domingo, 1 de janeiro de 2023

AINDA NÃO ACABOU..., MAS SERÁ QUE VAI ACABAR?


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Estamos chegando ao final do terceiro ano de convívio com a pandemia da Covid-19. Essa Peste ceifou vidas preciosas de parentes e amigos, bagunçou a economia, deixou sequelas significativas no corpo e na mente de muitos, provocou divisão na população e cisão em amizades de infância, já que foi politizada e, dessa forma, delinearam-se dois grupamentos: o que menosprezava o vírus, a doença e as medidas protetoras, comprovadamente eficazes em viroses, como o uso de máscaras, o distanciamento físico e a higienização das mãos, defendia o esdrúxulo "tratamento precoce" da virose, baseado em  drogas como a Cloroquina, a Ivermectina, a Azitromicina, dentre outros cuja eficácia nunca foi cientificamente comprovada.

As vacinas também foram e continuam a ser atacadas por esta facção que tem eivado as redes sociais de Fake News, baseadas em relatos de pseudo cientistas. Por outro lado, o outro grupo procurou acreditar e seguir as orientações dos especialistas, embasadas nas evidências das pesquisas científicas, cuja qualidade era analisada mediante a clarividência da Ciência.

Ou seja, enquanto uns procuravam seguir as condutas pautadas em publicações feitas em periódicos da qualidade do New England Journal of Medicine, outros se iludiam com as postagens realizadas no "WhatsApp Jornal de Medicina", muitas das quais, sem nenhuma consistência. E assim está acabando 2022...

O que esperar para 2023? Fim da famigerada pandemia? Provavelmente, não! A desigualdade no acesso às vacinas; a hesitação vacinal influenciada por ações de negacionistas, que usam todos os recursos disponíveis para enaltecer efeitos indesejáveis dos imunizantes; o surgimento de variantes que, eventualmente, escapam dos anticorpos induzidos pelas vacinas e, o evidente relaxamento das medidas sabidamente protetoras, seguramente contribuirão para a continuidade da virose, que, eventualmente, pode migrar de pandemia, para endemia.

Recentemente, Dr. Anthony Stephen Fauci, imunologista estadunidense, pesquisador e chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos Estados Unidos, publicou uma interessante reflexão no New England J of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMp2213814), sobre a sua vida acadêmica e os desafios vividos em sua gestão à frente da prestigiada instituição, acima referida.

Segundo Dr. Fauci, ele testemunhou o surgimento ou reaparecimento de uma série de doenças infecciosas, com graus variáveis de impactos regional ou global. Entre elas, o autor destaca: os primeiros casos relatados em humanos de Influenza H5N1 e H7N9; a primeira pandemia do século 21, em 2009, causada pela Influenza H1N1; os primeiros surtos de Ebola na África e de Zika nas Américas; a epidemia de síndrome respiratória aguda severa (SARS), protagonizada pelo novo coronavírus, em 2003; a epidemia de síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), em 2012, causada por outro emergente coronavírus e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19 que escancarou a nossa vulnerabilidade a surtos de doenças infecciosas.

Por outro lado, a ciência teve participação decisiva, conforme afirmação do especialista de que "o desenvolvimento rápido de plataformas de vacinas altamente adaptáveis, como as de RNA mensageiro (mRNA) dentre outras, fruto de anos de investimento em pesquisa básica e aplicada, resultou na produção com velocidade sem precedentes, de imunizantes seguros e altamente efetivos contra o SARS-Cov-2, que salvaram milhões de vidas".

É provável que teremos que conviver com a inconveniente virose por algum tempo, como também é provável o surgimento de outras em decorrência da progressiva e desordenada expansão da sociedade, perturbando a interface homem-animal, criando oportunidade para o aparecimento de agentes infecciosos que, eventualmente, podem se adaptar e difundir entre humanos. Portanto, finalizo parafraseando o icônico premier britânico Winston Churchill: não sei se estamos no fim do começo, no meio ou no começo do fim dessa Peste.

 

* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, Letras e Educação.

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