sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

A COVID-19 E O QUEIJO SUIÇO

 

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A Suíça se destaca, também, pela variada produção de deliciosos queijos, consumidos, sobretudo, nesta época de festividades. Todavia, o mais conhecido no Brasil é o Emmental, aquele cheio de furinhos (olhadura) e massa semidura. Seu nome deriva do local onde começou a ser fabricado, desde o Século XIII, no vale de Emme, na região de Berna.

Vale ressaltar que tais buracos são gerados por bactérias específicas, responsáveis pela formação do ácido láctico. Durante esse processo, algumas delas consomem o referido ácido, liberando dióxido de carbono, que formam bolhas dentro do queijo, configurando, assim, a sua famosa característica.

Afinal, qual é a relação entre uma iguaria como o queijo suíço e uma doença nefasta como a Covid-19 que tem assolado, impiedosamente, todo o território nacional, causando estragos na economia e ceifando vidas preciosas? Na verdade, trata-se de uma metáfora que visa a reforçar a importância de se utilizar múltiplas proteções para dificultar a propagação do SARS-CoV-2, vírus altamente contagioso.

Nenhuma camada, por si só, é 100% segura, contendo, portanto, imperfeições, representadas pelos orifícios. Quando eles se alinham, aumenta o risco de contaminação. Contudo, a sobreposição de várias camadas: distanciamento social; uso adequado de máscaras; higienizar as mãos; etiqueta ao tossir ou espirrar; evitar tocar a face; limitar o tempo em locais aglomerados; preferir locais ventilados; mais testagem e rastreamento; isolamento e quarentena para os infectados e contactantes, respectivamente, e apoio das autoridades de saúde, criam uma barreira praticamente impenetrável, reduzindo, significativamente, o risco geral da população. A vacinação, quando disponível, adicionará mais uma camada protetora.

O modelo do queijo suíço foi originalmente proposto pelo Professor Emérito da Universidade de Manchester, Inglaterra, James Reason, em 1990, no livro “Erros Humanos”. Os furos nas fatias de queijo representariam erros que se acumulariam, levando a eventos adversos.

Todavia, a engenhosa metáfora acima descrita, foi adaptada pelo Professor Ian Mackay, virologista da Universidade de Queensland, em Brisbane, Austrália. Vale ressaltar que o sucesso do modelo depende do rigor da adoção de cada conduta, como ressalta o profissional, “Cada fatia tem orifícios ou falhas, e esses orifícios podem mudar em número, tamanho e localização, dependendo de como nos comportamos em resposta a cada intervenção”.

As máscaras servem como um bom exemplo de camada. Elas reduzem o risco de o indivíduo contaminar ou de ser contaminado, todavia a sua eficácia na proteção se reduz ou desaparece se não cobrir, adequadamente nariz e boca, se estiver no queixo, se não for trocada periodicamente, se não for lavada, se não for descartada corretamente, se as mãos não forem higienizadas ao tocá-las. Cada uma destas falhas constitui um buraco, em uma única camada.

Por enquanto a nossa principal vacina é usar o maior número de camadas de proteção possíveis, para evitar o alinhamento de orifícios, permitindo a passagem do arisco vírus, comprometendo a sua saúde e a dos seus.

Finalmente, recomendo que, nestas festas, degustemos o queijo suíço em família, sem aglomerações, com a esperança de que, no próximo ano, possamos confraternizar, também, com parentes e amigos.

 

 

* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
 

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