domingo, 10 de janeiro de 2021

DESRESPEITO


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

O Ano Novo chegou, trazendo para a humanidade a esperança de dias melhores. Afinal, algumas vacinas com propostas promissoras já passaram pelo crivo das rigorosas agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa e começaram a ser administradas, sobretudo, de forma emergencial, em mais de 40 países, inclusive da América Latina.

Como já é de conhecimento geral, a maneira mais segura de conter a circulação de um vírus acontece quando se atinge a imunidade coletiva ou de rebanho, quando um percentual significativo da população está imunizado. A maneira mais rápida e eficaz para se atingir a este objetivo é mediante a vacinação em massa da população.

Pelo que se tem conhecimento, até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, ainda não autorizou a vacinação contra o poderoso SARS-Cov-2, que não para de se propagar em todas as regiões do país, deixando pacientes e familiares angustiados com a forma agressiva, que compromete os órgãos nobres daqueles que evoluem desfavoravelmente, afirmando, assim, a gravidade da Covid-19.

Não bastasse esse descaso, ainda não temos uma estratégia transparente para a imunização da nossa gigantesca população, muito menos estão disponibilizados os insumos necessários para tal. Para complicar mais a caótica situação, algumas vacinas disponíveis requerem mais de uma dose, implicando na quantidade dobrada de seringas e agulhas, bem como um número considerável de profissionais para executar a referida missão. 

Como era esperado, foram registradas, em todas as regiões do país, comemorações alusivas ao Natal e à virada do ano, eivadas de desrespeito às regras básicas de distanciamento social, de higiene das mãos e de uso de máscara. Este último importante acessório, quando, eventualmente, flagrado, geralmente adornava o queixo ou a testa do descuidado usuário.

Como analogia, seria o caso do motorista que, na tentativa de enganar o guarda de trânsito, trespassa pelo ombro e tórax o cinto de segurança, mas não fixa a extremidade no local adequado. Muitas festas só foram interrompidas mediante ação policial e foi possível ouvir, em reportagem veiculada pela televisão, o deboche que alguns participantes faziam da Pandemia.

O mais assustador é que já foi detectado, em nosso meio, cepa do Coronavírus semelhante à que foi registrada, recentemente, no Reino Unido, com uma capacidade de transmissão maior do que a anterior. Isto porque a mutação sofrida por este nefasto agente infeccioso o tornou mais eficiente no processo de invasão das células do hospedeiro. Portanto, a segunda onda, que ora vivenciamos, pode ser mais “sufocante” do que a primeira onda.

Conforme já ressaltado, o evidente aumento do número de infectados, demandando internamentos hospitalares, sobretudo em unidades de terapias intensivas, UTIs, acontece em uma época desfavorável face às desativações, tanto dos hospitais de campanha, como dos esquemas de enfrentamento da virose, da maioria das instituições hospitalares públicas e privadas.

Além disso, muitos profissionais de saúde programam as férias para essa época do ano, deixando as escalas de plantão no limite, sobretudo, quando se considera a possibilidade de infecção dos seus integrantes, como foi verificado no decurso da primeira onda!

Finalizo, ressaltando que o cidadão precisa se respeitar para poder exigir de seus dirigentes o merecido respeito. Não são somente os governos que têm que agir, também as comunidades para que a dor e o sofrimento sejam minimizados. “É parte da cura o desejo de ser curado” (Sêneca).

 

 

* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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