Antônio
Carlos Sobral Sousa*
A
Suíça se destaca, também, pela variada produção de deliciosos queijos,
consumidos, sobretudo, nesta época de festividades. Todavia, o mais conhecido
no Brasil é o Emmental, aquele cheio de furinhos (olhadura) e massa semidura.
Seu nome deriva do local onde começou a ser fabricado, desde o Século XIII, no
vale de Emme, na região de Berna.
Vale
ressaltar que tais buracos são gerados por bactérias específicas, responsáveis
pela formação do ácido láctico. Durante esse processo, algumas delas consomem o
referido ácido, liberando dióxido de carbono, que formam bolhas dentro do
queijo, configurando, assim, a sua famosa característica.
Afinal,
qual é a relação entre uma iguaria como o queijo suíço e uma doença nefasta
como a Covid-19 que tem assolado, impiedosamente, todo o território nacional,
causando estragos na economia e ceifando vidas preciosas? Na verdade, trata-se
de uma metáfora que visa a reforçar a importância de se utilizar múltiplas
proteções para dificultar a propagação do SARS-CoV-2,
vírus altamente contagioso.
Nenhuma
camada, por si só, é 100% segura, contendo, portanto, imperfeições,
representadas pelos orifícios. Quando eles se alinham, aumenta o risco de
contaminação. Contudo, a sobreposição de várias camadas: distanciamento social;
uso adequado de máscaras; higienizar as mãos; etiqueta ao tossir ou espirrar;
evitar tocar a face; limitar o tempo em locais aglomerados; preferir locais
ventilados; mais testagem e rastreamento; isolamento e quarentena para os
infectados e contactantes, respectivamente, e apoio das autoridades de saúde,
criam uma barreira praticamente impenetrável, reduzindo, significativamente, o
risco geral da população. A vacinação, quando disponível, adicionará mais uma
camada protetora.
O
modelo do queijo suíço foi originalmente proposto pelo Professor Emérito da
Universidade de Manchester, Inglaterra, James Reason, em 1990, no livro “Erros
Humanos”. Os furos nas fatias de queijo representariam erros que se
acumulariam, levando a eventos adversos.
Todavia,
a engenhosa metáfora acima descrita, foi adaptada pelo Professor Ian Mackay, virologista da Universidade
de Queensland, em Brisbane,
Austrália. Vale ressaltar que o sucesso do modelo depende do rigor da adoção de
cada conduta, como ressalta o profissional, “Cada fatia tem orifícios ou
falhas, e esses orifícios podem mudar em número, tamanho e localização,
dependendo de como nos comportamos em resposta a cada intervenção”.
As
máscaras servem como um bom exemplo de camada. Elas reduzem o risco de o
indivíduo contaminar ou de ser contaminado, todavia a sua eficácia na proteção
se reduz ou desaparece se não cobrir, adequadamente nariz e boca, se estiver no
queixo, se não for trocada periodicamente, se não for lavada, se não for
descartada corretamente, se as mãos não forem higienizadas ao tocá-las. Cada
uma destas falhas constitui um buraco, em uma única camada.
Por
enquanto a nossa principal vacina é usar o maior número de camadas de proteção
possíveis, para evitar o alinhamento de orifícios, permitindo a passagem do
arisco vírus, comprometendo a sua saúde e a dos seus.
Finalmente,
recomendo que, nestas festas, degustemos o queijo suíço em família, sem
aglomerações, com a esperança de que, no próximo ano, possamos confraternizar,
também, com parentes e amigos.
* Prof. Titular da UFS e
Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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