José Lima Santana*
Estudei Direito na Universidade
Federal de Sergipe, entre 1977 e 1980. Naquele tempo, a duração do curso era de
quatro anos. Era pouco tempo. A minha turma se formou em 26 de dezembro de
1980. Formatura unificada, após a Missa no dia 8 daquele mês, como era a
tradição do nosso curso. Missa na igreja de São José, outra tradição do curso.
Celebrante, o padre Raimundo Cruz, que era, então, pároco em minha terra natal,
a capital de todas as galáxias, Nossa Senhora das Dores. Não sou eu que o digo.
É o universo que assim conspira.
No exame da OAB, realizado em
fevereiro de 1981, que era individualizado em cada Seccional, logrei o primeiro
lugar, recebendo, como prêmio, uma caneta com a seguinte legenda “José Lima
Santana. Oferta da OAB”. Ainda a tenho.
O curso da Faculdade de Direito de
Sergipe sempre foi respeitado, desde o seu início, na década de 1950. E assim
continuou, ao passar para a Universidade Federal de Sergipe, com a sua
fundação, em 1968.
Voltei ao curso de Direito, ao
Departamento como passou a chamar-se a velha Faculdade (aliás, nunca gostei
dessa mudança de nomenclatura), em 1996, como professor substituto de Direito
Administrativo e, no ano seguinte, como professor efetivo, após lograr êxito no
concurso para professor de Introdução do Estudo do Direito. Era um sonho: poder
ensinar onde aprendi. E ensinar para poder continuar aprendendo.
Nos últimos anos, os alunos do curso
de Direito da Universidade Federal de Sergipe têm alcançado boas colocações no
Exame da Ordem dos Advogados do Brasil, após a unificação, inclusive já tendo
obtido a primeira colocação nacional mais de uma vez. Agora, vem de alcançar o
quarto lugar, ficando atrás apenas dos alunos da Fundação Getúlio Vargas – Rio,
Universidade de São Paulo – USP e da Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG.
Isso é formidável para o nosso
pequenino Estado. É fenomenal para o nosso curso de Direito, em face dos nossos
professores e dos nossos alunos, especialmente. Quarto lugar, no geral,
terceiro lugar entre as públicas e segundo lugar entre as federais.
Primeiríssimo no Nordeste.
As dez primeiras posições no referido
exame foram ocupadas por uma instituição privada, a FGV, e nove públicas, sendo
duas estaduais, a USP e a UNESP, e as demais, ou seja, sete, federais.
Conversando com o reitor da UFS,
professor Valter Joviniano de Santana Filho, fui informado que, mais uma vez,
este ano vamos receber o Selo “OAB Recomenda”, único curso de Direito de
Sergipe a ganhar este Selo e a ganhar em todas as suas edições. Ainda vemos o
sucesso dos nossos alunos, ganhando espaço nas diversas carreiras jurídicas
pelo País afora.
Há, no Brasil, muito mais cursos de
Direito do que, por exemplo, nos Estados Unidos da América e, por consequência,
muito mais alunos estudando Direito. Uma febre. Nem sempre a preparação desses
alunos é apreciável. Deixa-se muito a desejar, nalguns casos. E, agora, com a
autorização para se ministrar Direito à distância, o que poderemos esperar?
Aguardemos.
Os cursos de Direito, de um modo
geral, precisam, por melhores que alguns possam parecer – e, deveras, o são –
melhorar cada vez mais. Nós professores precisamos nos adequar às situações
novas que o Direito precisa enfrentar, na teoria e na prática. Os discentes
também precisam mergulhar com mais afinco nos estudos, aprofundando-se na
doutrina bem concebida, em suas variadas vertentes teóricas, e procurando
ater-se cuidadosamente à jurisprudência, que, a bem da verdade, tem causado
solavancos no ordenamento jurídico pátrio. Atentar também para as mudanças
legislativas, que desfiguram ou aprimoram o sistema jurídico.
O legalismo ainda vigora nas
academias. É preciso cuidado. Não se deve descuidar da legitimidade. Nesse
sentido, e no rastro da Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale,
disse o professor Arnaldo Vasconcelos, da Universidade Federal do Ceará, onde
cursei o mestrado, que o Direito deve ser jurídico (fato, valor e norma), justo
e legítimo. Legitimidade. Eis o que, muitas vezes, nos falta.
Nestes tempos, bicudos, por assim
dizer, em que todo mundo parece querer se apresentar como jurista, até mesmo
sem nada entender de Direito, sem ter conhecimento do ordenamento jurídico e de
como ele deve funcionar, mas, também, quando vemos, por vezes, juízes e
tribunais tomarem decisões não bem compreendidas pelo mundo jurídico, será
necessário que cada Poder se atenha ao que, constitucionalmente, lhe compete.
No Brasil, ao longo dos tempos
republicanos, nem tão republicanos assim, nalguns momentos, tem-se verificado
uma queda de braço entre os Poderes. O autoritarismo gritante se faz sentir em
vários estamentos e em diversos instantes. Além do autoritarismo, vê-se aflorar
cada vez mais a chamada (permitam-me!) “porra-louquice” de alguns, em diversos
setores da vida pública brasileira.
Mas, deixando de lado as digressões,
retorno ao curso de Direito da UFS e, mais de perto, aos nossos alunos, que
continuam brilhando ao prestar o exame da OAB. Como professor, fico
entusiasmado com os resultados obtidos pelos pupilos, ao longo dos anos. Que
assim continuem. Por eles próprios, por nós professores, pela UFS, por Sergipe.
Por fim, digo aos nossos alunos:
obrigado por vocês serem como são. Estudiosos. Continuem a nos orgulhar. A
engrandecer o nosso Estado, berço do maior gênio do Direito brasileiro
oitocentista: Tobias Barreto.
*Padre, advogado,
professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, membro
da Academia Sergipana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana
de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e do Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe.
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