segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ATÉ QUE ENFIM


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A variante Ômicron, do SARS-Cov-2, dotada de invejável capacidade de alastramento, já produziu 50 mutações identificadas, sendo a maioria localizada na proteína “Spike” (a “chave” para entrada do vírus no hospedeiro). Na última semana, observou-se uma explosão de novos casos de Covid-19, em inúmeras cidades brasileiras, favorecida, indiscutivelmente, pelas comemorações de fim de ano. Todavia, a sua letalidade não tem sido alarmante, provavelmente, pela benéfica interferência da vacina.

Mesmo após a autorização pela conceituada agência reguladora brasileira, ANVISA, a vacinação contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade, precisou passar por uma enquete pública pela Internet e uma audiência na sede do Ministério da Saúde, para ser inserida no Programa Nacional de Imunização (PNI).

Segundo os especialistas, este aparente zelo serviu, apenas, para retardar a imunização dos integrantes da referida faixa etária, que logo iniciarão o ano letivo de 2022. Por outro lado, a vacinação de crianças e adolescentes avança nos Estados Unidos e na Europa, impulsionada pelas recomendações do CDC (Centers for Disease Control and Prevention) americano e pelos equivalentes gestores de saúde europeus.

Vale ressaltar que, estudos como o recém-publicado no prestigiado periódico, New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMoa2116298), atestam que a vacinação contra o novo coronavírus é segura, imunogênica e eficaz, naqueles a partir de cinco anos de idade.

No contexto da controvérsia, é importante diferenciar a decisão clínica da populacional. A primeira é regida pelo raciocínio individual, que leva em conta a relação do risco/benefício. Por outro lado, este pensamento é inadequado do ponto de vista populacional, quando a intervenção em um, beneficia outros, podendo favorecer toda a comunidade. As polêmicas com relação às vacinas tendem a provocar resistência ao processo de imunização, promovendo, grande prejuízo social.

Cabe aos gestores da saúde visar, sempre, o bem coletivo e não se deixarem contaminar pelo espírito dos negacionistas que se valem de pseudociência para provocar dúvida na população e prejudicar o andamento da vacinação em detrimento da apologia ao não comprovado tratamento precoce.

Finalizo, citando o grande pensador sergipano, Tobias Barreto: “Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo / E surdo ao brado do universo inteiro... / De dúvidas cruéis prisioneiro, / Tomba por terra o pensamento altivo”.

 

*Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

Um comentário:

  1. Perfeito! A vacinação da população jovem e de idosos provou sua eficiência e eficácia e se temos uma agência reguladora que aprova a vacinação para crianças, o retardo dessa se revela um descrédito ao que a Ciência já provou.

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