidade
(DM2, HAS e dislipidemia), já no 3º mês após o procedimento e os resultados
alcançados se mantiveram até o 5º ano subsequente. Estas constatações foram
publicadas, em 2021, na revista MDPI – Medicina
(doi.org/10.3390/medicina57090995).
Portanto, estes achados podem ser úteis tanto para os profissionais envolvidos
no processo de tratamento da obesidade, como para os gestores de saúde, na
adoção de medidas que visam reduzir o risco cardiovascular, principal causa de
morte da população brasileira. Finalizamos, lembrando que o importante em
emagrecer “não é o peso que se perde e sim a saúde que se ganha”.
*Professor
Titular do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Ciências
da Saúde da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas
de Medicina, de Letras e de Educação. acssousa@terra.com.br
**Nutricionista e Doutora pelo
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de
Sergipe. Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. rebeca_nut@hotmail.com
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