Antônio Carlos Sobral Sousa*
A ivermectina,
apesar da sua ampla utilização veterinária no combate a parasitas tanto na
pecuária, como em pets de estimação (notadamente cães e gatos), era pouco
conhecida, uma vez que, em humanos, é indicada, apenas, para o tratamento de
algumas verminoses, como a estrongiloidíase e certas pediculoses, como o piolho.
Todavia, bastou a demonstração de que a referida droga pode diminuir a
replicação do SARS-CoV-2 in vitro,
ou seja em laboratório de experimentação, para que ela se transformasse em um
dos produtos farmacêuticos mais populares dos últimos dois anos.
De uma
forma surpreendente, a droga passou a ser utilizada, tanto para a prevenção,
como para o tratamento da Covid-19, mesmo após os estudos clínicos,
randomizados, não terem evidenciado benefícios em nenhuma das duas modalidades
de terapêutica.
O
número de adeptos da ivermectina, utilizando as mais variadas e bizarras
posologias, cresceu a ponto de provocar, frequentemente, o seu esvaziamento das
prateleiras das farmácias, forçando os ávidos usuários a recorrerem a lojas de
produtos veterinários. Esta constatação, levou o Conselho Federal de Farmácia a
emitir alerta sobre a falta de estudos conclusivos acerca da eficácia da
referida droga no tratamento da Covid-19, bem como sobre as consequências do
uso de sua apresentação veterinária em humanos. Vale ressaltar, ainda, que os
medicamentos para uso em animais são registrados no Ministério da Agricultura,
enquanto que, os para humanos, na ANVISA.
Foi
publicado, recentemente, no conceituado periódico New England Journal of Medicine, um artigo (doi:
10.1056/NEJMc2114907), que chama a atenção para o incremento, significativo, de
notificações feitas aos centros reguladores americanos, do uso inapropriado da
ivermectina, causando efeitos adversos potencialmente graves, tais como:
confusão mental severa, ataxia (equilíbrio ou coordenação motora prejudicados),
convulsões e hipotensão, requerendo, muitas vezes, internação hospitalar. Têm
sido relatados, também, sintomas leves, como: distúrbios gastrointestinais,
tonturas, cefaleia, alterações visuais e rash cutâneo (surto temporário
de manchas ou pápulas avermelhadas, na pele). É
importante alertar, ainda, que os efeitos tóxicos da droga podem ser
potencializados pela condição clínica do paciente, com suas comorbidades e pela
eventual interação medicamentosa.
Portanto,
diante da incerteza do tratamento desta iníqua virose, devemos adotar e
disseminar as medidas preventivas, cientificamente comprovadas: vacinação em
massa, uso de máscara, higienização das mãos e optar por ambientes com
ventilação adequada. Termino, parafraseando o destacado dramaturgo germânico, Berthold
Brecht: “A ambição da Ciência não é abrir a porta do Saber Infinito, mas pôr um
limite ao Erro Infinito”.
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