Jorge Carvalho do Nascimento*
Um reconhecido profissional liberal, que fora meu colega do curso
Científico (atualmente, Ensino Médio) do Colégio de Aplicação da Universidade
Federal de Sergipe, sugeriu que eu abordasse o tema das “Vacinas Experimentais”
contra a Covid-19.
Esta denominação tem sido utilizada por muitos negacionistas para
passar desinformações a respeito dos imunizantes, a despeito de que os mesmos
já tenham se constituído em estratégia essencial de combate à pandemia. As vacinas
disponíveis em nosso país já foram aprovadas pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo algumas liberadas de maneira emergencial e
outras já com o registro definitivo.
Vale ressaltar que toda droga, para receber o consentimento da Anvisa,
deve passar por três etapas de investigação, para que sejam constatadas a
eficácia, a segurança e a qualidade das mesmas. Os imunizantes contra a
Covid-19 cumpriram todo esse ritual e encontram-se na fase de
farmacovigilância, quando são acompanhados para o eventual surgimento de
efeitos ou reações diferentes das observadas nas fases experimentais.
Todas as vacinas administradas no Brasil, demonstraram, também,
excelente efetividade (resultado do tratamento no mundo real), sobretudo para
os desfechos graves (internação ou óbito), com proteção que varia entre 83% e
99%, em indivíduos com idade de 20 a 80 anos.
Estudo realizado no Brasil e recentemente publicado na Nature (DOI: 10.1038/s41591-022-01701-w) evidenciou,
ainda, que a dose de reforço da BNT162b2 (Pfizer-BioNTech), aplicada seis meses
após a segunda dose da CoronaVac (Sinovac Biotech), promoveu e expressiva
efetividade de 92,7% contra a infecção e de 97,3%, contra hospitalização ou
óbito pela referida virose.
Outra
preocupação, largamente difundida nas mídias sociais, como forma de dificultar
o programa de imunização, é o risco de efeitos adversos graves, sobretudo
cardíacos, atribuídos a certos tipos de vacinas. Todavia, segundo estudo
realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano,
publicado no periódico JAMA (May
24/31, 2022;327:1951), o risco de desenvolver miocardite e outras condições
inflamatórias do coração após o uso de vacinas que utilizam tecnologia de RNA
mensageiro (como a da Pfizer), é substancialmente mais baixa do que após a
infecção pelo SARS-CoV-2, após análise de registros eletrônicos de 15, 2
milhões de usuários, de 40 sistemas de saúde dos Estados Unidos.
O desenvolvimento rápido e sem precedentes das vacinas, menos de
um ano após a decifração da sequência do genoma do novo coronavírus, foi,
indiscutivelmente, um triunfo científico, favorecido por intensa cooperação
entre instituições, grande disponibilidade de voluntários, muita exposição ao
vírus e, substancial investimento aplicado pelos países mais abastados, os
quais detiveram a maior quantidade de imunizantes produzidos.
Este último requisito foi motivo de um editorial publicado no
icônico periódico New England Journal of
Medicine (DOI: 10.1056/NEJMe2202547), alertando para a desigualdade mundial
na distribuição das vacinas contra a Covid-19 apenas: 11% da população
vacinável, dos países de baixa renda, recebeu pelo menos uma dose do
imunizante.
Este cenário pode propiciar o surgimento de novas variantes que,
eventualmente, podem “driblar” a imunidade promovida pelas vacinas
vigentes. Portanto, para vencermos esta
“Peste”, temos que confiar nas vacinas, que devem ser encaradas como um
instrumento de benefício público mundial.
Finalizo
citando Albert Einstein: “Toda a nossa ciência comparada com a realidade, é
primitiva e infantil. No entanto, é a coisa mais preciosa que temos”.
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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