sábado, 12 de dezembro de 2020

ONDA À VISTA


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Passadas as eleições quando milhares de brasileiros exerceram o direito cidadão de escolher, mediante votação livre, embora nem sempre esclarecida, os dirigentes e os legítimos representantes do povo, de inúmeras cidades brasileiras. Em várias delas, foi necessário um segundo turno, para que se conhecessem os seus prefeitos.

Será que as regras básicas de prevenção do novo coronavírus foram seguidas? Se existem dúvidas quanto ao seu cumprimento nos locais de votação, as campanhas de muitos candidatos e, sobretudo, as comemorações dos vitoriosos, nas urnas, foram eivadas de desrespeito às regras básicas de distanciamento social, higiene das mãos e uso de máscara. Este último importante acessório, quando, eventualmente, flagrado, geralmente não estava adequadamente colocado.

Vale ressaltar que, na nossa história republicana, foi a primeira vez que um processo eleitoral desta representatividade ocorreu durante uma pandemia. O mais assustador é que ainda estamos contabilizando o estrago causado pela primeira onda da Covid-19, que ainda não se dissipou totalmente, e já se visualiza, no outro lado do Atlântico e nos Estados Unidos, mais uma ameaçadora onda, provocando novo lockdown em várias cidades importantes.

Seguramente, em nosso meio, ainda não foi atingida a propagada imunidade coletiva ou de rebanho, quando, a quantidade de pessoas contaminadas e curadas, impedem a circulação de um determinado vírus, por falta de hospedeiro suscetível. Por outro lado, apesar do hercúleo esforço desprendido pela indústria farmacêutica muitas das quais, em parceria com universidades e outras instituições de saúde, poucas vacinas contra o SARS-Cov-2 conseguiram finalizar a importante fase três da pesquisa, que visa a testar a segurança e, sobretudo, a eficácia do fármaco.

Somando-se a isso, as vacinas, mesmo quando aprovadas pelos órgãos regulatórios de saúde, não estarão disponíveis, imediatamente para a população, uma vez que vai ser preciso montar uma gigantesca logística envolvendo insumos e profissionais para imunizar a população de um país com dimensões continentais, como o nosso.

Independentemente da terminologia empregada, segunda onda para uns e repique da primeira onda, para outros, tem sido registrado, em todas as regiões, aumento significativo no número de infectados e de internamento hospitalares, sobretudo em unidades de terapias intensivas.

Essa constatação é preocupante, face às desativações, tanto dos hospitais de campanha, como dos esquemas de enfrentamento da virose, da maioria das instituições hospitalares públicas e privadas. Portanto, como a maioria dos hospitais já registra aumento, consistente, dos internamentos pelas patologias habituais além da demanda reprimida de procedimentos cirúrgicos eletivos, uma nova inundação trarão consequências desastrosas ao já nefasto cenário da Covid-19, em nosso País.

A aproximação do ano novo, traz a esperança de que as vacinas nos permitam voltar ao “velho normal”, todavia, traz, também, o temor das aglomerações nas várias comemorações que, certamente, acontecerão, apesar dos inúmeros alertas desencorajadores das autoridades de saúde.

Finalizo, ressaltando que, não infringir as regras básicas de segurança, constitui dever de todos.

 

 

* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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