domingo, 26 de fevereiro de 2023

A COVID-19 NÃO É UMA “GRIPIZINHA”


  

 

Antônio Carlos Sobral Sousa*

 

 

Desde o início da pandemia da Covid-19, em nosso País em março de 2020, surgiram inúmeras variantes do SARS-Cov-2, com graus variados de virulencia e de transmissibilidade. A variante Omicron (B.1.1.529), relatado pela primeira vez na África do Sul em novembro de 2021 e designada, no mesmo mes, como "preocupante" pela Organização Mundial da Saúde em, continua dominando, mediante as suas sub-variantes, as infecções causada pelo referido vírus, na atualidade.

Embora tenha maior poder de transmissão do que suas antecessoras, a Ômicron tem provocado menos hospitalizações e mortes, influenciado, provavelmente, pela efetividade das doses de reforço das vacinas contra o nefasto agente infeccioso. Apesar desta constatação, parcela significativa da população não foi adequadamente imunizada, criando cenário propício para a manutenção do indesejado intruso entre nóis e para o eventual surgimento de novas cepas do novo coronavírus.

Outro vírus, o influenza, causador da tradicional gripe, constitui um atormentador sazonal da população, particularmente os indivíduos mais vulneráveis como os idosos e os imunodeprimidos. Os subtipos H3N2 e H1N do influenza A, têm sido os mais prevalentes nos surtos de Gripe e também são eficazmente combatidos pela vacinação específica.

Existem similaridades entre os quadros clínicos decorrentes das infecções pelo SARS-Cov-2 e pelo influenza, já que os dois vírus atacam, preferencialmente o trato respiratório, causando tosse, coriza, dor de garganta, febre, dor de cabeça e fadiga. Além disso, ambas as viroses podem ser fatais e são facilmente transmitidas por partículas respiratórias.

Porém, as similitudes entre os dois tipos de doenças param por aí já que tem sido reportado um risco duas a tres vezes maior de morte e de internações em unidade de terapia intensiva (UTI) com infecções comunitárias pelo novo coronavírus, comparativamente com as causadas pelo influenza (Doi: 10.2807/1560-7917.ES.2022.27.1.2001848).

Vale ressaltar, todavia, que tais comparações foram feitas, sobretudo, com indivíduos infectados pelas variantes mais agressivas do SARS-Cov-2. Será que, no cenário atual dominado pela Ômicron que parece se associar com desfechos clínicos menos severos, essa diferença persiste?

Com o desidério de responder à esta importante indagação, foi recém publicado no conceituado periódico JAMA (Doi: doi:10.1001/jamanetworkopen.2022.55599) um artigo multicêntrico sueco que comparou os desfechos hospitalares de 3.066 pacientes infectados pela variante Ômicron do novo coronavírus com 2.146 portadores de gripe por influenza A ou B.

Os investigadores concluiram que o risco de admissão em UTI não foi significativamente maior no grupo de portadores de Covid-19, comparativamente com o da gripe. No entanto, os infectados pela cepa Ômicron do SARS-Cov-2 exibiram 1,5 mais chance de morte intra hospitalar, do que os portadores de influenza. Esta diferença foi duas vezes maior, no subgrupo de portadores de Covid-19 que não haviam se vacinado contra a doença.

Portanto, a Covid-19, que ceifou a vida de quase 700 mil brasileiros, seguramente não é uma "gripezinha", merecendo ser adequadamente combatida com vacina, assim como a gripe e as demais viroses importantes que até um passado recente mereciam atenção especial das autoridades competentes.

Finalizo, citando frase de autor desconhecido: “Não reclame da vida, levante a cabeça. Dias ruins são necessários, para os dias bons valerem a pena”.

 

 

* Professor Titular da Universidade Federal de Sergipe e membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação.

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