José Lima Santana*
Aí vem
2021. O início da terceira década do século XXI. O ano novo começará com as
mesmas ansiedades e angústias que marcaram 2020, em face da pandemia da
covid-19, que ainda poderá se alastrar de forma avassaladora, caso a mutação
“inglesa” do novo Coronavírus tenha força suficiente para se disseminar e tenha
letalidade igual ou superior à cepa inicial?
Não se
sabe. Caso se verifique a disseminação e a letalidade incisivas da nova cepa,
de pronto uma pergunta se faz: as vacinas ora em andamento serão eficazes
contra essa mutação? Eis, pois, um problema a ser enfrentado. Algumas vacinas
já estão sendo testadas contra a nova cepa. Aguardemos os resultados.
O ano que
se finda, 2020, começou sem que tivéssemos ideia do que poderia ocorrer.
Somente a partir de março a “luz vermelha” se acendeu de forma vigorosa.
Terrível. Fomos apanhados de surpresa. Não pudemos ou não soubemos lidar com a
situação de forma adequada, no Brasil.
Não
soubemos conviver com o novo cenário. Não tomamos, no conjunto da população, as
precauções necessárias em termos de utilização de máscaras, de higienização das
mãos, de distanciamentos etc. Por outro lado, além da falta de processos
educativos/sanitários maciços, bem elucidativos, através de todos os meios de
comunicação social, a cargo dos governos federal, estaduais e municipais, ainda
tivemos que assistir à deplorável queda de braços entre governantes.
Uma
situação insana e ridícula para um país que pretende ser democrático, não
apenas na retórica constitucional. Porém, não tem conseguido se afirmar como
tal, sobretudo, nos últimos anos, por conta dos desvarios de determinados
agentes políticos, que não se dão ao respeito de olhar para o povo e suas
necessidades prementes, mas, sim, volvendo o torto olhar para os embates
eleitorais futuros, ou seja, de 2022.
Que pena!
E que vergonha! O ano novo está batendo à nossa porta. Que venha. Mas, que
saibamos lutar contra as dificuldades que ainda enfrentaremos. E não serão
poucas. A economia destroçada. Os empregos faltantes. A renda das famílias
minguando. A saúde pública cada vez mais periclitante. A educação de crianças,
adolescentes e jovens seriamente abalada, prejudicada, com aulas on-line, às
vezes com certa qualidade, mas, em muitos casos, especialmente, na educação
pública básica, com muitas deficiências, que prejudicam sensivelmente os corpos
discentes.
As
vacinas estão por vir. Quando? Como? O Ministério da Saúde ainda titubeia.
Alguns governantes estaduais anunciam medidas à frente das medidas do
Ministério. Jogadas políticas, ou melhor, politiqueiras? Ou medidas que se
fazem necessárias, embora localizadas, à falta de uma política de vacinação
especial por parte do governo federal? Não estamos diante de uma política de
vacinação nacional comum.
Não
estamos enfrentando surtos da poliomielite ou sarampo, por exemplo. Nem da
gripe. Não se trata de uma “gripezinha”. Não! Longe disso. Enfrentamos a pior
crise sanitária das últimas décadas. A pior desde a “gripe espanhola”, que de
1918 a 1920 infectou cerca de 500 milhões de pessoas, um quarto da população
mundial de então, e matou cerca de 50 milhões de pessoas.
Diferentemente
de 1918, nós, agora, temos condições muito melhores, econômicas e tecnológicas,
de vencer a pandemia. Contudo, é preciso a conjugação de esforços de todos, dos
governos e do povo. Se os governos se digladiam, quando deveriam se unir em
favor do país e do povo, cabe a cada um de nós velar pelos cuidados que devemos
ter. Que não continuemos a afrouxar esses cuidados.
Todo ano
novo é sinal de esperança. Que não a percamos. Que continuemos a confiar em
Deus, se somos crentes n’Ele, ou, se não cremos, que façamos a nossa parte, no
mínimo. Crentes ou não, somos membros da mesma Humanidade. O mundo tornou-se,
há muito, uma aldeia global.
Que a
globalização nos possa trazer o que houver de melhor, numa socialização do que
a civilização humana tem produzido de mais salutar no chamado “mundo cultural”
ou “mundo construído”, que edificamos sobre as bases do “mundo natural”. Que a
globalização não nos traga apenas os grilhões do sistema financeiro
internacional selvagem, que faz o homem ser explorado pelo homem e que propicia
a afirmação cada vez maior das injustiças sociais.
Não
percamos a esperança. Todavia, lutemos para que ela se trone realidade
palpável. A esperança nos leva a agir; nos impele a crer; nos move no sentido
de assumir as responsabilidades que nos competem, enquanto seres sociais que
vivemos na polis. Nós vivemos e convivemos.
Nós somos
seres da polis, que agimos e interagimos, para a consecução dos nossos
objetivos, individuais e coletivos. Enfim, devemos buscar o alcance do bem
comum, que, como bem o disse Miguel Reale, “é a conjugação harmônica do bem de
cada um com o bem de todos”.
As
vacinas estão vindo. Que venham o mais rápido possível. Que as brigas
eleitoreiras de determinados governantes fiquem circunscritas a eles mesmos,
sem que o povo seja atingido. Que não nos faltem as efetivas práticas
governamentais pelas quais pagamos os nossos tributos.
Precisamos
de políticas de saúde, e não de política na saúde, como afirmou um
infectologista e professor da UFRJ. Aí vem 2021. Que venha! E que possamos e
saibamos enfrentá-lo, vencendo os novos desafios. Por fim, desejo a todos um
ANO NOVO com muitas vitórias.
*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário