Antônio Carlos Sobral Sousa*
Este
adágio popular tem sido muito utilizado, atualmente, na pandemia da Covid-19.
Como todo dito popular, ele procura transmitir conhecimentos comuns sobre
situações que vivenciamos no cotidiano. Vale ressaltar, todavia, que estes
provérbios não necessariamente estão alinhados com o paradigma científico. Puro
empirismo.
Esse
cenário dantesco promovido pelo vírus SARS-CoV-2, deixando a população em pânico,
curiosamente, tem se repetido a cada cem anos. Assim, em 1720, ocorreu Grande
Peste de Marselha, matando mais de 100 mil pessoas, na cidade francesa. Em
1820, foi a vez da primeira pandemia de Cólera, em algum lugar da Ásia,
causando, também, cerca de 100.000 mortes. Já em 1920, ocorreu uma das pandemias
mais implacáveis, a Gripe Espanhola, que infectou cerca de meio bilhão de
pessoas e matou 100 milhões, tornando-se, portanto, a pandemia mais mortal da
humanidade, registrada oficialmente. A história tem nos ensinado, ainda, que a
situação de anormalidade social, causada por estes agentes infecciosos,
infelizmente, não desaparece em meses. Enquanto ela perdura, o medo de contrair
a doença leva muitas pessoas a adotarem condutas, algumas das quais, sem o
necessário lastro científico, visando à almejada proteção.
Como
a sonhada vacina, específica contra o novo coronavírus, talvez só esteja
disponível para o uso populacional no próximo ano, inúmeros medicamentos têm
sido utilizados, com a perspectiva de proteção contra a Covid-19, a exemplo da
Vitamina D, do Zinco e até do vermífugo Ivermectina, com a premissa de que “não faz mal”, mesmo sem a
comprovação de “que faz bem”! É oportuno salientar que, apesar do conceito da bioética
de primum non nocere, termo latino
que significa "primeiro, não prejudicar", na prática clínica, a
prescrição deve, sempre, ser norteada pela argumentação de eficácia e não pela
segurança. Na investigação clínica, o poder de um estudo e, consequentemente, o
tamanho amostral, é calculado para a eficácia da droga e, secundariamente, para
a segurança da mesma. Portanto, na ausência de benefício, usar o argumento da
ausência de risco, para a utilização de determinada droga, fere a racionalidade
do pensamento clínico.
Por outro lado, toda conduta
médica é passível de provocar a ocorrência de consequências não propositais,
entre as quais os efeitos colaterais da droga utilizada. De tal forma que, a
chance de um dos múltiplos e desconhecidos efeitos indesejáveis acontecer, é
maior do que o único que se espera da droga que é o de mitigar a doença ou os
seus efeitos.
Até
o momento, nenhuma droga passou pelo crivo de um estudo robusto, portanto, não
existe comprovação científica para o uso profilático de tais medicamentos. Dessa
maneira, recomenda-se a adoção de medidas preventivas, comprovadamente
eficazes, tais como: o distanciamento social, o uso de máscaras para os
deslocamentos necessários, a higiene rigorosa e constante das mãos, o
isolamento dos contaminados por 14 dias e a quarentena dos contactantes, por
igual período.
Por
fim, concluo que, mesmo nos tempos difíceis de pandemias, cabe ao paciente,
orientado por seu médico, seguir o melhor caminho, escolhido, racionalmente.
Muitas vezes, não usar medicação, constitui a melhor opção, porque, segundo o
médico e físico do século XVI, o famoso cientista suíço, Paracelso, permite
inferir que a chave para a eficácia de um medicamento está no uso de
quantidades corretas: “a diferença entre remédio e veneno está na dose
prescrita”.
À luz do filósofo.grego, Sócrates, “Só é útil o
conhecimento que nos torna melhores.”
*
Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de
Letras e de Educação.
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