Antônio Carlos Sobral Sousa*
Passada a terceira onda da Covid-19, protagonizada pela variante
Ômicron, começaram a vigorar as medidas de flexibilização tanto para o uso de
máscaras, como para o distanciamento físico. O clima de festas foi tomando
conta da população, que estava sedenta por grandes eventos e até carnaval fora
de época aconteceu, nas duas maiores cidades do país. Para muitos a pandemia
havia acabado...
Todavia, nos últimos 30 dias o Brasil registrou uma alta de quase
80% de casos novos da virose. Estes números podem estar subestimados, em
decorrência da redução das testagens, mesmo na presença de sintomas sugestivos
da doença e da disponibilidade dos autotestes em farmácias, cujos resultados
não são oficialmente contabilizados.
A presença de cepas com alta transmissibilidade, o relaxamento de
medidas preventivas e a redução da imunidade meses após a vacinação podem
explicar o aumento de casos, caracterizando, provavelmente, a quarta onda da
Covid-19. Segundo boletim epidemiológico da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz),
quase metade dos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) ocorridos em
meados de maio, foram de Covid-19. No entanto, é bom frisar que os imunizantes
contra o SARS-Cov-2 continuam a funcionar para a prevenção de casos mais graves
da doença, responsáveis por hospitalização e morte.
Pesquisas realizadas em diferentes centros demonstraram que o
esquema completo de imunização reduz em 20 vezes a chance de um indivíduo morrer
da virose. Apesar desta constatação, tem sido verificada, com preocupação, uma
estagnação no crescimento vacinal da população brasileira, além da
desaceleração da curva de cobertura de terceira dose, especialmente pela adesão
substancialmente menor de adultos à aplicação da dose de reforço. Por outro
lado, o uso de máscara, mesmo em ambientes fechados, vai se tornando cada vez
mais raro, fazendo com que aqueles que insistem em utilizar o valioso
instrumento de proteção se sinta um verdadeiro “estranho no ninho”!
Uma percentagem significativa de partículas infecciosas exalada
por uma pessoa doente fica retida na máscara, diminuindo a propagação viral.
Portanto, quanto maior a quantidade de “mascarados”, mais seguro se torna o
“baile”! Vale ressaltar que existem evidências de que a máscara protege o
usuário, mesmo que aqueles ao seu entorno não a estejam usando. Considere-se
ainda que o grau de proteção depende, também, da qualidade da máscara (as N95
são as mais eficazes) e do seu uso adequado.
Os mais de dois anos de pandemia, com as sucessivas ondas,
deixaram como legado para a humanidade a necessidade de se respeitar tanto o
ardiloso SARS-Cov-2, como a Ciência, que conseguiu demonstrar a importância das
vacinas como principal arma de combate ao vírus. Finalizo citando o francês Louis
Pasteur: “Os benefícios da ciência não são para os cientistas, e sim para
humanidade”.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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