domingo, 17 de abril de 2022

APARENTE CALMARIA. A TEMPESTADE PASSOU?


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

O provérbio da língua portuguesa “depois da tempestade, vem a bonança”, expressa a ideia de que depois de um período conturbado e agitado, se segue a calmaria. Traçando-se um paralelismo desse ditado popular com o mundo da navegação tem-se a situação em que, no mar, após grandes tempestades, sucedem-se períodos de tranquilidade, quando se pode navegar com maior facilidade. Temos vivenciado tempos difíceis proporcionados pela pandemia da Covid-19, que evoluiu com ondas sucessivas, sufocando a economia e ceifando vidas preciosas Brasil a fora.

A terceira onda da referida virose, chancelada pela disseminação da variante Ômicron do SARS-Cov-2 está em fase de dissipação segundo Boletim recém-divulgado por pesquisadores que integram o Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Segundo o documento, o atual cenário sinaliza para uma redução gradual, mas consistente, do número de casos graves, internações e óbitos, que constituem os principais impactos da doença. A tendência de queda se reflete, também, pela redução significativa dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pelo Novo Coronavírus (nos períodos mais críticos da pandemia, 98% dos internados com a síndrome eram positivos para o SARS-Cov-2, atualmente essa proporção caiu para 50%) e da letalidade (calculada dividindo-se o número de óbitos por determinada doença pelo número de casos da mesma enfermidade) de 3% para 0,8%.

O Boletim ressalta o papel crucial da vacinação para o controle da Covid-19 e alerta para a importância da segunda e da terceira doses do imunizante. Vale assinalar que, da população brasileira vacinável, aproximadamente 20% não tomou as duas doses preconizadas e 50% não completou o ciclo com a 3ª dose da vacina.

Os pesquisadores enfatizam que as doses de reforço (3ª e 4ª), sobretudo em grupos mais vulneráveis, como os idosos, podem reduzir ainda mais os impactos da pandemia sobre a mortalidade e as internações. O documento evidencia, ainda, que a baixa adesão das crianças à imunização tem colaborado para maior vulnerabilidade deste grupo às formas graves e fatais da Covid-19, justificando assim, uma maior contribuição relativa das faixas extremas da pirâmide etária, para a evolução desfavorável da virose.

Todavia, apesar da momentânea calmaria, a pandemia, infelizmente, ainda não acabou e, portanto, uma nova tempestade pode recrudescer, caso surjam variantes mais letais ou que escapem da imunidade produzida pelas vacinas disponíveis contra a enfermidade. Um país com dimensões continentais como o Brasil, e com reconhecidas desigualdades regionais, necessita de atenção especial dos gestores da saúde, visando incrementar a vacinação sobretudo nas áreas de menor cobertura e incentivar o uso de máscaras em ambientes fechados.

Como ocorre anualmente, com a aproximação do inverno, já foi iniciada a campanha nacional de vacinação contra a gripe (influenza), importante tanto para evitar a virose em si, como para minimizar os mal-entendidos entre os sintomas da gripe e os sintomas da Covid-19.

Esses cuidados auxiliarão no sentido de não sobrecarregar as unidades de saúde do país. Para facilitar a adesão da população, o Ministério da Saúde emitiu nota técnica que permite a aplicação simultânea das vacinas contra os vírus da gripe e da Covid-19. Finalizo citando o astrofísico e escritor americano Neil de Grasse Tyson: “Ciência é a vacina contra o charlatanismo do mundo que explora sua ignorância”

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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