Antônio
Carlos Sobral Sousa*
As
doenças cardiovasculares (DCV), notadamente o infarto agudo do miocárdio (IAM)
e o acidente vascular encefálico (AVC ou derrame), constituem a principal causa
de morte, tanto no Brasil, como no mundo. Estas doenças são fundamentalmente
relacionadas a fatores de risco (FR), sendo três deles não modificáveis: idade,
gênero e hereditariedade e os demais, passíveis de controle: dislipidemias
(sobretudo os níveis elevados de colesterol sanguíneo), tabagismo, hipertensão
arterial sistêmica, diabetes mellitus, obesidade, sedentarismo, fatores
psicossociais e consumo abusivo de álcool.
Há
alguns anos atrás, o estudo InterHerat publicado no Lancet (Doi:
10.1016/S0140-6736(04)17018-9) verificou que estes RF modificáveis são responsáveis
por 90% das chances de IAM, em 52 países, incluindo o Brasil. Os autores
concluíram, também, que os fatores denominados psicossociais (estresse e
depressão), que se relacionam com a espiritualidade, foram responsáveis por 33%
do referido risco, impacto este maior do que o proporcionado pela hipertensão e
a diabetes.
Em
2010, a American Heart Association (AHA) propôs checar sete métricas
(tabagismo, dieta, atividade física, pressão arterial, índice de massa
corporal, colesterol e glicemia), com o auspicioso objetivo de reduzir em 20%
as mortes por DCV, nos Estados Unidos.
Apesar
destas evidências, o controle dos FR cardiovasculares continua sendo um grande
desafio na prática cotidiana, tanto no âmbito da prevenção secundária (para
aqueles que já apresentaram IAM ou AVC) como para aqueles que ainda não tiveram
um evento cardiovascular agudo (prevenção primária).
Em
nosso meio, a constatação da deficiência deste controle foi feita em duas teses
de doutorado de alunos do PPGCS-UFS: Ingrid Novais, que avaliou usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede suplementar de saúde, decorridos seis
meses do IAM, publicado nos periódicos Nutrition (DOI: 10.1016/j.nut.2018.07.111)
e Preventive Medicine Reports (DOI: 10.1016/j.pmedr.2022.101973); e Gilberto
Tavares que demonstrou, em artigo publicado na Frontiers in Cardiovascular
Medicine (DOI:10.3389/fcvm.2022.933972), que apenas 32,5% de usuários do SUS,
em prevenção primária, seguidos na estratégia da Saúde da Família, exibiam
controle das métricas da AHA, supracitadas.
A
espiritualidade, que não deve ser confundida com religiosidade, consiste nos
valores morais, mentais e emocionais que guiam os pensamentos e comportamentos
em contextos intra e interpessoais. Já o conceito de religiosidade se refere a
quanto o indivíduo pratica, acredita e segue de alguma forma, uma determinada
religião.
Diversas
investigações têm demonstrado que os aspectos cognitivos e emocionais positivos
decorrentes da espiritualidade, tanto se associam à menor intensidade do estado
de ansiedade como, como têm ajudado a controlar os principais FR
cardiovasculares, além de impactar positivamente na morte por DCV.
Avaliando
uma amostra de 273 pacientes, oriundos dos ambulatórios de cardiologia de
quatro hospitais de Aracaju, os alunos Adelle Cardozo (do PPGCS-UFS) e Ícaro
Nunes (graduando de medicina da UFS), orientados pela Professora Joselina
Oliveira, encontraram redução significativa dos FR cardiovasculares e na
frequência de IAM e de AVC, naqueles que apresentavam maior espiritualidade e
religiosidade.
Finalizo,
citando frase de autor desconhecido: “Ninguém precisa saber o bem que a gente
faz. O importante é que as pessoas ao nosso redor cresçam”.
* Professor Titular da UFS e Membro das Academias
Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.
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