Antônio
Carlos Sobral Sousa*
Apesar
da comprovada efetividade das vacinas contra o vírus SARS-Cov-2 nas mais
diversas faixas etárias, muitos continuam insistindo no uso da Ivermectina
tanto para o tratamento, como para a prevenção da Covid-19. A referida droga é
um anti-helmíntico semissintético que age, também, contra parasitas não
intestinais como o piolho e a sarna.
Foi
demonstrado por pesquisadores australianos (Antiviral Resrarch; DOI: 10.1016/j.antiviral.2020.104787),
que a Ivermectina inibe a replicação do novo coronavírus in vitro, ou seja, em laboratório de experimentação, fora do
organismo de um ser vivo.
Após esta
constatação, a “milagrosa” droga ganhou uma legião de adeptos, particularmente
na América Latina e vários estudos clínicos testaram o vermífugo para o
tratamento da Covid-19 em humanos, a maioria com número pequeno de
participantes e os resultados foram discordantes.
Vale
ressaltar, ainda, que muitos destes estudos foram retirados de publicação,
devido a preocupações com a credibilidade dos mesmos, conforme foi veiculado no
periódico Nature (2021;596:173-4).
Todavia,
algumas investigações conduzidas com o recomendável rigor científico também
abordaram o tema. Dentre estas, merece destaque o TOGETHER Trial, publicado no
icônico New England Journal of Medicine (10.1056/NEJMoa2115869) e que teve como
investigador principal, o conceituado colega mineiro, Gilmar Reis.
Avaliando um
número expressivo de voluntários portadores da virose, os autores concluíram
que a Ivermectina não reduziu a admissão hospitalar por progressão da Covid-19.
Mais recentemente, foi publicado o Estudo ACTIV-6, na também prestigiada
revista médica JAMA (DOI: 10.1001/jama.2022.18590), que avaliou a eficácia da
Ivermectina na recuperação de portadores de Covid-19 de grau leve a moderado.
Mais uma vez o fármaco não logrou sucesso.
Na esteira
desta interlocução, é importante mencionar que foi também publicada no Virology
Journal (DOI: 10.1186/s12985-022-01829-8), uma revisão sistemática e
metanálise (método estatístico para agregar os resultados de dois ou mais
estudos independentes, sobre uma mesma questão de pesquisa) demonstrando a
ineficácia da droga em reduzir desfechos clínicos significativos na
Covid-19.
A agência
reguladora ligada ao departamento de saúde norte-americano, FDA (Food and Drug
Administration) não autoriza nem aprova o uso da Ivermectina para o tratamento
da Covid-19. As autoridades de saúde daquele país observaram que, durante a
pandemia e nos recentes surtos da virose, as taxas de prescrições do vermífugo
dispensadas em farmácias de varejo aumentaram significativamente, assim como o
uso de produtos veterinários contendo a referida droga, não destinados ao
consumo humano.
Os centros
de controle de envenenamento dos EUA registraram, também, aumento nas ligações
relatando uso indevido e overdose por Ivermectina, além de efeitos adversos,
sobretudo: sintomas gastrointestinais (náusea, vômito e diarreia); hipotensão;
alterações neurológicas (confusão mental, alucinações, convulsões e coma) e até
morte.
Portanto, os
médicos deveriam ser fortemente encorajados a educar os pacientes a usar
medidas comprovadas de prevenção dessa Peste, especialmente vacinar e
administrar doses de reforço assim que elegíveis.
Finalizo,
citando o brilhante magistrado alagoano e confrade da Academia Sergipana de
Letras, José Firmino de Oliveira: "Jamais atribua a outrem culpa pelas
suas próprias fraquezas, sejam elas quais forem. Reconhecer-se culpado (a) pela
prática de atos ou ações eventualmente condenáveis, sob a ótica moral ou de
outras ordens quaisquer, na verdade, é uma grande demonstração de honradez e
nobreza".
* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, Letras e Educação.
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