domingo, 20 de fevereiro de 2022

BALA PERDIDA


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Não causa mais surpresa a notícia de que algum inocente foi vítima de uma “bala perdida”. Esta expressão retrata uma ocorrência típica das grandes metrópoles, quando uma determinada pessoa é atingida por um projétil de arma de fogo, cuja procedência é desconhecida. O cineasta Guillaume Pierret explorou este tema, na produção de suspense e ação francesa Balle Perdue (Bala Perdida), estrelado por Alban Lenoir e distribuído pela Netflix, em 2020.

A variante Ômicron do SARS-Cov-2 tem protagonizado mais uma onda da virose que vem nos afligindo desde março de 2020. Ao contrário das anteriores, a referida cepa se disseminou, rapidamente, pelo território brasileiro seguindo um padrão semelhante ao apresentado na Europa e nos Estados Unidos, retratando o seu alto poder de alastramento.

A imunidade populacional adquirida por meio da vacinação e/ou por infecções prévias causada pelo novo coronavírus tem proporcionado, na maioria dos casos, manifestações leves da doença, geralmente relatadas como dor de garganta, coriza e congestão nasal. Porém, tem ocorrido muita internação por casos graves, sobretudo em idosos, naqueles não imunizados ou com o esquema vacinal incompleto, nos portadores de comorbidades e nos imunossuprimidos.

No atual tsunami de infecções pela Covid-19, é comum o relato, “não sei como contraí esta doença?”, sobretudo quando se trata de um infortunado que tem evitado aglomerações, conforme recomendado pelas autoridades sanitárias. Esta perplexidade se assemelha a uma verdadeira “bala perdida”, porque, muitas vezes, não é possível identificar quando e como a infecção ocorreu, levando-se em consideração a alta transmissibilidade da cepa dominante, o que tem resultado em grande quantidade de pessoas contaminadas, muitas das quais assintomáticas.

Vale ressaltar, ainda, que a nefasta Ômicron tem acometido mais as crianças que as variantes antecessoras. Este fato tem sido preocupante, pela possibilidade de evolução para a Síndrome Gripal Aguda Grave, podendo acarretar maior demanda por leitos hospitalares pediátricos, o que certamente deve ser evitado, uma vez que a população pediátrica (0 a 12 anos) no Brasil representa, cerca de 35.5 milhões de pequenos brasileiros, segundo dados recentes do IBGE, conforme adverte a cardiopediatra, Dra. Geodete Batista. Ainda, segundo a conceituada profissional, dispomos, somente, de cerca de 83.000 leitos hospitalares (incluindo os leitos de terapia intensiva), sendo apenas 43% destes ofertados pelo SUS.

Todos estes argumentos reforçam a importância crucial da vacinação da população em massa, incluindo as crianças, para mitigar os efeitos da Covid-19, dificultar a circulação do vírus e o surgimento de novas linhagens. As campanhas favoráveis à imunização, veiculadas pela maioria das sociedades de especialidades brasileiras, deveriam, também, ser abraçadas pelo governo federal, para o benefício de toda a comunidade.

Finalizo, citando o icônico primeiro ministro britânico, Winston Churchill: “Cidadãos saudáveis são o maior bem que um país pode ter”.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

Um comentário:

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