Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Estamos
chegando ao final do terceiro ano de convívio com a pandemia da Covid-19. Essa
Peste ceifou vidas preciosas de parentes e amigos, bagunçou a economia, deixou
sequelas significativas no corpo e na mente de muitos, provocou divisão na
população e cisão em amizades de infância, já que foi politizada e, dessa
forma, delinearam-se dois grupamentos: o que menosprezava o vírus, a doença e
as medidas protetoras, comprovadamente eficazes em viroses, como o uso de
máscaras, o distanciamento físico e a higienização das mãos, defendia o
esdrúxulo "tratamento precoce" da virose, baseado em drogas como a Cloroquina, a Ivermectina, a
Azitromicina, dentre outros cuja eficácia nunca foi cientificamente comprovada.
As vacinas
também foram e continuam a ser atacadas por esta facção que tem eivado as redes
sociais de Fake News, baseadas em relatos de pseudo cientistas. Por outro lado,
o outro grupo procurou acreditar e seguir as orientações dos especialistas,
embasadas nas evidências das pesquisas científicas, cuja qualidade era
analisada mediante a clarividência da Ciência.
Ou seja,
enquanto uns procuravam seguir as condutas pautadas em publicações feitas em
periódicos da qualidade do New England Journal of Medicine, outros se iludiam
com as postagens realizadas no "WhatsApp Jornal de Medicina", muitas
das quais, sem nenhuma consistência. E assim está acabando 2022...
O que
esperar para 2023? Fim da famigerada pandemia? Provavelmente, não! A desigualdade no acesso às vacinas; a hesitação vacinal
influenciada por ações de negacionistas, que usam todos os recursos disponíveis para
enaltecer efeitos indesejáveis dos imunizantes; o surgimento de variantes que,
eventualmente, escapam dos anticorpos induzidos pelas vacinas e, o evidente
relaxamento das medidas sabidamente protetoras, seguramente contribuirão para a
continuidade da virose, que, eventualmente, pode migrar de pandemia, para
endemia.
Recentemente,
Dr. Anthony Stephen Fauci, imunologista estadunidense, pesquisador e chefe do
Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos,
publicou uma interessante reflexão no New England J of Medicine (DOI:
10.1056/NEJMp2213814), sobre a sua vida acadêmica e os desafios vividos em sua
gestão à frente da prestigiada instituição, acima referida.
Segundo Dr.
Fauci, ele testemunhou o surgimento ou reaparecimento de uma série de doenças
infecciosas, com graus variáveis de impactos regional ou global. Entre elas, o
autor destaca: os primeiros casos relatados em humanos de Influenza H5N1 e
H7N9; a primeira pandemia do século 21, em 2009, causada pela Influenza H1N1;
os primeiros surtos de Ebola na África e de Zika nas Américas; a epidemia de
síndrome respiratória aguda severa (SARS), protagonizada pelo novo coronavírus,
em 2003; a epidemia de síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), em 2012,
causada por outro emergente coronavírus e, mais recentemente, a pandemia da
Covid-19 que escancarou a nossa vulnerabilidade a surtos de doenças
infecciosas.
Por outro
lado, a ciência teve participação decisiva, conforme afirmação do especialista
de que "o desenvolvimento rápido de plataformas de vacinas altamente
adaptáveis, como as de RNA mensageiro (mRNA) dentre
outras, fruto de anos de investimento em pesquisa básica e aplicada, resultou
na produção com velocidade sem precedentes, de imunizantes seguros e altamente
efetivos contra o SARS-Cov-2, que salvaram milhões de vidas".
É provável
que teremos que conviver com a inconveniente virose por algum tempo, como
também é provável o surgimento de outras em decorrência da progressiva e
desordenada expansão da sociedade, perturbando a interface homem-animal,
criando oportunidade para o aparecimento de agentes infecciosos que,
eventualmente, podem se adaptar e difundir entre humanos. Portanto, finalizo
parafraseando o icônico premier britânico Winston Churchill: não sei se estamos
no fim do começo, no meio ou no começo do fim dessa Peste.
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, Letras e Educação.
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