domingo, 3 de julho de 2022

VACINA CONTRA COVID EM GESTANTES - "DOIS POR UM"


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A ocorrência de Covid-19 durante a gravidez pode resultar em doença grave com hospitalização e até mesmo morte da gestante, além do risco aumentado de complicações neonatais. As vacinas disponíveis contra a referida virose têm se mostrado eficazes na redução das infecções pelo SARS-Cov-2, e, principalmente, evitado o agravamento da doença, reduzindo, substancialmente, o número de internações e de óbitos.

Os benefícios da vacinação materna para o bebê, mediante a transferência de anticorpos pela placenta, já estão bem estabelecidos, desde os idos de 1870, quando ficou constatada a proteção contra varíola, nos primeiros meses de vida de crianças cujas mães foram previamente vacinadas.

A imunização das mães contra o tétano e a higiene durante o trabalho de parto resultaram em redução substancial da infecção neonatal em alguns países em desenvolvimento. Resultados semelhantes de proteção de recém-nascidos têm sido observados, também, com a imunização das mães contra difteria e coqueluche, geralmente conjugada com a antitetânica, na vacina acelular DTPa. Esta última deve ser administrada entre a 27ª e 36ª semanas de gestação para maximizar a produção materna de anticorpos e a consequente transferência placentária para o feto.

Estudos com vacinas que utilizam a metodologia de RNA mensageiro (Pfizer–BioNTech e Moderna) respaldam os benefícios e a segurança da imunização contra a Covid-19 durante a gestação e, portanto, os Centros regulatórios (CDC nos Estados Unidos e ANVISA no Brasil) recomendam a vacinação, incluindo reforços quando elegíveis, para aquelas que estão grávidas ou planejam engravidar.

Esta conduta pode ter duplo benefício, ou seja, protege a mãe e, também, o seu concepto, já que não se realiza vacinação em crianças com menos de 6 meses de idade. Tem sido constatada a presença de anticorpos contra o novo coronavírus tanto em sangue do cordão umbilical, como no leite de mães vacinadas, porém a correlação com a proteção da criança contra a nefasta infecção ainda não tinha sido comprovada.

Para responder a esta importante pergunta, foi recém-publicado, no conceituado periódico New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMoa2204399), um grande estudo multicêntrico, demonstrando que a vacinação maternal com duas doses (Pfizer–BioNTech ou Moderna) foi associada com redução significativa de hospitalização e de casos críticos da virose, em crianças menores de seis meses de vida. Vale ressaltar, ainda, que este estudo foi conduzido durante a circulação das variantes Delta e Ômicron do SARS-Cov-2.

Assim, a evidência de que as vacinas contra a Covid-19 ajudam a proteger tanto as mães como os bebês, passa a ser relevante para o aconselhamento materno, já que o argumento “dois por um” é bastante encorajador. Portanto, temos que continuar incentivando a vacinação da população por se tratar do principal armamento na luta contra essa “Peste”. Finalizo, citando o notável Charles Chaplin: “A persistência é o melhor caminho para o êxito”

 

 

* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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