Antônio Carlos Sobral Sousa*
O provérbio da língua portuguesa “depois da tempestade, vem a
bonança”, expressa a ideia de que depois de um período conturbado e agitado, se
segue a calmaria. Traçando-se
um paralelismo desse ditado popular com o mundo da navegação tem-se a situação
em que, no mar, após grandes tempestades, sucedem-se períodos de tranquilidade,
quando se pode navegar com maior facilidade. Temos vivenciado tempos difíceis proporcionados
pela pandemia da Covid-19, que evoluiu com ondas sucessivas, sufocando a
economia e ceifando vidas preciosas Brasil a fora.
A terceira onda da referida virose, chancelada pela disseminação
da variante Ômicron do SARS-Cov-2 está em fase de dissipação segundo Boletim recém-divulgado
por pesquisadores que integram o Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz).
Segundo o documento, o atual cenário sinaliza para uma redução
gradual, mas consistente, do número de casos graves, internações e óbitos, que
constituem os principais impactos da doença. A tendência de queda se reflete,
também, pela redução significativa dos casos de Síndrome Respiratória Aguda
Grave causada pelo Novo Coronavírus (nos períodos mais críticos da pandemia,
98% dos internados com a síndrome eram positivos para o SARS-Cov-2, atualmente
essa proporção caiu para 50%) e da letalidade (calculada dividindo-se o número
de óbitos por determinada doença pelo número de casos da mesma enfermidade) de
3% para 0,8%.
O Boletim ressalta o papel crucial da vacinação para o controle da
Covid-19 e alerta para a importância da segunda e da terceira doses do
imunizante. Vale assinalar que, da população brasileira vacinável,
aproximadamente 20% não tomou as duas doses preconizadas e 50% não completou o
ciclo com a 3ª dose da vacina.
Os pesquisadores enfatizam que as doses de reforço (3ª e 4ª),
sobretudo em grupos mais vulneráveis, como os idosos, podem reduzir ainda mais
os impactos da pandemia sobre a mortalidade e as internações. O documento
evidencia, ainda, que a baixa adesão das crianças à imunização tem colaborado
para maior vulnerabilidade deste grupo às formas graves e fatais da Covid-19,
justificando assim, uma maior contribuição relativa das faixas extremas da
pirâmide etária, para a evolução desfavorável da virose.
Todavia, apesar da momentânea calmaria, a pandemia, infelizmente,
ainda não acabou e, portanto, uma nova tempestade pode recrudescer, caso surjam
variantes mais letais ou que escapem da imunidade produzida pelas vacinas disponíveis
contra a enfermidade. Um país com dimensões continentais como o Brasil, e com
reconhecidas desigualdades regionais, necessita de atenção especial dos
gestores da saúde, visando incrementar a vacinação sobretudo nas áreas de menor
cobertura e incentivar o uso de máscaras em ambientes fechados.
Como ocorre anualmente, com a aproximação do inverno, já foi
iniciada a campanha nacional de vacinação contra a gripe (influenza),
importante tanto para evitar a virose em si, como para minimizar os mal-entendidos
entre os sintomas da gripe e os sintomas da Covid-19.
Esses cuidados auxiliarão no sentido de não sobrecarregar as
unidades de saúde do país. Para facilitar a adesão da população, o Ministério
da Saúde emitiu nota técnica que permite a aplicação simultânea das vacinas
contra os vírus da gripe e da Covid-19. Finalizo citando o astrofísico e
escritor americano Neil de Grasse Tyson: “Ciência é a vacina contra o
charlatanismo do mundo que explora sua ignorância”
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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