Antônio Carlos Sobral Sousa*
Não causa mais surpresa a notícia de que algum inocente foi vítima
de uma “bala perdida”. Esta expressão retrata uma ocorrência típica das grandes
metrópoles, quando uma determinada pessoa é atingida por um projétil de arma de
fogo, cuja procedência é desconhecida. O cineasta Guillaume Pierret explorou
este tema, na produção de suspense e ação francesa Balle Perdue (Bala Perdida), estrelado por Alban Lenoir e
distribuído pela Netflix, em 2020.
A variante Ômicron do SARS-Cov-2
tem protagonizado mais uma onda da virose que vem nos afligindo desde março de
2020. Ao contrário das anteriores, a referida cepa se disseminou, rapidamente,
pelo território brasileiro seguindo um padrão semelhante ao apresentado na
Europa e nos Estados Unidos, retratando o seu alto poder de alastramento.
A imunidade populacional adquirida por meio da vacinação e/ou por
infecções prévias causada pelo novo coronavírus tem proporcionado, na maioria
dos casos, manifestações leves da doença, geralmente relatadas como dor de
garganta, coriza e congestão nasal. Porém, tem ocorrido muita internação por
casos graves, sobretudo em idosos, naqueles não imunizados ou com o esquema
vacinal incompleto, nos portadores de comorbidades e nos imunossuprimidos.
No atual tsunami de infecções pela Covid-19, é comum o relato,
“não sei como contraí esta doença?”, sobretudo quando se trata de um
infortunado que tem evitado aglomerações, conforme recomendado pelas
autoridades sanitárias. Esta perplexidade se assemelha a uma verdadeira “bala
perdida”, porque, muitas vezes, não é possível identificar quando e como a
infecção ocorreu, levando-se em consideração a alta transmissibilidade da cepa
dominante, o que tem resultado em grande quantidade de pessoas contaminadas, muitas
das quais assintomáticas.
Vale ressaltar, ainda, que a nefasta Ômicron tem acometido mais as
crianças que as variantes antecessoras. Este fato tem sido preocupante, pela
possibilidade de evolução para a Síndrome Gripal Aguda Grave, podendo acarretar
maior demanda por leitos hospitalares pediátricos, o que certamente deve ser
evitado, uma vez que a população pediátrica (0 a 12 anos) no Brasil representa,
cerca de 35.5 milhões de pequenos brasileiros, segundo dados recentes do IBGE,
conforme adverte a cardiopediatra, Dra. Geodete Batista. Ainda, segundo a
conceituada profissional, dispomos, somente, de cerca de 83.000 leitos
hospitalares (incluindo os leitos de terapia intensiva), sendo apenas 43% destes
ofertados pelo SUS.
Todos estes argumentos reforçam a importância crucial da vacinação
da população em massa, incluindo as crianças, para mitigar os efeitos da
Covid-19, dificultar a circulação do vírus e o surgimento de novas linhagens.
As campanhas favoráveis à imunização, veiculadas pela maioria das sociedades de
especialidades brasileiras, deveriam, também, ser abraçadas pelo governo
federal, para o benefício de toda a comunidade.
Finalizo, citando o icônico primeiro ministro britânico, Winston
Churchill: “Cidadãos saudáveis são o maior bem que um país pode ter”.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
Excelente matéria! Assunto bem pertinente ao que estamos vivendo.
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