Antônio Carlos Sobral Sousa*
A variante Ômicron, do SARS-Cov-2, dotada de invejável capacidade
de alastramento, já produziu 50 mutações identificadas, sendo a maioria localizada
na proteína “Spike” (a “chave” para entrada do vírus no hospedeiro). Na última
semana, observou-se uma explosão de novos casos de Covid-19, em inúmeras
cidades brasileiras, favorecida, indiscutivelmente, pelas comemorações de fim
de ano. Todavia, a sua letalidade não tem sido alarmante, provavelmente, pela
benéfica interferência da vacina.
Mesmo após a autorização pela conceituada agência reguladora
brasileira, ANVISA, a vacinação contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de
idade, precisou passar por uma enquete pública pela Internet e uma audiência na
sede do Ministério da Saúde, para ser inserida no Programa Nacional de
Imunização (PNI).
Segundo os especialistas, este aparente zelo serviu, apenas, para
retardar a imunização dos integrantes da referida faixa etária, que logo
iniciarão o ano letivo de 2022. Por outro lado, a vacinação de crianças e
adolescentes avança nos Estados Unidos e na Europa, impulsionada pelas
recomendações do CDC (Centers for Disease Control and Prevention)
americano e pelos equivalentes gestores de saúde europeus.
Vale ressaltar que, estudos como o recém-publicado no prestigiado
periódico, New England Journal of
Medicine (DOI: 10.1056/NEJMoa2116298), atestam que a vacinação contra o
novo coronavírus é segura, imunogênica e eficaz, naqueles a partir de cinco
anos de idade.
No contexto da controvérsia, é importante diferenciar a decisão
clínica da populacional. A primeira é regida pelo raciocínio individual, que
leva em conta a relação do risco/benefício. Por outro lado, este pensamento é
inadequado do ponto de vista populacional, quando a intervenção em um,
beneficia outros, podendo favorecer toda a comunidade. As polêmicas com relação
às vacinas tendem a provocar resistência ao processo de imunização, promovendo,
grande prejuízo social.
Cabe aos gestores da saúde visar, sempre, o bem coletivo e não se
deixarem contaminar pelo espírito dos negacionistas que se valem de
pseudociência para provocar dúvida na população e prejudicar o andamento da
vacinação em detrimento da apologia ao não comprovado tratamento precoce.
Finalizo, citando o grande pensador sergipano, Tobias Barreto: “Quanta
ilusão!... O céu mostra-se esquivo / E surdo ao brado do universo inteiro... /
De dúvidas cruéis prisioneiro, / Tomba por terra o pensamento altivo”.
*Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
Perfeito! A vacinação da população jovem e de idosos provou sua eficiência e eficácia e se temos uma agência reguladora que aprova a vacinação para crianças, o retardo dessa se revela um descrédito ao que a Ciência já provou.
ResponderExcluir