Ester
Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento*
Partindo de Salvador,
em 1871, missionários presbiterianos norte-americanos organizaram igrejas e
escolas não só no interior da Bahia, mas em Sergipe, Mato Grosso, Goiás e norte
de Minas Gerais. Pela grande extensão territorial, a Missão Central do Brasil
dividiu a Bahia em três regiões: Salvador, Feira de Santana e Norte da Bahia.
Os relatórios
dos missionários enviados à Junta de Nova Iorque indicavam os primeiros
trabalhos evangelísticos e educacionais desenvolvidos nas cidades de Salvador e
de Cachoeira, informando que nesta última funcionava uma escola secundária com
internatos feminino e masculino.
Em 1898, A Junta
designou William Alfred Waddell superintendente das escolas da Missão Central,
o qual propôs um novo tipo de instituição educacional, distinta do tipo Escola
Americana de São Paulo, o Mackenzie College, mais compatível à realidade do hinterland
brasileiro: uma escola secundária rural formadora de professores e de
pastores no Brasil.
Na verdade, ele
inspirou-se num modelo semelhante idealizado e concretizado por um colega seu,
John Beatty Howell, que, em 1887, na cidade paulista de Jaú, adquiriu uma
propriedade e organizou um instituto bíblico e colégio agrícola.
Em 29 de janeiro
de 1906, Waddell fundou e dirigiu a Escola Americana de Ponte Nova, localizada
entre Wagner e Lençóis. Até 1938, a Missão investira na construção de um
complexo educacional em Wagner. O Relatório de Verificação das Instalações do
Instituto Ponte Nova, realizado pela Comissão de Fiscais da Secretaria de
Educação da Bahia, naquele ano, descreveu minuciosamente o Instituto Ponte
Nova: o sobrado, destinado à residência do diretor e internato masculino; três
pavilhões de salas de aula, dispostos em formato de U, com biblioteca,
laboratório de física e química; um sobrado em estilo vitoriano, construído no
ponto mais alto da fazenda, destinado à residência das alunas internas e das
professoras do estabelecimento; além de uma praça de esportes.
Durante cem anos
– 1871 a 1971 – os missionários vinculados à Missão Central do Brasil, partindo
da Bahia, organizaram igrejas, escolas e hospitais em sua área de jurisdição. O
Instituto Ponte Nova, instituição de ensino secundário rural, ofereceu durante
décadas não só os cursos normal e preparatório de pastores, mas também auxiliar
de enfermagem e técnico agrícola.
Após a saída da
Missão, o IPN, como ficou conhecido, foi nacionalizado e integrado à Rede
Pública Estadual da Bahia. Os cursos de técnico agrícola e de auxiliar de
enfermagem foram oferecidos até 1999.
O sucesso
daquele modelo institucional organizado por Waddell em Wagner levou a Missão a
implementar, em 1923, um projeto denominado Escolas Ponte Nova. Em 1926,
existiam escolas rurais em Buriti e Cáceres (Chapada dos Guimarães, Mato
Grosso); Jataí e Planaltina (Chapada dos Veadeiros, Goiás).
Nesta última
cidade, foi construído um hospital. Em Rio Verde, Goiás, foram organizados pelo
Dr. Donald Gordon, uma escola de enfermagem e um hospital. As atas ainda falam
de um hospital em Araguaia, Mato Grosso, e de um hospital e escola em Anápolis,
Goiás, estes dois últimos construídos pelo Dr. James Fanstone.
No período de
atuação, a Missão Central do Brasil contou com toda a infra-estrutura
necessária para implementar seus projetos. Possuía fazendas, gado, água
potável, energia elétrica, tipografia, telefone, avião, veículos e serrarias
(nas quais eram feitos os móveis de suas instituições).
Em Bom Jesus da
Lapa havia uma fazenda com clínica, templo e escola primária, à margem do rio
São Francisco, com barco motorizado. Desde a década de 1940, o avião Arauto do
Rei ligava Wagner ao Sítio do Mato, Santa Maria, Cocos, Carinhanha (próximo a
Minas Gerais) e vários outros pontos, geralmente transportando os alunos
internos e os missionários. Além de Wagner, a Missão tinha bases em Salvador e
Rio Verde, com um hangar e tambores para depósito de gasolina. Além de George
Glass, a Missão contou com os pilotos-evangelistas Rodger Perkins, Bill Elton,
Grady, Buyers, Trew, Reasoner e, Moore.
O trabalho institucional realizado
pela Missão Central do Brasil no hinterland brasileiro ainda é pouco
conhecido pela historiografia educacional brasileira, tornando-se revelador das
disputas e tensões entre grupos que tinham projetos distintos. Pode-se inferir
que o fato daquela organização ser presbiteriana numa região que estivera sob a
ação católica durante séculos, provocou reações adversas por aqueles que não
viam com bons olhos a presença de outro grupo religioso.
A Missão Central do Brasil não
deixou somente indícios ou pistas, mas ações concretas na formação de homens
concretos, na moldagem das almas. Há muito a pesquisar a respeito das igrejas,
escolas e hospitais organizadas pela Missão Central do Brasil, a maioria ainda
funcionando.
Mesmo não sendo possível fazer
aqueles sujeitos falarem, poder-se-á falar das realidades de sua época, de suas
prováveis intenções e ações. Necessário se faz investigar a formação de várias
gerações de professores, pastores, enfermeiros, e técnicos agrícolas que
serviram de propagadores daquele padrão cultural norte-americano - o presbiteriano.
* Professora do Programa de Pós-Graduação em
Educação/GPHPE/Universidade Tiradentes; Bolsista de Produtividade de Pesquisa
em Educação pelo CNPq; Membro da Academia Sergipana de Educação, da Academia
Brasileira Teológica de Letras/SE, da Academia Brasileira Rotária de Letras/SE,
da Sociedade Bíblica do Brasil/SE e, do Rotary Club International/RC de
Aracaju Norte/Distrito 4391.
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