Antônio
Carlos Sobral Sousa*
O
Ano Novo chegou, trazendo para a humanidade a esperança de dias melhores.
Afinal, algumas vacinas com propostas promissoras já passaram pelo crivo das
rigorosas agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa e começaram a ser
administradas, sobretudo, de forma emergencial, em mais de 40 países, inclusive
da América Latina.
Como
já é de conhecimento geral, a maneira mais segura de conter a circulação de um
vírus acontece quando se atinge a imunidade coletiva ou de rebanho, quando um
percentual significativo da população está imunizado. A maneira mais rápida e
eficaz para se atingir a este objetivo é mediante a vacinação em massa da
população.
Pelo
que se tem conhecimento, até o momento, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, ANVISA, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, ainda não autorizou
a vacinação contra o poderoso SARS-Cov-2,
que não para de se propagar em todas as regiões do país, deixando pacientes e
familiares angustiados com a forma agressiva, que compromete os órgãos nobres
daqueles que evoluem desfavoravelmente, afirmando, assim, a gravidade da
Covid-19.
Não
bastasse esse descaso, ainda não temos uma estratégia transparente para a
imunização da nossa gigantesca população, muito menos estão disponibilizados os
insumos necessários para tal. Para complicar mais a caótica situação, algumas
vacinas disponíveis requerem mais de uma dose, implicando na quantidade dobrada
de seringas e agulhas, bem como um número considerável de profissionais para
executar a referida missão.
Como
era esperado, foram registradas, em todas as regiões do país, comemorações
alusivas ao Natal e à virada do ano, eivadas de desrespeito às regras básicas
de distanciamento social, de higiene das mãos e de uso de máscara. Este último
importante acessório, quando, eventualmente, flagrado, geralmente adornava o
queixo ou a testa do descuidado usuário.
Como
analogia, seria o caso do motorista que, na tentativa de enganar o guarda de
trânsito, trespassa pelo ombro e tórax o cinto de segurança, mas não fixa a
extremidade no local adequado. Muitas festas só foram interrompidas mediante
ação policial e foi possível ouvir, em reportagem veiculada pela televisão, o
deboche que alguns participantes faziam da Pandemia.
O
mais assustador é que já foi detectado, em nosso meio, cepa do Coronavírus
semelhante à que foi registrada, recentemente, no Reino Unido, com uma
capacidade de transmissão maior do que a anterior. Isto porque a mutação
sofrida por este nefasto agente infeccioso o tornou mais eficiente no processo
de invasão das células do hospedeiro. Portanto, a segunda onda, que ora
vivenciamos, pode ser mais “sufocante” do que a primeira onda.
Conforme
já ressaltado, o evidente aumento do número de infectados, demandando
internamentos hospitalares, sobretudo em unidades de terapias intensivas, UTIs,
acontece em uma época desfavorável face às desativações, tanto dos hospitais de
campanha, como dos esquemas de enfrentamento da virose, da maioria das
instituições hospitalares públicas e privadas.
Além
disso, muitos profissionais de saúde programam as férias para essa época do
ano, deixando as escalas de plantão no limite, sobretudo, quando se considera a
possibilidade de infecção dos seus integrantes, como foi verificado no decurso
da primeira onda!
Finalizo,
ressaltando que o cidadão precisa se respeitar para poder exigir de seus
dirigentes o merecido respeito. Não são somente os governos que têm que agir,
também as comunidades para que a dor e o sofrimento sejam minimizados. “É parte
da cura o desejo de ser curado” (Sêneca).
* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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