domingo, 19 de julho de 2020

O ESTADO PRÓ-TROMBÓTICO DA COVID-19




 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

Acaba de ser publicado por Passos HD, Alves MA, Baumworcel L, Vieira JPC, Garcez JDS e Sousa, ACS, no prestigiado periódico brasileiro, Arquivos Brasileiros de Cardiologia (DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200427), um artigo enaltecendo a incidência relativamente alta de doença trombótica e tromboembólica naqueles portadores de COVID-19, provavelmente decorrente de efeitos diretos do SARS-CoV-2 ou por mecanismos indiretos da própria infecção. Interações medicamentosas com agentes antiplaquetários e anticoagulantes e a interrupção inadvertida de drogas anticoagulantes podem, também, contribuir para o estado pró-trombótico encontrado nesta patologia.

Os autores descrevem o caso de um paciente do sexo masculino de 66 anos, sem comorbidades, admitido no Hospital São Lucas de Aracaju, Sergipe, diagnosticado com infecção pelo SARS-Cov-2, que evoluiu com tromboembolismo pulmonar e sem evidência de trombose periférica.

As complicações cardiovasculares têm sido apresentadas de forma expressiva e variável na vigência da infecção pelo novo coronavírus, sendo responsáveis por até por 40% das mortes causadas pela doença. Estudos sugerem que a resposta inflamatória sistêmica exacerbada, juntamente com hipóxia possam causar disfunção endotelial e aumento da atividade pró-coagulante, contribuindo para a formação de trombos. Esse estado pró-trombótico associado à infecção sistêmica é comumente chamado de coagulopatia induzida pela sepse. Apesar de os dados disponíveis sobre risco trombótico serem limitados, a maioria dos especialistas concorda que o sinal para aumento do risco trombótico é suficiente para recomendar a profilaxia farmacológica do tromboembolismo venoso em pacientes hospitalizados com Covid-19. Tem sido recomendado, ainda, considerar anticoagulação no cenário de pacientes críticos em terapia intensiva, mesmo sem evidência clínica ou de imagem de trombose. Especial atenção deve ser dada a alterações como: hipoxemia refratária, alterações eletrocardiográficas, surgimento de taquicardia sinusal não explicada pelo quadro clínico atual e disfunção de ventrículo direito para o diagnóstico de trombose pulmonar e início da terapia anticoagulante adequada.

Em conclusão, A infecção pelo SARS-Cov-2 se apresenta com um fenótipo variável, sendo frequentes os relatos de complicações cardiovasculares e a presença de um estado pró-trombótico, por mecanismos ainda não totalmente elucidados. Deve-se, portanto, ficar atento para a eventual ocorrência de embolia pulmonar, mesmo na ausência de trombose venosa profunda demonstrada.

 

*Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.


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