Antônio
Carlos Sobral Sousa*
O
País foi inundado pela nefasta segunda onda da Covid-19, dizimando vidas em um crescente
sem precedentes. A variante brasileira, conhecida como P1, aliada ao moroso
programa de vacinação e, ainda, à não adesão das medidas efetivas de segurança,
por muitos, provavelmente justifiquem a situação calamitosa que vivenciamos.
A
principal certeza desta doença é a incerteza da sua evolução. Aprendemos que
existe um grupo de risco para desfecho desfavorável, composto pelos idosos e os
portadores de comorbidades. Porém, tem sido registrado, a ocorrência de casos
de indivíduos jovens, muitos dos quais atletas e sem doença aparente, que são
penalizados com internações demoradas em unidades de terapia intensiva e, até,
com desfecho letal.
Assim,
poderíamos comparar o futuro daqueles acometidos pelo referido vírus, com o de
uma loteria. Os contemplados com o bilhete um, que constitui quase 80%, vão ser
assintomáticos ou apresentarão sintomas leves, não requerendo internação
hospitalar. Sabemos que muitos desses “sortudos” não adquirem imunidade
duradoura e, ainda é incerto, se não sofrerão consequências futuras.
Já
os aquinhoados com o bilhete dois, 15% dos pacientes, geralmente exibem
manifestações moderadas, com sinais clínicos de pneumonia, mas com saturação de
oxigênio (O2), no sangue periférico, maior do que 90% em ar
ambiente, requerendo, às vezes, internação em enfermaria e suplementação de O2,
via cateter nasal, sem, todavia, recorrer a tratamentos intensivos.
Por
outro lado, os 5% azarados, que receberam o bilhete três desta impiedosa
doença, vão passar por um verdadeiro calvário, necessitando de UTI, muitas
vezes de intubação endotraqueal, podendo apresentar as formas críticas, com
falência respiratória, choque cardiovascular e insuficiência renal e/ou
hepática agudas, algumas vezes, irreversível.
Fica
patente que o mais sensato é evitar, de todas as formas, a traiçoeira loteria
da Covid-19, porque, por mais sadio que seja o jogador, como em todo jogo de
azar, a sorte pode não estar ao seu lado. Ressalte-se, ainda, que, até o
momento, não existe comprovação científica de tratamento precoce para esta
mazela, embora insensatamente defendido por alguns.
Só
nos resta continuar insistindo com as eficazes medidas de distanciamento
social, uso de máscaras e higiene das mãos enquanto aguardamos que o vírus
deixe de circular, quando a maioria da população for, efetivamente, vacinada.
* Prof. Titular da UFS e Membro das Academias
Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação - @prof.dr.sousa
Nenhum comentário:
Postar um comentário