domingo, 26 de junho de 2022

PANDEMIA DE DOENÇAS MENTAIS


  

 

Antônio Carlos Sobral de Sousa*

 

  

A pandemia que reluta em acabar, escancarou a falta de atenção à saúde mental da população mundial, negligenciada pelas autoridades competentes. Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado no início do ano, a prevalência global de ansiedade e depressão incrementou em 25%, somente no primeiro ano da virose.

Vale ressaltar que este aumento de transtornos mentais coincidiu com fechamento da maioria dos serviços ambulatoriais, por conta das restrições impostas pela desconhecida virose, promovendo, perigosamente, consideráveis lacunas no acompanhamento daqueles que mais necessitavam.

A dificuldade para o atendimento presencial fez com que muitas pessoas buscassem suporte online, esbarrando na carência de ferramentas digitais confiáveis, eficazes e de fácil acesso. No entanto, desenvolver e implantar tais tecnologias, particularmente útil em um país com dimensões continentais como o nosso, constitui um grande desafio em decorrência da limitação de recursos para tal fim.

O tema também foi abordado em um artigo recém-publicado no conceituado periódico JAMA (doi:10.1001/jama.2022.10241) o qual destaca que uma em cada oito pessoas, em todo o mundo, apresenta algum tipo de transtorno mental, alertando, ainda, para situações mais graves como o suicídio, responsável por uma em cada cem mortes, constituindo a principal causa de óbito em adolescentes.

Todavia, a maioria dos governos destina, em média, apenas 2% de seus orçamentos em saúde para a prevenção e tratamento das doenças mentais. A situação é mais dramática nos países menos abastados, que destinam, para este fim, parcelas ainda menores. Dada a escassez, per capta, de psiquiatras em países de média e baixa renda, aproximadamente 71% dos portadores de psicoses não têm acesso ao tratamento adequado.

Como resultado, a doença mental é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo, promovendo um enorme custo financeiro. O Fórum Econômico Mundial estimou que as condições clínicas que resultam em incapacidade mental custaram, US$ 2,5 trilhões em 2010 e projetam uma majoração para US$ 6 trilhões até 2030.

Segundo os especialistas, a saúde mental tem comportamento fluido, mudando durante as vidas das pessoas à medida que elas enfrentam situações estressoras. A tensão emocional, sem precedentes, vivenciada nos tempos de pandemia, causada pelo isolamento físico imposto pelas restrições ao trabalho presencial, ao apoio de entes queridos e ao envolvimento comunitário, contribuiu seguramente para a explosão de casos de transtornos de ansiedade e depressão, sobretudo nos países mais afetados pela virose.

A solidão, o medo de se infectar, o sofrimento e a morte de pessoas queridas, além do luto e de preocupações financeiras, são, também, estressores não desprezíveis. Entre os profissionais de saúde, a exaustão tem sido considerada um importante gatilho para o pensamento suicida.

Finalizo, citando o diretor-geral da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus: “as informações que temos agora sobre o impacto da COVID-19 na saúde mental do mundo são apenas a ponta do iceberg”.

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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