Antônio Carlos Sobral Sousa*
A ocorrência de Covid-19 durante a gravidez pode resultar em
doença grave com hospitalização e até mesmo morte da gestante, além do risco
aumentado de complicações neonatais. As vacinas disponíveis contra a referida
virose têm se mostrado eficazes na redução das infecções pelo SARS-Cov-2, e,
principalmente, evitado o agravamento da doença, reduzindo, substancialmente, o
número de internações e de óbitos.
Os benefícios da vacinação materna para o bebê, mediante a
transferência de anticorpos pela placenta, já estão bem estabelecidos, desde os
idos de 1870, quando ficou constatada a proteção contra varíola, nos primeiros
meses de vida de crianças cujas mães foram previamente vacinadas.
A imunização das mães contra o tétano e a higiene durante o
trabalho de parto resultaram em redução substancial da infecção neonatal em
alguns países em desenvolvimento. Resultados semelhantes de proteção de
recém-nascidos têm sido observados, também, com a imunização das mães contra
difteria e coqueluche, geralmente conjugada com a antitetânica, na vacina
acelular DTPa. Esta última deve ser administrada entre a 27ª e 36ª semanas de
gestação para maximizar a produção materna de anticorpos e a consequente
transferência placentária para o feto.
Estudos com vacinas que utilizam a metodologia de RNA mensageiro
(Pfizer–BioNTech e Moderna) respaldam os benefícios e a segurança da imunização
contra a Covid-19 durante a gestação e, portanto, os Centros regulatórios (CDC
nos Estados Unidos e ANVISA no Brasil) recomendam a vacinação, incluindo
reforços quando elegíveis, para aquelas que estão grávidas ou planejam
engravidar.
Esta conduta pode ter duplo benefício, ou seja, protege a mãe e,
também, o seu concepto, já que não se realiza vacinação em crianças com menos
de 6 meses de idade. Tem sido constatada a presença de anticorpos contra o novo
coronavírus tanto em sangue do cordão umbilical, como no leite de mães
vacinadas, porém a correlação com a proteção da criança contra a nefasta
infecção ainda não tinha sido comprovada.
Para responder a esta importante pergunta, foi recém-publicado, no
conceituado periódico New England Journal of Medicine (DOI: 10.1056/NEJMoa2204399),
um grande estudo multicêntrico, demonstrando que a vacinação maternal com duas
doses (Pfizer–BioNTech ou Moderna) foi associada com redução significativa de
hospitalização e de casos críticos da virose, em crianças menores de seis meses
de vida. Vale ressaltar, ainda, que este estudo foi conduzido durante a
circulação das variantes Delta e Ômicron do SARS-Cov-2.
Assim, a evidência de que as vacinas contra a Covid-19 ajudam a
proteger tanto as mães como os bebês, passa a ser relevante para o aconselhamento
materno, já que o argumento “dois por um” é bastante encorajador. Portanto,
temos que continuar incentivando a vacinação da população por se tratar do
principal armamento na luta contra essa “Peste”. Finalizo, citando o notável
Charles Chaplin: “A persistência é o melhor caminho para o êxito”
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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