Antônio Carlos Sobral Sousa*
A redução do número de internações e de mortes por Covid-19
registradas, ultimamente, na maioria das cidades brasileiras, refletem,
seguramente, o avanço da vacinação pelo País. Estes fatos sinalizam para a dissipação
da segunda onda e trazem a esperança de que o retorno à vida pré-pandêmica pode
estar iminente.
Todavia, este sonho pode ser postergado, graças ao acesso
diferencial às vacinas e ao grande absenteísmo para a segunda dose, tornando a
imunização incompleta e às insistentes ações de negacionistas que pregam, levianamente,
a ineficácia e os efeitos colaterais das vacinas disponíveis em nosso meio.
Na
esteira de tal intelecção, não podem ser desprezados os efeitos de variantes
emergentes, como a Delta e os do não cumprimento das medidas protetoras, por
parcela significativa da população.
A
volatilidade dos imprevisíveis atributos demonstrados, até então, pelo SARS-Cov-2, merecem respeito para que
não tenhamos um inerente futuro problemático. Este ambiente de incertezas nos
faz lembrar da apocalíptica ficção científica, imortalizada no filme de Roland Emmerich, estrelado por Dennis Quaid, “O Dia Depois de Amanhã”, o qual retrata os efeitos catastróficos
do aquecimento e esfriamento global, provocados pelo desrespeito à natureza.
Seguindo esta linha de raciocínio foi recentemente publicado, no
conceituado periódico JAMA (doi:10.1001/jama.2021.11042),
um intrigante Ponto de Vista, no qual os autores descrevem quatro possíveis
cenários para a resolução da pandemia – erradicação, eliminação, coabitação e
deflagração.
Por definição, para que uma doença seja considerada erradicada, a
sua prevalência global deve ser reduzida a zero. Para isso acontecer, é
necessário que seja atingida uma imunidade de rebanho eficaz e duradoura, que
impedisse a transmissão e reinfecção da virose e, ainda, conferisse proteção
contra variantes presentes e futuras. Nenhum país conseguiu atingir esta quase
utópica situação.
A curto prazo, a eliminação (redução para zero da prevalência
regional) do novo coronavírus constitui uma meta bem mais realista, especialmente
se houver reforço após uma eficiente cobertura vacinal da população. Este status
está sendo atingido por Israel, Vietnã e Brunei, graças aos bem-sucedidos
programas de imunização utilizados e, por Nova Zelândia, onde estão sendo
cumpridas, desde o princípio da pandemia, as eficazes medidas de uso de
máscara, higienização das mãos, distanciamento físico e evitar aglomerações.
Segundo os autores, no cenário da coabitação, atingido pelos
Estados Unidos, a China e o Reino Unido, a cobertura vacinal seria suficiente
para prevenir as manifestações mais graves da doença, interromper a cadeia de
transmissão viral e combater a maioria das variantes emergentes. Todavia,
infecções podem ocorrer, principalmente entre os não vacinados, os imunodeprimidos
e os que receberam vacinas de eficácia limitada.
Por outro lado, a Índia, outras partes do Sudeste asiático e a
maior parte da América do Sul, encontram-se em estado de conflagração,
caracterizado por um nível moderado de endemicidade da Covid-19, já que grandes
segmentos da população não estão vacinados ou não completaram a imunização,
favorecendo à circulação do SARS-Cov-2
e lhe dando oportunidade de adaptação mediante o surgimento de novas variantes.
Dialogando, recentemente, com a eminente cardiologista carioca,
Profª. Gláucia Moraes, que demonstrava preocupação com o crescente número de
internações no Rio de Janeiro, onde a maioria dos casos decorrem da temível
variante Delta, oriunda da Índia.
Portanto, o final desse “jogo” depende mais das escolhas coletivas
de enfrentamento da virose do que da performance do vírus. Finalizo,
parafraseando o genial Charlie Chaplin: “Lute com determinação, abrace a vida
com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque a vida é muito bela
para ser insignificante”.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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