Antônio Carlos Sobral Sousa*
A recém descoberta variante (B.1.1.529) do SARS-Cov-2, batizada como Ômicron pela OMS, já produziu 50 mutações
identificadas, sendo mais de 30 localizadas na proteína “Spike” (a “chave” que
o vírus usa para entrar na célula do hospedeiro). A variante tem sido
considerada preocupante, graças à sua capacidade de alastramento consideravelmente
superior às demais.
Ela já se faz presente na quase totalidade do território americano,
em muitos países europeus e em alguns estados brasileiros. Todavia a sua
letalidade não tem sido alarmante, provavelmente, pela benéfica interferência
dos programas de vacinação.
Têm sido observadas, recentemente, controvérsias quanto à
utilização de vacinas contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade,
mesmo após a sua autorização pelas agências reguladoras FDA (EUA); EMA (Europa);
ANVISA (Brasil). Após revisão rigorosa da documentação científica disponível,
os referidos órgãos emitiram pareceres favoráveis tanto para eficácia como para
segurança do imunizante, também naqueles com idade superior a cinco anos.
Todavia, enquanto a vacinação de crianças e adolescentes avança nos
Estados Unidos e na Europa, impulsionada pelas recomendações do CDC americano e
pelos equivalentes gestores de saúde europeus, o Ministério da Saúde brasileiro
ainda não decidiu incluir esta faixa etária no Programa Nacional de Imunização
(PNI).
No contexto da controvérsia, é importante diferenciar a decisão
clínica da populacional. A primeira é regida pelo raciocínio individual, quando
deve ser levada em conta a relação do risco/benefício, com base na incidência
de casos graves, na eficácia do imunizante e nos seus eventuais efeitos
colaterais potencialmente graves, como a miocardite por vacinas com tecnologia
de RNA, além do desejo do paciente e seus familiares.
Por outro lado, este pensamento é inadequado para um problema
contagioso, populacional, quando a intervenção em uma pessoa, beneficia outras,
podendo favorecer toda a comunidade. Vale ressaltar, que toda controvérsia com
relação às vacinas, sobretudo quando geradas por comunicadores de ciência,
devem ser selecionadas porque elas tendem a provocar resistência ao processo de
imunização, promovendo, portanto, grande prejuízo social.
Recentemente, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC)
americano, emitiu um interessante documento (www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/children-facts.html), intitulado “Mitos e Fatos sobre as Vacinas contra
Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, esclarecendo que as vacinas não causam
problemas de fertilidade, que os seus benefícios são superiores aos potenciais
riscos e que se constituem, na melhor maneira de proteção contra o Novo
Coronavírus.
Portanto, os gestores da saúde devem visar, sempre, o bem coletivo
e não se deixarem contaminar pelo espírito dos negacionistas que usam as
controvérsias científicas para provocar dúvida na população e prejudicar o
andamento da vacinação em detrimento da apologia ao não comprovado tratamento
precoce.
Finalizo, parafraseando a filósofa alemã Hannah Arendt: “Vivemos tempos sombrios, onde as
piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”.
*Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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