Antônio Carlos Sobral Sousa*
Sergipe perdeu, recentemente, um filho ilustre, Lineu Lins de
Carvalho, um dos primeiros profissionais de fotografia a registrar eventos da
sociedade sergipana. Lineu foi, também, pioneiro no uso de câmeras digitais.
Tornou-se um apaixonado pela arte fotográfica e, talvez, a sua predileção por
capturar imagens do cotidiano, de artesanatos e de crianças tenha sido o
caminho que escolheu para melhor sentir o lado belo da vida.
Logo cedo, ainda na adolescência, começou a demonstrar interesse
pela fotografia e com vivacidade e inteligência aperfeiçoou, de forma
autodidata, os seus conhecimentos no ofício, tornando-se profissional do ramo
aos 19 anos de idade, em 1956. Possuidor de grande sensibilidade, as lentes de
seus aparatos captavam, com magia, detalhes que só os artistas conseguem.
Quando eu era adolescente, na década de 60, morei na casa número
62, da Travessa Benjamin Constant, no oitão do então Palácio do Governo,
ladeada pela residência de meus bisavôs maternos e pelo badalado
estabelecimento fotográfico, “Lineu Studio”, talvez o primeiro do nosso estado.
Recordo do intenso movimento de pessoas que procuravam os seus
serviços profissionais. Vários acontecimentos da nossa família foram
registrados por Lineu; ainda detenho várias fotos com a sua assinatura.
Quando retornei para Aracaju, no final dos anos 80, após temporada
de Residência Médica e Doutorado nas cidades de São Paulo e Ribeirão Preto,
respectivamente, passei a ser requisitado com frequência para ministrar aulas,
regularmente, tanto em eventos locais como nacionais.
Naquela época, o material didático era exposto mediante slides ou
diapositivos que consistiam em imagem estática, positiva, podendo ser em cores,
montados em molduras, que eram dispostos em um carrossel, para possibilitar a
sua projeção em uma tela. Era necessária atenção refinada na montagem dos
slides, para não ser surpreendido, durante a apresentação do material, por
slide invertido e/ou fora da sequência desejada.
Vale ressaltar, que a confecção dos slides precisa de aparelhagem
e técnica. Como eu não possuía nenhum dos dois pré-requisitos, fui recomendado
a procurar os serviços de Lineu, que estava se dedicando, também, a produzir
diapositivos para palestrantes. Passei a ser um habitué do seu estúdio, então
localizado na Av. Ivo do Prado.
O cuidado desprendido na combinação de cores, nos tipos e tamanhos
de letras empregadas, harmonicamente dispostas, faziam de cada slide, uma
verdadeira obra de arte, merecendo elogios de colegas que assistiam as minhas
apresentações Brasil afora.
Quando prestei concurso para Professor do Departamento de Medicina
da Universidade Federal de Sergipe, o certame constou do julgamento do Curriculum
Vitae, prova escrita e prova didática, cujo tema fora sorteado 24 horas
antes. Recordo que cheguei ao estúdio de Lineu por volta das 18 horas,
passando, imediatamente, a proceder a confecção dos slides que ficaram prontos
em torno das 23 horas. Na manhã seguinte, fiz a minha apresentação e logrei
aprovação. Fica, portanto, o preito de gratidão ao “Mago” da fotografia
sergipana que para muitos foi, também, o “Artista da produção de slides”!
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias
Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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