domingo, 3 de abril de 2022

CIRURGIA BARIÁTRICA. OPÇÃO PARA O TRATAMENTO DA OBESIDADE PELO SUS


 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

Rebeca Rocha de Almeida**

 

 

A obesidade é uma condição de difícil controle, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo, criando quadro inflamatório sistêmico associado ao aumento de fatores de risco cardiovasculares, como a Diabetes Mellitus (DM2) e a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), responsáveis pelo desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como as doenças isquêmicas do coração, do cérebro, dos rins e dos membros inferiores.

Este processo decorre da interação de condições ambientais e psicológicas como o sedentarismo, o estresse e o aumento no consumo de alimentos processados e ultra processados, associados a fatores metabólicos e genéticos, responsáveis pelo balanço energético positivo e pela constituição de um ambiente “obesogênico”.

Segundo relato da Organização Mundial da Saúde (2020), a obesidade triplicou em todo o mundo desde 1975, passando a ser considerada uma das principais pandemias do século XXI. No Brasil, dados obtidos pelo sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) em 2019, revelaram que a frequência de adultos obesos foi de 20,3%, taxa semelhante entre homens e mulheres, sendo a frequência de obesidade superior na faixa etária de 45 a 54 anos, em ambos os sexos.

Nesse aspecto, Aracaju ocupou a 10ª posição entre as capitais brasileiras com maior percentual de pessoas obesas (20,6%), ficando, ainda, no incômodo 6º lugar, com uma taxa de 22%, na população feminina. A Pandemia da Covid-19, seguramente, deve ter agravado este cenário já que tem sido relatado aumento ponderal em vários seguimentos da nossa população.

Vale ressaltar, ainda, que um estudo brasileiro (Nilson et al.; doi.org/10.26633/RPSP.2020.32), revelou que os gastos com usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), para o tratamento da obesidade e de suas doenças associadas no ano de 2018, atingiram um quantitativo de R$ 3,45 bilhões, equivalentes a mais de 890 milhões de dólares.

Deste montante, 59%, 30% e 11%, foram consumidos com terapias para: a HAS, a DM2 e a obesidade, respectivamente. Considerando, separadamente, a obesidade como fator de risco para HAS e DM2, os custos atribuíveis a essa doença chegaram a R$ 1,42 bilhão, ou seja, 41% do total.

O tratamento conservador de obesos portadores de DM2, baseado na dieta hipocalórica, na prática regular de exercício físico e na utilização de medicamentos hipoglicemiantes, está bem estabelecido, como de primeira linha na promoção da perda de peso, na melhoria da capacidade aeróbica, dos parâmetros cardiometabólico e da qualidade de vida. Todavia, a baixa adesão, sobretudo entre grandes os mais obesos, tem causado frustação desta estratégia a longo prazo, levando a recuperação do peso em, aproximadamente, 95% dos casos.

Além disso, alguns fármacos usados no controle da glicemia, podem fomentar o ganho de peso. Por outro lado, a Cirurgia Bariátrica (CB) tem despontado como alternativa terapêutica atraente para o tratamento da obesidade grave, por proporcionar perda ponderal mais sustentável do que a metodologia não invasiva, contribuindo para o melhor controle da DM2, da HAS e de outros distúrbios metabólicos. Vale ressaltar, que os dependentes do SUS, podem, também, usufruir da CB, atendendo às normas regulatórias do Ministério da Saúde.

A Tese de Doutorado da nutricionista Rebeca Rocha de Almeida teve como intuito avaliar a eficácia da CB, comparativamente ao tratamento médico convencional, quanto à remissão da DM2 e do risco cardiovascular, em cinco anos de acompanhamento, de portadores de obesidade (IMC ≥35 kg/m²), com pré-diabetes e/ou DM2, usuários do SUS e atendidos no Hospital Universitário de Sergipe.

O produto da investigação, aceito para publicação no periódico MDPIMedicina (ISSN: 1648-9144) revelou superioridade, a longo prazo, do procedimento cirúrgico, tanto em atingir os objetivos mencionados, como na melhoria das variáveis antropométricas e na redução da quantidade de medicamentos, utilizados tanto para o controle glicêmico como para o tratamento de comorbidades associadas.

Como objetivos secundários da pesquisa, observou-se que a CB promoveu redução da gravidade das comorbidades associadas à obesidade (DM2, HAS e dislipidemia), já no 3º mês após o procedimento e os resultados alcançados se mantiveram até o 5º ano subsequente. Estas constatações foram publicadas, em 2021, na revista MDPIMedicina (doi.org/10.3390/medicina57090995).

Portanto, estes achados podem ser úteis tanto para os profissionais envolvidos no processo de tratamento da obesidade, como para os gestores de saúde, na adoção de medidas que visam reduzir o risco cardiovascular, principal causa de morte da população brasileira. Finalizamos, lembrando que o importante em emagrecer “não é o peso que se perde e sim a saúde que se ganha”.

 

 

*Professor Titular do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação. acssousa@terra.com.br

 

**Nutricionista e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. rebeca_nut@hotmail.com

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