domingo, 11 de setembro de 2022

EFEITO PROTETOR DA ESPIRITUALIDADE NA COVID-19


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

A Covid-19, protagonizada pelo ardiloso SARS-Cov-2 abalou o nosso país por sucessivas “ondas”, causadas por variantes do vírus original, as quais iam se sucedendo e se tornando mais transmissíveis e com maior capacidade de escape aos anticorpos desenvolvidos. Estes tsunamis promoveram grande devastação, sobretudo nas famílias dos quase 700.000 brasileiros que tiveram as suas vidas ceifadas pelo impiedoso vírus.

No momento, a pandemia de Covid-19 parece estar em transição de uma fase hiperaguda para uma fase endêmica. As vacinas atuais contra a Covid-19 são menos eficazes em impedir a infecção com a variante Ômicron do que com variantes anteriores, mas a proteção contra a doença grave permanece em grande parte preservada. Vale lembrar que o principal objetivo das vacinas contra o novo coronavírus é o de fornecer proteção a longo prazo contra a doença grave, hospitalização e morte.

Os profissionais de saúde, sobretudo os que participaram da linha de frente, tiveram papel preponderante, no enfrentamento do poderoso vírus. Durante as fases mais críticas da doença, os sintomas de ansiedade ficaram exacerbados, sobretudo naqueles profissionais que trabalhavam em terapias intensivas, em enfermarias e nos serviços de urgências, abarrotados de doentes graves.

O receio de contrair a doença e de transmitir para parentes e amigos, aliado ao sofrimento dos enfermos, vivenciados nos ambientes de trabalho e sujeitos aos efeitos tóxicos do estado pandêmico, abalaram, significativamente, a saúde mental de muitos.

A espiritualidade, que não deve ser confundida com religiosidade, consiste nos valores morais, mentais e emocionais que guiam os pensamentos e comportamentos em contextos intra e interpessoais. Já o conceito de religiosidade se refere a quanto o indivíduo pratica, acredita e segue de alguma forma, uma determinada religião.

Tem sido demonstrado que os aspectos cognitivos e emocionais positivos decorrentes da espiritualidade, tanto se associam à menor intensidade do estado de ansiedade como, talvez seja o principal protetor quanto ao surgimento da mesma na população geral.

Foi recentemente publicado no periódico PLOS ONE (doi.org/10.1371/journal. pone.0267556) um estudo brasileiro realizado no primeiro semestre de 2020, em um hospital terciário para o tratamento da Covid-19 no Rio de Janeiro, com o objetivo de avaliar os efeitos protetores da espiritualidade sobre a ansiedade aguda e crônica de 118 trabalhadores, de ambos os sexos, da referida unidade hospitalar.

Foi encontrada alta frequência tanto de ansiedade crônica, como de aguda (54,3%), nos profissionais de saúde, durante a pandemia, seguramente refletindo o impacto psicológico causado pela doença. Os autores concluíram que a espiritualidade pode ser considerada um fator protetor contra a ansiedade em profissionais de saúde, independentemente de os sintomas terem começado antes ou durante a peste.

Esses achados, também encontrados em pesquisas semelhantes, sugerem que aqueles com alto bem-estar espiritual tendem a desenvolver mecanismos internos que os ajudam a lidar com o estresse psicológico.

Finalizo, citando Santa Teresa de Calcutá: “Muitas pessoas no mundo morrem por falta de um pedaço de pão, mas há muito mais gente morrendo por falta de um pouco de Amor”.

 

 

* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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