quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

VACINAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: CONTROVÉRSIA OU NEGACIONISMO?


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A recém descoberta variante (B.1.1.529) do SARS-Cov-2, batizada como Ômicron pela OMS, já produziu 50 mutações identificadas, sendo mais de 30 localizadas na proteína “Spike” (a “chave” que o vírus usa para entrar na célula do hospedeiro). A variante tem sido considerada preocupante, graças à sua capacidade de alastramento consideravelmente superior às demais.

Ela já se faz presente na quase totalidade do território americano, em muitos países europeus e em alguns estados brasileiros. Todavia a sua letalidade não tem sido alarmante, provavelmente, pela benéfica interferência dos programas de vacinação.

Têm sido observadas, recentemente, controvérsias quanto à utilização de vacinas contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade, mesmo após a sua autorização pelas agências reguladoras FDA (EUA); EMA (Europa); ANVISA (Brasil). Após revisão rigorosa da documentação científica disponível, os referidos órgãos emitiram pareceres favoráveis tanto para eficácia como para segurança do imunizante, também naqueles com idade superior a cinco anos.

Todavia, enquanto a vacinação de crianças e adolescentes avança nos Estados Unidos e na Europa, impulsionada pelas recomendações do CDC americano e pelos equivalentes gestores de saúde europeus, o Ministério da Saúde brasileiro ainda não decidiu incluir esta faixa etária no Programa Nacional de Imunização (PNI).

No contexto da controvérsia, é importante diferenciar a decisão clínica da populacional. A primeira é regida pelo raciocínio individual, quando deve ser levada em conta a relação do risco/benefício, com base na incidência de casos graves, na eficácia do imunizante e nos seus eventuais efeitos colaterais potencialmente graves, como a miocardite por vacinas com tecnologia de RNA, além do desejo do paciente e seus familiares.

Por outro lado, este pensamento é inadequado para um problema contagioso, populacional, quando a intervenção em uma pessoa, beneficia outras, podendo favorecer toda a comunidade. Vale ressaltar, que toda controvérsia com relação às vacinas, sobretudo quando geradas por comunicadores de ciência, devem ser selecionadas porque elas tendem a provocar resistência ao processo de imunização, promovendo, portanto, grande prejuízo social.

Recentemente, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano, emitiu um interessante documento (www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/children-facts.html), intitulado “Mitos e Fatos sobre as Vacinas contra Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, esclarecendo que as vacinas não causam problemas de fertilidade, que os seus benefícios são superiores aos potenciais riscos e que se constituem, na melhor maneira de proteção contra o Novo Coronavírus.

Portanto, os gestores da saúde devem visar, sempre, o bem coletivo e não se deixarem contaminar pelo espírito dos negacionistas que usam as controvérsias científicas para provocar dúvida na população e prejudicar o andamento da vacinação em detrimento da apologia ao não comprovado tratamento precoce.

Finalizo, parafraseando a filósofa alemã Hannah Arendt: “Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”.

 

 

*Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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