José Lima Santana*
Como é
por demais sabido, a discussão sobre ética remonta à Antiguidade grega. Naquele
período, filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles buscavam produzir um
conhecimento capaz de fornecer respostas absolutas para todos os tipos de
questionamento humano.
Na obra
“Ética a Nocômaco”, Aristóteles sistematizou padrões de comportamento ético no
relacionamento entre os cidadãos. Para ele, a principal forma de exercitar o
comportamento ético era através do diálogo. Nos diálogos, os cidadãos exercem a
arte do contraditório, na qual as frases emitidas possuem um padrão de verdade
e mentira.
Há quem
cultive a verdade, mas há, também, quem gosta das mentiras, criando-as ou
disseminando-as. Na obra citada, diz Aristóteles que “é verdadeiro que a
conduta do homem virtuoso é frequentemente orientada pelos interesses de seus
amigos e de sua pátria [...]. Ele abrirá mão da riqueza e do poder e de todos
os bens que os homens lutam para conquistar se [só com isso] puder assegurar a
nobreza para si mesmo” (2002, p. 255).
Podemos
dizer, então, que ética “é a ciência do comportamento moral dos homens em
sociedade”, citando Adolfo Sanchez Vasquez (Apud José Renato Nalini, 1999, p.
34).
Qual a
finalidade da ética? Dizem que a sua finalidade é a descoberta do bem absoluto.
E tal bem seria a felicidade. Para Aristóteles, a felicidade, enquanto bem
absoluto, estaria no exercício, firme e constante, da virtude. Na lição de
Nalini, “não basta um ato virtuoso de quando em quando. A virtude é a
atualização do que lhe é próprio. O homem virtuoso é aquele que mergulha no
desenvolvimento integral de suas faculdades” (1999, p. 50).
Eduardo
Bittar e Guilherme Almeida mostram a dinâmica existente entre o indivíduo e a
sociedade, no que concerne à ética. Dizem: “O indivíduo produz conceitos e
padrões éticos e envia-os à sociedade, assim como a sociedade produz padrões e
conceitos éticos e envia-os (ou inculca), por meio de suas instituições,
tradições, mitos, modos, procedimentos, exigências, regras, à consciência do
indivíduo. É dessa interação, e com base no equilíbrio dessas duas forças, que
se pode extrair o esteio das preocupações ético-normativas” (2001, p. 446).
José
Eduardo de Castro Farias, analisando o pensamento aristotélico no que concerne
à ética, afiança: “Aristóteles pensou as virtudes como algo que se desenvolve
essencialmente dentro do espaço político. A sua obra “Política” é apresentada
como continuação da Ética.
O
conteúdo da ética é considerado político. A política define a ética ao
transformar o indivíduo em cidadão. A liberdade do indivíduo está na sua
cidadania. Os cidadãos são partes integrantes da polis, não há homem livre fora
da polis, fora da comunidade, pois ‘o todo deve necessariamente ter precedência
sobre as partes’.
A virtude
humana é histórica. A virtude pressupõe um ser e um agir como os outros, ou
seja, ela pressupõe indivíduos relacionando-se entre si, constituindo ao mesmo
tempo um fato biológico e cultural. O homem nunca é um ser isolado; a sua
felicidade só pode ser alcançada na medida em que o homem é um animal político
que vive na Cidade-Estado, na polis, na comunidade. Portanto, as questões
éticas são relativas à estrutura da polis, uma vez que a virtude encontra o seu
lugar não apenas na vida do indivíduo, mas na vida da cidade, e ‘o indivíduo é
realmente inteligível somente enquanto zoon politikón’” (2004, p. 5-6).
Vemos que
há um forte entrelaçamento entre o homem e a comunidade dos homens, entre o que
constitui a ética individual e a ética social. A ética cristã não ficou alheia
a isso. Disseminada por todo o Ocidente, sofreu percalços ao longo dos tempos,
e começou, por fim, a entrar em declínio nos meados do século XX.
Nalini
afirma que “nunca foi tão necessário, como hoje se mostra, reabilitar a Ética”.
E continua: “A crise da Humanidade é uma crise moral. Os descaminhos da
criatura humana, refletidos na violência, no egoísmo e na indiferença pela
sorte do semelhante, assentam-se na perda de valores morais. De nada vale
reconhecer a dignidade da pessoa, se a conduta pessoal não se pautar por ela” (1999,
p. 34).
Para
Farias, “as ações são morais quando dirigidas por uma ética intersubjetiva de
solidariedade”. Sobre a solidariedade, é preciso observar o disposto no art.
3°, inciso I, CF, que diz ser objetivo da República Federativa do Brasil,
dentre outros, “construir uma sociedade livre, justa e solidária”.
Na
liberdade constitui-se a justiça e, por meio desta, chega-se à solidariedade.
Ora, “um homem é um ser racional, mas não é um ser solitário, ele é um ser
social. Na medida em que o homem é um ser social, os fins morais são também
sociais. O fim da ação é moral quando conduz à realização do ‘eu’ como ser
solidário. A nossa moralidade reside na nossa conduta social, pois é como seres
solidários que somes seres morais” (Farias, 2004, p. 306).
Enfim, quando
alguns – ou muitos – dos políticos brasileiros e seus seguidores mais
empedernidos vão considerar em suas vidas e ações a questão ética? Para esses,
o que é ética? O velho do rio, que vira sucuri? Pois é: pode ser apenas uma
novela pantanosa, na qual sucuris matam suas presas por asfixia. Muitos, no
Brasil, estão matando sob as mais variadas formas. E isso é absolutamente
antiético.
Referências:
1) Aristóteles. Ética a Nicômaco. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro,
2002.2) Bittar, Eduardo C. B. et Almeida, Guilherme Assis de. Curso de
Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2001. 3) Farias, José Fernando de
Castro. Ética, Política e Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2004.
4) Nalini, José Renato. Ética Geral e Profissional. 2 ed. São Paulo: RT, 1999.
*Padre, advogado, professor do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras, Academia Dorense de Letras, Academia Sergipana de Letras Jurídicas, Academia Sergipana de Educação e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
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