José Fernandes de Lima*
De tanto ouvir falar que
determinadas autoridades estão mentindo, fui buscar informações sobre o tema e
encontrei algumas curiosidades que arrisco dividir com os colegas leitores.
Há quem diga que a mentira é uma
afirmação falsa, dita por alguém que sabe que ela é falsa. Se adotarmos esta
definição, podemos concluir que a mentira requer uma intenção. Seremos levados
diferenciar a transmissão de informação falsa sem a devida consciência daquela
produzida e espalhada pelo próprio indivíduo.
A mentira por si só é complexa e
pode ser analisada sob vários aspectos. Pode ser vista como boa ou não, a
depender dos valores éticos adotados. Há pessoas que são tolerantes com a
mentira e outras que não a admitem.
A tolerância com a mentira depende
da cultura, depende do lugar e da época. Em geral, dentre as mentiras mais toleráveis
estão as desculpas para evitar um encontro, aquelas destinadas a justificar o
atraso, as afirmações positivas sobre o estado de saúde e as opiniões
insinceras para evitar constrangimentos. É até mais comum do que deveria ser as
pessoas chegarem atrasadas a um evento e colocarem a culpa no trânsito, ou
ligarem dizendo que já estão chegando, quando estão apenas saindo de casa.
Um fator que pesa muito para
aceitação ou não de uma mentira é o fato de o indivíduo conhecer ou não o
assunto, ter ou não ter a intenção de enganar, acreditar ou não no que diz.
Um exemplo no qual foram abordados
esses atenuantes foi o caso do ex-presidente Bill Clinton. Ele foi apanhado
praticando um ato sexual tido como inadequado para aquele recinto e, quando
indagado, negou. Quando foi processado por mentir, ele disse que não havia
mentido, que no seu entendimento aquilo não era sexo, era outra coisa e só por
isso ele havia negado. Escapou ileso.
Nos processos penais, a mentira do
réu, durante um interrogatório, é aceitável. Por outro lado, a testemunha não
pode mentir, em nenhuma hipótese.
As pessoas mentem por diversos
motivos. Mentem para fugir do castigo, mentem para acusar os outros, para tirar
vantagens, para zombar dos outros, para fazer piadas, para se vangloriar. A
mentira utilizada com o intuito de se vangloriar é a alma do INSTAGRAM. Essa
parece ser, também, a motivação daqueles que mentem sobre seus currículos.
Alguns especialistas afirmam que as
crianças começam a mentir aos dois anos de idade. Outros dizem que elas começam
a mentir ainda na barriga da mãe. Uns citam o choro falso que as crianças
emitem aos seis meses de idade como sendo um exemplo de mentira.
Quando procuram transmitir valores
para suas crianças, as famílias e as escolas ensinam que a mentira é ruim e
deve ser evitada. Muitos aprendem a lição e a levam para a maturidade. Outros
absorvem tais ensinamentos sem muito entusiasmo.
A capacidade de detectar a mentira
é um aspecto que merece ser estudado. As crianças pequenas não sabem detectar
as mentiras. Elas só aprendem quando vão crescendo.
Há indivíduos que, mesmo depois de
adulto, não desenvolveram a capacidade de detectar mentiras. Esses são alvos
fáceis dos mentirosos.
No âmbito policial, existem
especialistas em detecção de mentiras. Eles analisam os gestos do indivíduo e
descobrem se ele está mentindo ou não. A polícia usa também instrumentos
eletrônicos chamados detectores de mentira.
No livro As aventuras de Pinóquio,
o escritor Carlo Collodi apresenta um detector de mentiras altamente eficiente.
Trata-se do nariz do boneco Pinóquio que cresce, toda vez que ele conta uma
mentira. O boneco construído pelo carpinteiro Gepetto não consegue esconder
seus deslizes e mentiras porque o seu nariz o denuncia de forma explicita.
A tolerância com a mentira parece
ter crescido nos últimos tempos. Essa
tolerância pode ser notada pelas próprias palavras que são adotadas. No âmbito
do parlamento, por exemplo, ao invés de dizer mentira, os parlamentares
passaram a usar a palavra inverdade e ao invés de dizer Vossa Excelência
mentiu, dizem Vossa Excelência faltou com a verdade. A linguagem utilizada
demonstra um abrandamento da crítica e um aumento da tolerância. Quando
batizamos a mentira com o nome bonito de fake News, podemos estar também
amenizando o tamanho do delito.
A mentira sempre existiu. Uma
novidade do momento é a facilidade com que ela está conseguindo se espalhar.
Caiu por terra aquele ditado que dizia que a mentira tem pernas curtas. Hoje,
na disputa com a verdade, a mentira está levando vantagem. Está se espalhando
com mais facilidade do que a sua oponente.
No estágio atual de desenvolvimento
das redes sociais, uma mentira que receba uma grande quantidade de likes
passa, imediatamente, a ser vista como uma verdade.
Esse último tópico requer um
aprofundamento que não cabe nesse curto espaço de papel.
* Físico, Educador, Presidente da Associação Sergipana de Ciência (ASCi) e membro da Academia Sergipana de Educação.
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