Antônio Carlos Sobral Sousa*
É
nítida a euforia de muitos segmentos da população, com a queda no número de
mortes e de internações por Covid-19, em muitas localidades brasileiras. As
medidas de flexibilização, adotas por vários governantes, têm sido
interpretadas, por muitos cidadãos, como o fim da Pandemia. Nota-se a crescente
aglomeração de frequentadores de locais públicos, sem que sejam atendidas,
rigorosamente, as preconizadas regras de segurança.
Será
que o pesadelo acabou? Teria sido atingida a tão propagada imunidade coletiva?
Para os não familiarizados com esse termo epidemiológico, esse fenômeno, também
chamado de imunidade de rebanho, acontece quando muitas pessoas já estão imunes
contra uma infecção e, com isso, dificultam a ampla transmissão de um vírus. Ou
seja, a quantidade de indivíduos protegidos, contra um determinado agente
infeccioso é tão grande, que ele não consegue encontrar hospedeiros ainda suscetíveis,
causando, portanto, queda considerável de sua circulação.
Tal
imunidade pode ser conseguida tanto por meio de programas efetivos de vacinação,
como mediante a contaminação direta da população, nesta última condição,
pagando-se o preço da morbimortalidade da doença. Por obra da imunidade de
rebanho, mesmo quem não está vacinado ou que não contraiu a enfermidade, fica
protegido do patógeno causador da doença.
No
caso da Covid-19, existem divergências quanto ao patamar de infectados de uma
determinada comunidade para que isto aconteça. Inicialmente, acreditava-se que
seria algo em torno de 60% a 70% da população. Todavia, pesquisa recente indica
que seria possível alcançar uma imunidade coletiva com menos de 20% da
população infectada.
Vale
ressaltar, que a almejada vacina, específica contra o SARS-CoV-2, talvez só esteja disponível para o uso populacional no
próximo ano e que o grau de letalidade do vírus continua importante, matando, em
média, uma pessoa em cada 200 infectados. Recentemente, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) emitiu alerta, diante do aumento do número de casos da covid-19
e de internações pela doença, notadamente na Espanha, França e algumas regiões
dos Estados Unidos.
Até
o presidente Trump foi, recentemente, acometido pela virose, requerendo,
inclusive, internamento hospitalar. Embora a maioria dos serviços médicos
estejam mais preparados para o atendimento dos acometidos, adotando condutas
que realmente funcionam, baseadas em evidências científicas e não em “Eu vi
dência” (vi no WhatsApp, no Instagram etc.), o receio de novo colapso do
sistema de saúde, volta a atormentar os gestores da área. Neste sentido, é
importante que os governantes reforcem as suas ações e que a sociedade repense
as suas prioridades.
Portanto,
como o vírus é transmitido diretamente, por gotículas de saliva emitidas nas
proximidades dos olhos, nariz ou boca de uma pessoa suscetível ou,
indiretamente, mediante o contato com superfícies contaminadas, devemos focar
nas três medidas que, comprovadamente, funcionam: manter o distanciamento
social de aproximadamente 2m; higienizar, frequentemente, as mãos com água e
sabão ou, com álcool em gel, nos deslocamentos e, cobrir o nariz e a boca com
máscara. Se quiser aumentar o grau de segurança, podem ser utilizados, também,
os óculos de proteção e o face shield.
*Professor Titular da UFS e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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