Antônio Carlos Sobral Sousa*
A
obesidade é considerada uma das principais pandemias do século XXI. Trata-se de
condição clínica, caracterizada pelo excesso de tecido adiposo, criando quadro
inflamatório sistêmico, associado ao aumento do risco cardiovascular e ao desenvolvimento
de doenças crônicas não transmissíveis.
Atualmente,
fatores ambientais e fatores psicológicos, a saber, o sedentarismo, o trabalho
excessivo, o estresse e o aumento na oferta e consumo de alimentos processados
e ultraprocessados, associados a fatores metabólicos e genéticos, são
responsáveis pelo balanço energético positivo e à formação de um ambiente
“obesogênico”.
Segundo
pesquisa recente do IBGE, um em cada quatro brasileiros, acima de 18 anos de idade,
apresenta obesidade, correspondendo a 25 milhões de mulheres e 16,2 milhões de
homens. Vale ressaltar que esta pandemia tem atingido, também, crianças e
adolescentes, impactando na frequente ocorrência de doenças como a hipertensão
arterial sistêmica e a diabetes tipo 2, outrora raros nessa faixa etária.
O
tratamento conservador da obesidade, baseado na dieta hipocalórica e na prática
regular de exercício físico, está bem estabelecido na promoção de perda
significativa de peso e, consequentemente, na melhora da capacidade aeróbica,
dos parâmetros cardiometabólicos e da qualidade de vida. Todavia, a baixa
adesão, sobretudo nos grandes obesos, tem causado frustração dessa estratégia a
longo prazo, levando à recuperação do peso em, aproximadamente, 95% dos casos.
Assim,
a cirurgia bariátrica tem despontado como a melhor opção para o tratamento da
obesidade mórbida por proporcionar perda ponderal mais sustentável do que a
metodologia não invasiva. Vale observar, ainda, a significativa contribuição
desta modalidade cirúrgica, para o controle de comorbidades relacionadas à
obesidade (hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemia), além da
redução de eventos cardiovasculares fatais e não fatais.
No
Brasil, coexistem o SUS, de cobertura universal do qual dependem 150 milhões de
brasileiros e a Rede Suplementar (RS), de caráter predominantemente privado,
com 50 milhões de beneficiários. Há, aproximadamente, uma década os dependentes
do SUS, portadores de obesidade mórbida, passaram, também, a usufruir da
cirurgia bariátrica, atendendo às normas regulatórias do Ministério da Saúde.
De
acordo com a Federação Internacional de Cirurgia de Obesidade e Distúrbios
Metabólicos, nosso país ocupa o segundo lugar no mundo, onde mais se realiza
este tipo de procedimento, ficando atrás, apenas, dos Estados Unidos.
Com
o intuito de comparar as alterações dos parâmetros antropométricos,
cardiometabólicos e de atividade física, entre os usuários do SUS e da RS,
submetidos a cirurgia bariátrica, a nossa orientanda do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFS, Rebeca Rocha de Almeida, realizou a
sua Dissertação de Mestrado, cujo produto foi publicado no periódico International Journal of Environmental
Research and Public Health.
A
investigação foi aprovada pela Comitê de Ética e Pesquisa da UFS e constou de
111 voluntários, sendo 60 dependentes do SUS (Hospital Universitário da UFS) e
51, da RS (Hospitais São Lucas / Rede D’Or e Primavera), operados por uma mesma
equipe cirúrgica, que atua nas três instituições. Foi constatado que 72% da
amostra era composta por mulheres e, no momento da admissão ao serviço de
cirurgia bariátrica, os pacientes do SUS eram mais idosos, mais obesos e
exibiam perfil cardiometabólico (diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial)
mais desfavorável comparativamente aos atendidos pela RS. Verificou-se, também,
que a média do tempo de espera, para a realização do procedimento, foi
demasiadamente maior no SUS (17 meses) do que na RS (2 meses). Durante esse
período pré-cirúrgico, não se verificou nenhuma melhoria das comorbidades
associadas à obesidade nos pacientes do SUS, todavia, àqueles beneficiários da
RS, apresentaram melhor controle da hipertensão arterial.
Por
outro lado, a constatação mais importante foi de que, a longo prazo (um ano), a
cirurgia bariátrica produziu benefícios similares nos dois grupos que
apresentaram redução significativa do índice de massa corporal e melhora tanto
dos parâmetros cardiometabólicos como dos parâmetros ao nível de atividade
física.
As
autoridades de saúde têm alertado para o aumento, crescente, da obesidade,
propiciada pela pandemia da Covid-19, provavelmente decorrente da inatividade
física e do maior consumo calórico alimentar e pela ingestão de bebidas
alcoólicas, impostos pelo confinamento domiciliar.
Portanto,
vale o alerta de que se deve adotar
hábitos alimentares saudáveis, ingerir, pelo menos, dois litros de água por dia
e praticar exercícios físicos regulares para prevenir ou tratar a obesidade,
sem a necessidade de ter que recorrer, eventualmente, à cirurgia bariátrica.
* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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