Antonio Carlos Sobral Sousa*
Aos
oito anos, em plena “idade da razão”, o jovem Raymundo aprendeu, rapidamente, o
conceito fundamental da filosofia existencialista sartriana, o da liberdade.
Munido de uma tosca caixa de engraxate, a fim de custear o seu divertimento,
iniciava a sua caminhada de trabalhador incansável nas estreitas ruas de
Estância, sua terra natal. Compelido a se inventar, logo passou a vender
jornais e revistas nas cidades circunvizinhas ao “Jardim de Sergipe” e,
adotando o lema de “lutar para vencer”, abraçou, definitivamente, o desafiador
e fascinante mundo dos negócios. O passo seguinte, ainda pré-adolescente, foi o
emprego de balconista nas Lojas Esperança, onde, para a perplexidade de muitos,
passou a exercer, habilmente, o dom de comerciante nato, não parando mais de
conquistar fregueses e fazer amigos!
Dotado
da inquietude dos vencedores e consciente de que são suas escolhas que
constroem a sua essência, o jovem Raymundo, na condição de caixeiro-viajante,
passa a percorrer os caminhos tortuosos e malcuidados do interior de Sergipe e
Bahia, montado no lombo de um burro, levando mercadoria para novos fregueses. A
luta extenua não o desanimava, pelo contrário, servia de incentivo para seguir
adiante. As trilhas que outrora percorreu, procurando sempre traçar um circuito
otimizado de distância entre as cidades que visitava, servia para aguçar o
raciocínio matemático necessário para o sucesso nas “trilhas” do comércio.
O
esforço, a coragem e a perseverança criaram as energias propulsoras para que
ele montasse o seu próprio negócio. O sonho se concretizou em 1953, com a
aquisição do Bar Central de Estância, constituindo, assim, em um marco de sua
vida empresarial e da economia do nosso Estado. A localização privilegiada do
estabelecimento e as suas ações inovadoras na distribuição de bebidas,
utilizando, inclusive, veículos de tração animal, fizeram-no prosperar. O
reconhecido sucesso de Raymundo, despertou, em 1960, o interesse de empresários
da “Antártica” para a formalização de uma aliança, que o tornaria representante
da marca, passando, assim, a erguer a maior distribuidora de bebidas de
Sergipe.
Em
1970, ele se transfere para Aracaju e funda a Distribuidora de Bebidas Raymundo
Juliano (DISBERJ) e, uma década após, cria o Grupo Raymundo Juliano,
diversificando os negócios, passando a atuar, também, nos ramos: atacadista,
concessionária de automóveis, iluminação, hotelaria, construções, posto de
combustível e agronegócio. No gerenciamento deste conglomerado de empresas, que
gera empregos para centenas de sergipanos, ele conta com o apoio incondicional
dos filhos Ana Suely, Cynthia e Juliano César, além dos genros, nora e netos.
Nenhum
império se constrói sozinho! Conforme relata Juliana, a sua primeira esposa
Suéle, compreensiva, teve participação decisiva na sua estruturação financeira
e na construção do seu sonho. Todavia, uma doença fatídica roubou-lhe,
prematuramente, a companheira, deixando Raymundo à deriva, apesar de contar com
o aconchego de seus familiares. Mas, como todo homem de sucesso precisa,
também, ser aquinhoado com sorte, ele encontra mais um porto-seguro, Ana Maria,
com quem se casa, passando a desfrutar da companhia na convivência cotidiana,
do estímulo em todas as dificuldades e do apoio em todas as horas.
Tive
o privilégio de ser médico de Raymundo Juliano por mais de duas décadas.
Durante este convívio foi possível testemunhar as suas qualidades morais,
espirito agregador familiar, intensa capacidade de trabalho e liderança, que
lhe fez credor da admiração do povo sergipano. No dia 21 de agosto de 2020, seu
coração silenciou, deixando o mundo terreno mais pobre de homens dignos e
contabilizando mais uma vítima para o pedágio da Covid-19.
*Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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