Antônio Carlos Sobral Sousa*
Acaba de ser publicado por Passos HD, Alves MA, Baumworcel L, Vieira JPC, Garcez
JDS e Sousa, ACS, no prestigiado periódico brasileiro, Arquivos Brasileiros de Cardiologia
(DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20200427), um artigo enaltecendo
a incidência relativamente alta de doença trombótica e tromboembólica naqueles
portadores de COVID-19, provavelmente decorrente de efeitos diretos do
SARS-CoV-2 ou por mecanismos indiretos da própria infecção. Interações
medicamentosas com agentes antiplaquetários e anticoagulantes e a interrupção
inadvertida de drogas anticoagulantes podem, também, contribuir para o estado
pró-trombótico encontrado nesta patologia.
Os autores descrevem o
caso de um paciente do sexo masculino de 66 anos, sem comorbidades, admitido no
Hospital São Lucas de Aracaju, Sergipe, diagnosticado com infecção pelo SARS-Cov-2, que evoluiu com tromboembolismo
pulmonar e sem evidência de trombose periférica.
As
complicações cardiovasculares têm sido apresentadas de forma expressiva e variável
na vigência da infecção pelo novo coronavírus, sendo responsáveis por até por
40% das mortes causadas pela doença. Estudos sugerem que a resposta
inflamatória sistêmica exacerbada, juntamente com hipóxia possam causar
disfunção endotelial e aumento da atividade pró-coagulante, contribuindo para a
formação de trombos. Esse estado pró-trombótico associado à infecção sistêmica
é comumente chamado de coagulopatia induzida pela sepse. Apesar de os dados
disponíveis sobre risco trombótico serem limitados, a maioria dos especialistas
concorda que o sinal para aumento do risco trombótico é suficiente para
recomendar a profilaxia farmacológica do tromboembolismo venoso em pacientes
hospitalizados com Covid-19. Tem sido recomendado, ainda, considerar anticoagulação
no cenário de pacientes críticos em terapia intensiva, mesmo sem evidência
clínica ou de imagem de trombose. Especial atenção deve ser dada a alterações
como: hipoxemia refratária, alterações
eletrocardiográficas, surgimento de taquicardia sinusal não explicada pelo quadro clínico atual
e disfunção de ventrículo direito para o diagnóstico de trombose pulmonar e
início da terapia anticoagulante adequada.
Em conclusão, A infecção
pelo SARS-Cov-2 se apresenta com um
fenótipo variável, sendo frequentes os relatos de complicações cardiovasculares
e a presença de um estado pró-trombótico, por mecanismos ainda não totalmente
elucidados. Deve-se, portanto, ficar atento para a eventual ocorrência de
embolia pulmonar, mesmo na ausência de trombose venosa profunda demonstrada.
*Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro
das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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