Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Finalmente,
após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi
iniciada, em todos os estados brasileiros, a tão esperada vacinação contra a
Covid-19. Todavia, o quantitativo de imunizantes disponibilizados nesta 1ª
etapa, tanto da CoronaVac (Sinovac/Butantan) como da Covishield (Serum
Institute of India/AstraZeneca/Oxford/Fiocruz) irão beneficiar menos de 5% da
nossa gigantesca população.
Considerando
as dificuldades na importação de insumos para a fabricação de mais vacinas e o
surgimento de cepas do SARS-Cov-2,
mais eficazes em sua transmissão, como a recém-detectada no Amazonas, os
especialistas têm projetado um cenário preocupante para os próximos meses.
Não
bastasse isso, logo entraram em cena, envenenando as redes sociais, aqueles que
torcem para o insucesso da vacina porque apostam na terapia precoce, sem
nenhuma comprovação científica, à base de anticoagulantes, Azitromicina,
Cloroquina e Ivermectina. Este último produto tem sido utilizado, abusivamente,
até como preventivo da Covid-19.
Vale
ressaltar que a contenção da circulação de um vírus, determinando o sucesso de
vacinação, acontece quando se atinge a imunidade coletiva ou de rebanho, quando
um percentual da população, que varia com a eficácia da vacina, está imunizado.
Quando foi divulgado que o resultado da eficácia global da CoronaVac, no estudo
realizado pelo Instituto Butantan, foi pouco mais de 50%, os negacionistas de
plantão, que politizaram a doença, não perderam tempo na tentativa de
influenciar a população de que o resultado era frustrante, já que as pesquisas
dos produtos da Pfizer/BioNTech e da Moderna exibiram eficácia de 95%. Baseado
no viés cognitivo do fenômeno da ancoragem, muito utilizado em economia
comportamental, quando a primeira informação ancora a percepção daquelas
subsequentes. Então, ficaria a impressão de que a vacina chinesa só reduziria a
probabilidade de se contrair a doença em insignificantes 50%.
Todavia,
esta interpretação deve ser feita por outro prisma, ou seja, está sendo
cortada, pela metade, a chance de pegar a Covid-19, proteção semelhante à
proporcionada pela vacina contra a Influenza, utilizada anualmente, como
importante medida de saúde pública.
Então,
se toda a população fosse vacinada com a CoronaVac, estaria sendo feita a
prevenção de 50% da virose, numericamente, um efeito expressivo. Por outro
lado, a logística de distribuição desta vacina é muito mais factível em nosso
país, já que requer armazenamento mediante refrigeração padrão, ao contrário
dos mais eficazes produtos da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que necessitam de
serem acondicionadas a -70ºC (setenta graus centígrados negativos) e -20ºC
(vinte graus centígrados negativos), respectivamente.
Portanto,
para que a almejada imunidade coletiva seja atingida, vai ser preciso a compreensão
da população da necessidade de vacinação em massa, seguindo as normas e o
cronograma de prioridades estabelecidos e consciente da segurança deste ato.
Por outro lado, urge que os governantes se mobilizem para enfrentar esse grande
desafio, viabilizando a produção das vacinas de que dispomos e a chegada de
outras, preferencialmente, mais eficazes para que sejamos exitosos na luta
contra este poderoso inimigo.
A
Ciência e Política não devem ser incompatíveis, cabendo aos homens de boa
vontade, de ambos os interesses, procurar um denominador comum que possa
dirimir as dúvidas e aparar as divergências, ficando, assim, como beneficiária
toda a sociedade brasileira.
Finalizo,
ressaltando que todos, mesmo os já vacinados, devem continuar mantendo as comprovadas
medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos.
* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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