sábado, 30 de janeiro de 2021

ENFIM, A VACINA CHEGOU


  

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

Finalmente, após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi iniciada, em todos os estados brasileiros, a tão esperada vacinação contra a Covid-19. Todavia, o quantitativo de imunizantes disponibilizados nesta 1ª etapa, tanto da CoronaVac (Sinovac/Butantan) como da Covishield (Serum Institute of India/AstraZeneca/Oxford/Fiocruz) irão beneficiar menos de 5% da nossa gigantesca população.

Considerando as dificuldades na importação de insumos para a fabricação de mais vacinas e o surgimento de cepas do SARS-Cov-2, mais eficazes em sua transmissão, como a recém-detectada no Amazonas, os especialistas têm projetado um cenário preocupante para os próximos meses.

Não bastasse isso, logo entraram em cena, envenenando as redes sociais, aqueles que torcem para o insucesso da vacina porque apostam na terapia precoce, sem nenhuma comprovação científica, à base de anticoagulantes, Azitromicina, Cloroquina e Ivermectina. Este último produto tem sido utilizado, abusivamente, até como preventivo da Covid-19.

Vale ressaltar que a contenção da circulação de um vírus, determinando o sucesso de vacinação, acontece quando se atinge a imunidade coletiva ou de rebanho, quando um percentual da população, que varia com a eficácia da vacina, está imunizado. Quando foi divulgado que o resultado da eficácia global da CoronaVac, no estudo realizado pelo Instituto Butantan, foi pouco mais de 50%, os negacionistas de plantão, que politizaram a doença, não perderam tempo na tentativa de influenciar a população de que o resultado era frustrante, já que as pesquisas dos produtos da Pfizer/BioNTech e da Moderna exibiram eficácia de 95%. Baseado no viés cognitivo do fenômeno da ancoragem, muito utilizado em economia comportamental, quando a primeira informação ancora a percepção daquelas subsequentes. Então, ficaria a impressão de que a vacina chinesa só reduziria a probabilidade de se contrair a doença em insignificantes 50%.

Todavia, esta interpretação deve ser feita por outro prisma, ou seja, está sendo cortada, pela metade, a chance de pegar a Covid-19, proteção semelhante à proporcionada pela vacina contra a Influenza, utilizada anualmente, como importante medida de saúde pública.

Então, se toda a população fosse vacinada com a CoronaVac, estaria sendo feita a prevenção de 50% da virose, numericamente, um efeito expressivo. Por outro lado, a logística de distribuição desta vacina é muito mais factível em nosso país, já que requer armazenamento mediante refrigeração padrão, ao contrário dos mais eficazes produtos da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que necessitam de serem acondicionadas a -70ºC (setenta graus centígrados negativos) e -20ºC (vinte graus centígrados negativos), respectivamente.

Portanto, para que a almejada imunidade coletiva seja atingida, vai ser preciso a compreensão da população da necessidade de vacinação em massa, seguindo as normas e o cronograma de prioridades estabelecidos e consciente da segurança deste ato. Por outro lado, urge que os governantes se mobilizem para enfrentar esse grande desafio, viabilizando a produção das vacinas de que dispomos e a chegada de outras, preferencialmente, mais eficazes para que sejamos exitosos na luta contra este poderoso inimigo.

A Ciência e Política não devem ser incompatíveis, cabendo aos homens de boa vontade, de ambos os interesses, procurar um denominador comum que possa dirimir as dúvidas e aparar as divergências, ficando, assim, como beneficiária toda a sociedade brasileira.

Finalizo, ressaltando que todos, mesmo os já vacinados, devem continuar mantendo as comprovadas medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos.

 

* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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