quarta-feira, 8 de julho de 2020

OS PACIENTES INFARTADOS DESAPARECERAM DAS URGÊNCIAS





  Antônio Carlos Sobral Sousa*  Tem sido relatado em várias partes do mundo e, inclusive, no Brasil, sensível redução dos internamentos por urgências cardiovasculares, notadamente, por Síndromes Coronarianas Agudas (SCA), cujo principal representante é o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM).  Esta constatação inusitada tem intrigado a comunidade científica, porque o estado inflamatório, causado por infecções gripais, predispõe à ruptura de eventual placa aterosclerótica coronária, provocando a formação de um trombo no local e a consequente obstrução do vaso, levando ao IAM. O mais estranho é que a COVID-19 se caracteriza pela produção de intensa reação inflamatória, em, aproximadamente, 20% dos infectados.
Este fenômeno, provavelmente, decorre de uma multiplicidade de fatores. O receio de contágio no hospital, talvez tenha sido o principal responsável pelo desencorajamento ao acesso da população aos serviços de urgências. Outra hipótese postula que a maioria dos recursos de saúde foram realocados para gerenciar a pandemia, podendo induzir atitudes médicas de adiamento de casos não relacionados à virose.
Tem sido especulada, ainda, a existência de um verdadeiro declínio de eventos cardiovasculares, ao nível individual, proporcionado pelo home office, tais como: redução de exposição à poluição atmosférica e do estresse tanto no trânsito como no ambiente de trabalho; adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, com menor ingesta de sódio e de frituras, característicos do fast-food; maior tempo de sono, dentre outros. Vale ressaltar, todavia, que o confinamento domiciliar pode, também, provocar consequências contrárias. Porém, os caracteres repentinos e amplos desse fenômeno apontam para um padrão de comportamento baseado na população quando as atitudes têm consequências exponenciais.
Nesse contexto, tem sido projetada uma “onda” de eventos cardiovasculares, cessada a que ora vivenciamos, com a pandemia. Para minimizá-la, as Sociedades de Cardiologia têm emitido alerta de que “não fiquem em casa com queixas cardiovasculares”. Por outro lado, os pacientes devem ter a confiança de que os hospitais podem prestar atendimento, com segurança, das emergências cardiológicas, evitando, assim, mortes desnecessárias, adicionadas ao pedágio da COVID-19.
 *Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação


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