domingo, 20 de dezembro de 2020

QUE NATAL É ESTE?

                                              José Lima Santana

 

 

José Lima Santana*

 

 

Um ano para esquecer, esse 2020, que vai findando? Talvez sim, para muita gente. Todavia, um ano em que a humanidade teve tudo para aprender e reaprender, embora com sofrimentos. Um ano de perdas. Um ano em que a vida passou por terríveis sobressaltos. Uma pandemia é algo grave a considerar em qualquer tempo e lugar.

A pandemia vivida em 2020 se alastrou por todo o mundo. Parecia que tínhamos voltado à Idade Média com suas pestes. Ou ao início do século XX com a influenza. Agora, um vírus de altíssima letalidade e de uma profunda ligeireza na propagação. Um vírus “chinês”. Houve quem suspeitasse que o novo corona-vírus fora criado em laboratório, para a China dominar a economia mundial. Delírio. Dominar a economia mundial...

A pandemia não foi tratada como deveria ser em certos lugares. No Brasil, não foi. Deu-se uma “luta” tremenda e vergonhosa, politicamente, com diversos agentes públicos de olhos postos nas eleições de 2022. Insanos. Medíocres. Pensaram em si próprios e não no povo, que os elegeu.

Caso o SUS – Sistema Único de Saúde –, na sua tripla composição, tivesse ficado com a gestão da pandemia, não teríamos assistido aos desmantelos que vimos e ainda estamos vendo na condução de tudo que diz respeito às diretrizes, metas e ações para combatê-la. Em suma, seria possível que, hoje, estivéssemos contabilizando um número muito menor de mortes e de contaminações. Mas, alguns agentes públicos preferem o confronto e as fanfarronices. As bestialidades. A insensatez.

Até no momento em que o mundo está prestes a encontrar um refrigério, através da aplicação de vacinas contra a covid-19, por aqui as querelas políticas continuam. O senhor do Planalto contra senhores da Planície. Políticos insensatos contra cientistas responsáveis.

Os políticos insensatos ainda gozam do apoio de técnicos e, talvez, de “cientistas” politizados, ideólogos de teses jamais comprovadas cientificamente. Uma pena que “cientistas” se prestem para tanto. Aliás, não é de estranhar. Afinal, em outros momentos gravíssimos da vida humana isso também ocorreu. Como esquecer os “cientistas” que deram guarida aos terríveis experimentos nazistas, por exemplo?

Aí vem o Natal. Um Natal destroçado em face do que antes eram as comemorações natalinas, ruidosas, aglomeradas, as famílias reunidas sem medo, muitas vezes sem terem nada a ver com o sentido religioso da celebração, já que se trata de comemorar o Nascimento do Menino Jesus, como aludem os cristãos à vinda ao mundo do Emanuel, o Deus conosco, o Messias, Salvador de todos os homens. Todavia, uma festa sem par pelo mundo afora, onde quer que se encontrem cristãos.

Festa do amor, da reconciliação, da paz, da fé, da esperança, da misericórdia. Para alguns, assim é o Natal. Para outros, mera festa de cunho comercial, de comes e bebes, e nada mais. Um feriado.

Que Natal é este? Ou que Natal será este de 2020? Um arremedo de Natal? Se pensarmos em festa, é possível que sim, um arremedo. Porém, poderíamos pensar além da festa tradicional. Se o Natal é uma festa cristã, instituída para esmagar uma festa pagã romana, dedicada ao deus Saturno, que ganhou corpo e se espalhou por todo o mundo, não custa pensarmos com maior profundidade.

Embora para certas pessoas, possa soar de forma piegas, está mais do que na hora de o Natal ser pensado como o momento de reverenciar Jesus Cristo, já que se trata do seu Nascimento, embora, claro, numa data fictícia, mas que não tira o brilho e o mérito da dedicação que a Ele se faz.

Pensar em Jesus não olhando para a imagem d’Ele nos crucifixos, nas telas ou nas esculturas que o representam. Olhar para o Jesus que vive nas faces de todos os homens e mulheres, especialmente de quem nem sempre – ou nunca – pôde ou pode celebrar e compreender o significado do Natal. Ou sequer o pôde ou pode vivê-lo como é comum, ou seja, sob os arroubos do materialismo mercantilista, cuja figura representativa jamais foi, nem é, o Cristo, mas, sim, o Papai Noel. Nada contra o “bom velhinho”, em cuja ação muitas crianças ainda acreditam. E nisso não há mal algum.

Que Natal nós teremos, no geral? Um Natal de ansiedade pela chegada das vacinas, venham de onde vierem? Também poderá ser assim. De qualquer forma, será um Natal muito diferente. Nos memes difundidos nas redes sociais, até os perus estão dançando, alegres, porque serão muito menos consumidos. Será?

Não sei como será o Natal dos leitores. Não sei como cada um haverá de celebrar este Natal. No mínimo, o que se espera é que os cuidados contra a pandemia não sejam afrouxados, embora muita gente já os afrouxou, insensivelmente, até porque alguns agentes públicos, nos quais muitas pessoas se inspiram, ideológica e miticamente, não se dignam a dar o exemplo. Vão na contracorrente, arrastando os seus adeptos fanáticos e, igualmente, insensíveis.

Que se possa celebrar o Natal, mas, com todas as cautelas sanitárias necessárias. Que seja este o Natal da esperança. Que seja o Natal de repensar o modo de vida de cada pessoa.

Enfim, haja o que houver, celebre-se seja lá como for, daqui vão os meus votos de FELIZ NATAL!

Que JESUS seja recebido em cada coração, transformado em nova e aconchegante manjedoura. Mas, que cada pessoa possa ver no outro a face do ANIVERSARIANTE.

 

 

*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. 
 

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