Antônio Carlos Sobral Sousa*
A “guerra” contra a Covid-19 ainda não acabou e o mundo está
vivenciando outra guerra, igualmente desastrosa, tanto pelas muitas vidas já perdidas como pelas consequências
econômicas e sociais que despontam no horizonte. Embora o cenário físico do
conflito, causado pela invasão da Ucrânia por tropas russas, ocorra a mais de
dez mil quilômetros de distância do Brasil, o alastramento de suas consequências
se dará mais rapidamente do que o avanço da variante mais transmissível do
SARS-Cov-2, a Ômicron.
Segundo os especialistas, a economia brasileira será “atacada” por
três flancos: os combustíveis, os alimentos e o câmbio. No mundo, a Rússia
ocupa o primeiro e o segundo lugar na produção de gás natural e de petróleo,
respectivamente, propiciando, portanto, que os preços internacionais destas commodities
disparem na direção da estratosfera. Seremos, também, afetados pela vertente
dos alimentos uma vez que a Rússia ocupa, também, a primeira colocação mundial
na produção de trigo e a Ucrânia, por sua vez, é a quarta maior produtora do
referido grão. Para tornar a situação mais complexa, a nossa maior parceira na
exportação de trigo, a Argentina, amargura uma seca que está
comprometendo a safra local.
Na esteira desta interlocução, o país comandado pelo Sr. Putin, o
“dono da guerra”, é o maior produtor global de fertilizantes, sendo responsável
por, aproximadamente, 24% do total (41,58 milhões de toneladas em 2021) do
produto importado pelo Brasil. Vale ressaltar, ainda, que o aumento do diesel
se reflete diretamente no preço do frete e, indiretamente, nas nossas mesas,
com alimentos mais caros.
Finalmente, o terceiro fator pelo qual o conflito no leste europeu
pode impactar a economia brasileira será por meio do câmbio desfavorável. A
subida do dólar e da inflação pode forçar o Banco Central brasileiro a aumentar
a taxa básica de juros (Selic) além do desejado, comprometendo ainda mais, o já
combalido crescimento econômico do Brasil.
Se tudo isto não bastasse, a crise humanitária provocada pela
guerra tem provocado, mundo afora, grande preocupação de chefes do Poder
Executivo, sobretudo, daqueles conscientes de sua dignidade, conforme
manifestação do Papa Francisco: “Toda guerra deixa o mundo pior do que o
encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição
vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal”.
Quanto à “guerra” contra a Covid-19, ainda não é tempo de baixar a
guarda do uso das eficazes medidas protetoras contra o novo coronavírus (uso de
máscara, distanciamento físico e higienização das mãos) e, devemos, ainda,
continuar insistindo no avanço da vacinação da população, sobretudo em crianças
e adolescentes, cujos pais ainda ficam hesitantes em consentirem a imunização
de seus filhos, graças às ações negacionistas de muitos.
Em tempos de guerra é oportuno citar o lendário primeiro ministro
britânico, Winston Churchill: “A diferença entre os humanos e os animais é que
os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada”.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias
Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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