terça-feira, 1 de março de 2022

O ARTISTA DA FOTOGRAFIA


  

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

  

Sergipe perdeu, recentemente, um filho ilustre, Lineu Lins de Carvalho, um dos primeiros profissionais de fotografia a registrar eventos da sociedade sergipana. Lineu foi, também, pioneiro no uso de câmeras digitais. Tornou-se um apaixonado pela arte fotográfica e, talvez, a sua predileção por capturar imagens do cotidiano, de artesanatos e de crianças tenha sido o caminho que escolheu para melhor sentir o lado belo da vida.

Logo cedo, ainda na adolescência, começou a demonstrar interesse pela fotografia e com vivacidade e inteligência aperfeiçoou, de forma autodidata, os seus conhecimentos no ofício, tornando-se profissional do ramo aos 19 anos de idade, em 1956. Possuidor de grande sensibilidade, as lentes de seus aparatos captavam, com magia, detalhes que só os artistas conseguem.

Quando eu era adolescente, na década de 60, morei na casa número 62, da Travessa Benjamin Constant, no oitão do então Palácio do Governo, ladeada pela residência de meus bisavôs maternos e pelo badalado estabelecimento fotográfico, “Lineu Studio”, talvez o primeiro do nosso estado.

Recordo do intenso movimento de pessoas que procuravam os seus serviços profissionais. Vários acontecimentos da nossa família foram registrados por Lineu; ainda detenho várias fotos com a sua assinatura.

Quando retornei para Aracaju, no final dos anos 80, após temporada de Residência Médica e Doutorado nas cidades de São Paulo e Ribeirão Preto, respectivamente, passei a ser requisitado com frequência para ministrar aulas, regularmente, tanto em eventos locais como nacionais.

Naquela época, o material didático era exposto mediante slides ou diapositivos que consistiam em imagem estática, positiva, podendo ser em cores, montados em molduras, que eram dispostos em um carrossel, para possibilitar a sua projeção em uma tela. Era necessária atenção refinada na montagem dos slides, para não ser surpreendido, durante a apresentação do material, por slide invertido e/ou fora da sequência desejada.

Vale ressaltar, que a confecção dos slides precisa de aparelhagem e técnica. Como eu não possuía nenhum dos dois pré-requisitos, fui recomendado a procurar os serviços de Lineu, que estava se dedicando, também, a produzir diapositivos para palestrantes. Passei a ser um habitué do seu estúdio, então localizado na Av. Ivo do Prado.

O cuidado desprendido na combinação de cores, nos tipos e tamanhos de letras empregadas, harmonicamente dispostas, faziam de cada slide, uma verdadeira obra de arte, merecendo elogios de colegas que assistiam as minhas apresentações Brasil afora.

Quando prestei concurso para Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, o certame constou do julgamento do Curriculum Vitae, prova escrita e prova didática, cujo tema fora sorteado 24 horas antes. Recordo que cheguei ao estúdio de Lineu por volta das 18 horas, passando, imediatamente, a proceder a confecção dos slides que ficaram prontos em torno das 23 horas. Na manhã seguinte, fiz a minha apresentação e logrei aprovação. Fica, portanto, o preito de gratidão ao “Mago” da fotografia sergipana que para muitos foi, também, o “Artista da produção de slides”!

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

 

 

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