Antônio
Carlos Sobral Sousa*
A
Covid-19, protagonizada pelo ardiloso SARS-Cov-2 abalou o nosso país por
sucessivas “ondas”, causadas por variantes do vírus original, as quais iam se
sucedendo e se tornando mais transmissíveis e com maior capacidade de escape
aos anticorpos desenvolvidos. Estes tsunamis promoveram grande devastação,
sobretudo nas famílias dos quase 700.000 brasileiros que tiveram as suas vidas
ceifadas pelo impiedoso vírus.
No
momento, a pandemia de Covid-19 parece estar em transição de uma fase hiperaguda
para uma fase endêmica. As vacinas atuais contra a Covid-19 são menos eficazes
em impedir a infecção com a variante Ômicron do que com variantes anteriores,
mas a proteção contra a doença grave permanece em grande parte preservada. Vale
lembrar que o principal objetivo das vacinas contra o novo coronavírus é o de
fornecer proteção a longo prazo contra a doença grave, hospitalização e morte.
Os
profissionais de saúde, sobretudo os que participaram da linha de frente,
tiveram papel preponderante, no enfrentamento do poderoso vírus. Durante as
fases mais críticas da doença, os sintomas de ansiedade ficaram exacerbados,
sobretudo naqueles profissionais que trabalhavam em terapias intensivas, em
enfermarias e nos serviços de urgências, abarrotados de doentes graves.
O
receio de contrair a doença e de transmitir para parentes e amigos, aliado ao
sofrimento dos enfermos, vivenciados nos ambientes de trabalho e sujeitos aos
efeitos tóxicos do estado pandêmico, abalaram, significativamente, a saúde
mental de muitos.
A
espiritualidade, que não deve ser confundida com religiosidade, consiste nos
valores morais, mentais e emocionais que guiam os pensamentos e comportamentos
em contextos intra e interpessoais. Já o conceito de religiosidade se refere a
quanto o indivíduo pratica, acredita e segue de alguma forma, uma determinada
religião.
Tem
sido demonstrado que os aspectos cognitivos e emocionais positivos decorrentes
da espiritualidade, tanto se associam à menor intensidade do estado de
ansiedade como, talvez seja o principal protetor quanto ao surgimento da mesma
na população geral.
Foi
recentemente publicado no periódico PLOS ONE (doi.org/10.1371/journal.
pone.0267556) um estudo brasileiro realizado no primeiro semestre de 2020, em
um hospital terciário para o tratamento da Covid-19 no Rio de Janeiro, com o
objetivo de avaliar os efeitos protetores da espiritualidade sobre a ansiedade
aguda e crônica de 118 trabalhadores, de ambos os sexos, da referida unidade
hospitalar.
Foi
encontrada alta frequência tanto de ansiedade crônica, como de aguda (54,3%),
nos profissionais de saúde, durante a pandemia, seguramente refletindo o
impacto psicológico causado pela doença. Os autores concluíram que a
espiritualidade pode ser considerada um fator protetor contra a ansiedade em
profissionais de saúde, independentemente de os sintomas terem começado antes
ou durante a peste.
Esses
achados, também encontrados em pesquisas semelhantes, sugerem que aqueles com
alto bem-estar espiritual tendem a desenvolver mecanismos internos que os
ajudam a lidar com o estresse psicológico.
Finalizo,
citando Santa Teresa de Calcutá: “Muitas pessoas no mundo morrem por falta de
um pedaço de pão, mas há muito mais gente morrendo por falta de um pouco de
Amor”.
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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