Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Apesar
de a Covid-19 continuar avançando, impiedosamente, Brasil a fora, agora com cepas
mais transmissíveis, muitos, ainda, continuam menosprezando o seu potencial e
violam, escancaradamente, as normas de segurança, fazendo com que o vírus
continue circulando.
Na
primeira semana de dezembro passado, nosso irmão mais novo, Ricardo, passou a
apresentar os sintomas da temível doença: coriza, perda do olfato e paladar,
mialgia sem dispneia. Ao final da primeira semana, evoluiu para a fase
inflamatória da virose, com acometimento pulmonar, inicialmente < de 25% e,
decorridos três dias, aproximadamente 40% do órgão já estava tomado pela
enfermidade, sendo necessário internamento hospitalar, troca do antibiótico,
iniciado corticoterapia e fisioterapia respiratória.
A
despeito dessas condutas, continuava apresentando febre e queda da saturação de
oxigênio. Uma nova tomografia, realizada no dia 18 de dezembro, evidenciava
comprometimento de aproximadamente 70% dos pulmões, necessitando, portanto, de
transferência para a UTI, ensejando um panorama dramático no qual o pensamento
se emaranha.
Lá,
apesar de assessorado por uma equipe multidisciplinar invejável, continuou
piorando do quadro clínico, aumentando, geometricamente, a minha angústia e a
de nossa família e a de amigos. Na véspera do Natal, pela manhã, foi tomada a
decisão, com a participação lúcida e corajosa, do próprio Ricardo, de proceder
à intubação endotraqueal para o necessário suporte ventilatório mecânico.
Por
pertencer ao grupo de risco desta impiedosa mazela, fiquei privado do contato
próximo ao meu irmão, revivendo o pesadelo que passara com o internamento da
minha querida filha, Nathália. Portanto, mais uma vez, precisei de mãos que,
para mim, se estenderam.
Assim,
uma legião de profissionais vocacionados, competentes, humanos e extremamente
dedicados, composta pelos esculápios, Almiro, Roberta, José Augusto, Thiago,
Jerônimo, Liana, Márcia, Alcides, dentre outros, assessorados por enfermeiros,
fisioterapeutas, nutricionistas e técnicos de diversas áreas assumiram a linha
de frente do tratamento intensivo.
Na
retaguarda, pude desfrutar do apoio, incondicional de experientes colegas, como
Gilson Feitosa, Bosco Rocha, Ângela Silva e Fabrício, além dos irmãos José
Eduardo e Luís Alberto e da prima Ana Carla, também médicos. Trocávamos,
diariamente, informações sobre os exames complementares e a evolução clínica de
Ricardo.
Na
madrugada de 31 de dezembro, fui surpreendido pela dramática notícia de que ele
havia sofrido uma parada cardíaca de seis minutos. Após alguns minutos de
pânico, imaginando que o pior teria acontecido ou, que, caso sobrevivesse,
poderia ficar com sequelas perenes, resolvi me inteirar do acontecido e, apesar
de a equipe de plantão ter conduzido o caso de forma exemplar, acionei os
“anjos da guarda” que responderam, prontamente. Ao se inteirar do acontecido,
Prof. Gilson Feitosa se manifestou, com uma frase, que até hoje reverbera em
minha mente inquieta: “Nas mãos de Deus”!
Os
dias que se seguiram, continuaram turbulentos, propiciados por esta enigmática
e avassaladora doença sistêmica, que não poupa órgãos, em sua trajetória.
Todavia, os competentes profissionais de saúde conseguiram, com maestria e
comedimento, ajudar Ricardo a ser desospitalizado quase 60 dias após o seu
internamento.
Nesta
empreitada, além do espírito guerreiro, herdado do nosso pai, José Carlos, ele
contou, também, com os incentivos, incansáveis da sua esposa, Sônia, e de uma
imensurável corrente de orações e de pensamentos positivos.
Passada
esta verdadeira via crucis, com ele
de volta ao trabalho e já dando chutes em bola, não tenho dúvida de que o seu
desfecho favorável, deveu-se às “mãos de Deus”!
* Professor Titular da UFS e
Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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